Não é novidade que o início de ano é um ponto de partida para muita gente tirar ideias do papel e começar a mudar hábitos financeiros. Economizar e fazer o salário durar o mês todo costuma entrar na lista de metas dos brasileiros – principalmente depois de um ano em que o bolso de grande parte deles ficou mais apertado.
E quando o assunto é economizar, a lista de estratégias costuma ser grande, mas nem todas funcionam ou fazem sentido para a realidade financeira de uma pessoa.
Veja, abaixo, os mitos e as verdades sobre como economizar dinheiro em 2024, e as vantagens e desvantagens dos métodos mais populares.
Economizar dinheiro é para todo mundo?
Quem não quer ter um mês tranquilo, com as contas pagas e com dinheiro sobrando? Mas quando o orçamento está apertado, com renda apenas para o básico, fica difícil encontrar algum espaço para economizar.
“Não podemos levar tudo ao pé da letra, porque existem muitas realidades financeiras diferentes e, dependendo das condições, as pessoas não conseguem economizar. Talvez, no futuro, elas consigam uma renda melhor. Não é porque muitas pessoas não conseguem economizar agora que essa estratégia não é para elas”, explica Ângela Tosatto, planejadora financeira e analista de investimentos do Nubank.
O planejador financeiro Carlos Castro, da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), afirma que é preciso partir do pressuposto de que a pessoa tem renda para além do básico, antes de pensar em métodos para economizar.
Entender a própria realidade evita a frustração de não conseguir economizar – dependendo da renda e da situação financeira não vai ser possível mesmo. Para saber se é possível, é preciso fazer um diagnóstico financeiro primeiro.
Como começar a economizar?
Antes de testar diferentes estratégias para economizar, é preciso primeiro entender o próprio padrão de vida – ou seja, para onde está indo o seu dinheiro. Fazer esse diagnóstico ajuda a entender se é possível e realista fazer cortes. Segundo Carlos Castro, sem essa análise, controlar os gastos fica mais difícil e até inviável.
“O que acontece é que as pessoas não têm um real conhecimento dos seus gastos e do seu padrão de vida. Desse jeito, por mais que ela coloque ‘economizar’ como uma meta, no curto prazo, talvez ela não consiga. Mas se ela começar a se organizar, aí esse objetivo se torna mais realista, porque ela sabe onde é possível economizar”, explica o planejador.
Como fazer esse diagnóstico?
Não precisa ser nada muito complicado: mapeie a sua renda (tudo o que recebe num mês normal), suas dívidas e seus gastos mensais. Depois, categorize esses gastos: qual é o custo com alimentação, lazer, saúde, educação etc.
Com todos esses números em mãos, avalie aquilo que é importante para você e que se conecta com os seus planos, e aquilo que é desnecessário.
Por exemplo: se aquele café diário na padaria é um momento importante para deixar seu dia melhor, ele entra como um gasto essencial. Mas se você vai à padaria sem pensar, só porque se acostumou a fazer isso, talvez este seja um candidato a gasto desnecessário.
Para simplificar essa categorização, Carlos Castro divide o orçamento em três caixinhas:
- Gastos essenciais: que são as contas básicas, como alimentação, água, luz, aluguel, gás etc – ou seja, tudo aquilo sem o qual não é possível viver;
- Despesas sociais: que são aquelas ligadas ao prazer e ao lazer, que faz o presente valer a pena, como o café na padaria;
- Realizações: que é justamente o dinheiro destinado para alguma meta, como aquela viagem de férias, por exemplo.
“Assim, você vai entender como o seu dinheiro está sendo consumido. Se ele está muito na caixinha do essencial, não tem como economizar nessa situação. Mas se o essencial está coberto, dá para trabalhar a diferença entre o social e as realizações. Se eu peço delivery três vezes na semana, por exemplo, posso diminuir para duas e colocar o dinheiro do terceiro pedido na caixinha da realização, por exemplo”, explica o planejador.
No vídeo abaixo, veja cinco passos práticos para começar a organizar o orçamento.
Como economizar em 2024: as vantagens e desvantagens de 7 estratégias
Abaixo, confira algumas estratégias populares para economizar e se elas são efetivas para qualquer realidade financeira.
1. Desafio das 52 semanas
A estratégia é simples: economizar uma quantia e ir aumentando esse valor semana após semana. Por exemplo: na primeira semana, você economiza R$ 5, depois R$ 10 na segunda semana, R$ 15 na outra e assim por diante.
Vantagem: esse método pode ser um gatilho que ajuda a criar o hábito de economizar.
Desvantagem: o aumento gradativo de valor, que pode ficar inviável num determinado momento. “Com isso, a pessoa vai perdendo o estímulo positivo, que vai dar lugar à frustração”, afirma Ângela Tosatto.
“Se a pessoa não tiver um objetivo, ela não vai guardar. Funciona para testar, mas essa estratégia não é sustentável sem objetivo.”
Carlos Castro
2. Regra 50-15-35
De acordo com essa estratégia, fica fácil economizar dinheiro quando o orçamento é dividido em três partes: 50% para gastos essenciais, 15% para prioridades financeiras (as metas) e 35% para estilo de vida.
No vídeo abaixo, conheça mais sobre esse método:
Vantagem: “a vantagem é que, neste caso, não tem discussão de onde e quanto do orçamento vai ser gasto em cada prioridade”, afirma Ângela Tosatto. Essa definição ajuda no controle de gastos.
Desvantagem: esse método não é para todo mundo. “Essa regra é mais possível para quem tem uma renda acima de R$ 5 mil – que é cerca de 10% da população economicamente ativa [pessoas que trabalham]. Quem tem baixa renda gasta 60%, 70% do que ganha com o essencial. Então, não dá para encaixar na realidade de todo mundo como medida para controle de gasto”, considera Carlos Castro.
3. Metas SMART
De acordo com o método SMART, definir metas que são específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e com prazo para acontecer ajuda a controlar bem o orçamento.
Vantagem: para Carlos Castro, o método funciona, porque ao mensurar um objetivo, a pessoa tem um choque de realidade, que a ajuda a planejar melhor o orçamento. “Essa estratégia ajuda a mudar o comportamento da pessoa diante da meta”, diz.
Desvantagem: uma delas é justamente colocar o método em prática, dizem os especialistas. Para construir uma meta SMART, é preciso tempo e autoconhecimento. Por isso, as pessoas tendem a deixá-lo de lado.
4. Cortar despesas desnecessárias
Essa estratégia é um clássico quando o assunto é economizar. Mas tirar do orçamento aquilo que é supérfluo esbarra no próprio conceito do que é desnecessário.
Por isso, Ângela Tosatto recomenda fazer três perguntas: “eu preciso? Eu posso? Eu devo? Se pelo menos em uma delas a resposta for ‘não’, então essa é uma despesa desnecessária“, afirma.
“O que é desnecessário pode mudar de pessoa para