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Como fugir da ansiedade ...

Como fugir da ansiedade e das compras por impulso na Black Friday?

Todo ano tem Black Friday, e todo ano tem o medo de perder a melhor oferta de todas. Como sobreviver à enxurrada de promoções que vêm de todos os lados sem que isso gere ansiedade ou compras por impulso?



Na imagem aparece um televisor com a tela roxa e umas bolinhas brancas nele e se lê

Todo mundo ama um descontinho. É por isso que a maioria das pessoas já clicou em site que falava de uma oferta imperdível, ou vasculhou uma loja que prometia tudo pela metade do preço. Quando chega a Black Friday, então, surge aquela ansiedade para fazer as compras tão aguardadas.

Tem gente que aproveita para adquirir aqueles itens de uso cotidiano com um belo desconto. Por outro lado, tem quem use a Black Friday para adiantar os presentes de Natal ou simplesmente para se dar um mimo.

Mas, em meio a tantas promoções, existe alguma solução mágica para manter o autocontrole e não se deixar levar pelas emoções diante de um desconto imperdível? Como saber se você realmente quer comprar um produto ou se simplesmente está sofrendo com os sintomas da ansiedade?

Nessa indefinição, tem gente que compra aquilo que nem queria tanto assim só pelo medo de perder uma oferta. A seguir, você vai entender como o cérebro afeta a sua decisão de compra e conferir algumas dicas práticas para te ajudar a não perder a batalha para a ansiedade nesta Black Friday.

Por que a ansiedade pode prejudicar o seu bolso?

O Brasil é considerado hoje o país mais ansioso do mundo. E quase 10% dos brasileiros têm algum tipo de ansiedade, segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde.

Cada pessoa tenta aliviar essa ansiedade de uma maneira diferente. Tem gente que desconta na comida, outros praticam atividade física como válvula de escape, alguns partem para as bebidas alcoólicas e outros tipos de compulsão. E tem gente que faz compras. 

Isso acontece porque comprar libera no nosso cérebro hormônios relacionados ao prazer, como a dopamina e a serotonina, e causa uma sensação de bem-estar instantânea.

Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, esse comportamento ficou ainda mais evidente. A pesquisa sobre mudanças de hábitos Barômetro Covid-19, realizada pela consultoria Kantar na América Latina, mostrou que o Brasil registrou o maior aumento de compras online durante a pandemia: 30%. 

Outro estudo, da plataforma de cupons de descontos online CupomValido, apontou que as compras online no Brasil cresceram 22,2% em 2022.

Problema surge quando compras são apenas para aliviar sentimento negativo

Nada contra as compras online. É importante aproveitar o que o dinheiro pode oferecer e os descontos que aparecem na época da Black Friday. Mas, como explica a economista comportamental Flávia Ávila, o problema surge quando as compras servem apenas para aliviar uma tristeza, frustração ou algum outro sentimento negativo. 

Ávila é fundadora da InBehaviorLab, laboratório que estuda o impacto do comportamento na tomada de decisão. 

“Ansiedade pode gerar sim compras que não são as melhores para a gente. No momento que a gente sente algum tipo de vazio, algum desconforto, as compras podem ser uma solução aparentemente fácil para melhorar aquela sensação”, afirma.

Segundo ela, pessoas que vivem em uma frequente ansiedade podem gastar muito mais. “Em momentos de ansiedade, que você sente uma boca mais seca, um suor, alguns sintomas em que você fala ‘poxa, não tô no meu melhor’, evite tomar decisões importantes. Evite sair para compras, use menos a internet. A gente tem hoje esse gatilho fortíssimo que são as compras a um clique”, diz.

Por que as compras geram arrependimentos?

Quem nunca se arrependeu daquela compra feita em um momento de ansiedade, sem pensar direito, que atire o primeiro cartão de crédito. Mas fica tranquilo que isso não acontece só com você, não. Na verdade, são os atalhos que a mente pega que afetam as escolhas financeiras das pessoas.

A melhor forma de evitar as compras desnecessárias é entender como a sua mente funciona e, a partir daí, criar algumas estratégias que vão te ajudar no dia a dia. 

“Nossas decisões são muito menos lineares e conscientes do que gostaríamos de imaginar. Muitas vezes, somos afetados por fatores do nosso contexto, do nosso ambiente, que nem imaginamos. E um dos gatilhos muito utilizados nessa era é o gatilho da escassez. Somos muito avessos à perda. Então, quando você tem disponível algo ali por um preço mais barato, por poucos segundos, você tende a ter agir de forma mais imediata, muitas vezes impulsiva”, explica Flávia Ávila. 

Você pode entender mais sobre o funcionamento dos sistemas cerebrais no episódio 63 do Semanada. No vídeo abaixo, você também encontra uma lista de mecanismos que o cérebro encontra para tomar decisões rápidas, muitas vezes não muito boas pra você.

O cérebro ansioso

O cérebro humano é ansioso por natureza. Em seu livro “O Poder do Hábito”, Charles Duhigg explica como um hábito é criado. Basicamente, uma ação repetida diariamente, como comer um doce todos os dias após o almoço, tem três etapas: uma deixa, uma rotina e uma recompensa.

A deixa é o motivo, o gatilho que leva a uma ação. Nesse caso, poderia ser aquela vontade de comer algo doce sempre que você termina de almoçar. A rotina é caminhar até a lojinha de doces na volta para o escritório ou abrir o armário da cozinha em busca de um chocolate. Já a recompensa vem do prazer que o doce traz instantaneamente.

Quando tudo isso é repetido inúmeras vezes, temos um hábito formado, e algumas consequências para a saúde no caso.

Mas, segundo Duhigg, estudos científicos mostraram que, com o tempo, o cérebro começa a antecipar a sensação de prazer que a recompensa provoca. Ou seja, só de pensar em todo aquele açúcar e no gostinho delicioso do chocolate, o seu cérebro já sente os efeitos. Ele cria um anseio pelo prazer que o doce proporciona. E esse anseio só reforça o hábito de comer uma sobremesa todos os dias após o almoço.

Essas vontades também podem ser despertadas por diversos gatilhos, como sensações, memórias, cheiros. A Black Friday, por exemplo, é um período repleto de gatilhos. 

Quais são os gatilhos da Black Friday?

Anúncios na TV, no rádio, na internet, e-mails, pushes no celular, cartazes de liquidação pelo shopping. Os estímulos para tentar te convencer a aproveitar os descontos desta época do ano são muito e vêm por diferentes canais. 

E, embora a ansiedade não seja necessariamente provocada pela Black Friday, esse período pode gerar gatilhos para o problema. Ou seja, ao ver um anúncio, o cérebro pode antecipar o prazer que o ato de comprar gera e, assim, reforçar essa ação.

Se isso acontece frequentemente, gerando arrependimento e prejudicando a sua vida financeira, pode ser sintoma de um problema crônico, como a compulsão por compras, chamada de oniomania.  

Por isso, sempre que você se deparar com um desses gatilhos, mantenha o foco e se pergunte sobre a real necessidade da compra. Será que você precisa comprar mesmo ou é apenas um momento de ansiedade?

Como driblar a ansiedade na hora das compras?

As lojas sempre afirmam que os descontos e promoções são por tempo limitado, ou que terminam hoje ou são só até amanhã. E, no caso da Black Friday, elas têm mesmo dia para acabar.

Mas não ter pressa vai ser a melhor maneira de passar pela data sem cair na tentação de uma compra desnecessária. A melhor maneira de lidar com a ansiedade que esse período pode gerar é não aceitar a primeira decisão que vem à sua cabeça, como explica a economista comportamental Flávia Ávila. 

“Em níveis mais altos de compulsão de compras, o mais importante é você deixar o mais difícil possível a sua decisão. Não fique com cartões de crédito. Não deixe cartões de crédito automático nos aplicativos. Peça para uma pessoa próxima te acompanhar em algum tipo de decisão maior que você for tomar, em um almoço, em um café, fique próximo dessas pessoas. A internet, o computador, o e-commerce são grandes vilões nessa hora. Então tente se distrair com outras coisas, crie mecanismos para isso”, diz.

Além disso, busque informações antes de decidir sobre compras maiores que implicam em gastos altos. Pesquise e compare preços em diversas lojas, adie aquela compra pelo tempo que for possível e faça uma lista com todos os itens que você precisa e quer adquirir. Anote prós e contras da aquisição e pondere.

Se, depois de tudo isso, você perceber que ainda quer comprar, então tudo bem. Nesse caso, a melhor opção é aproveitar os descontos que só a Black Friday oferece. A compra em si não é vilã, é um momento prazeroso e recompensador, se for feito com responsabilidade. O importante é conhecer os mecanismos de venda que geram gatilhos de compras por impulso e navegar por eles com paz e tranquilidade.

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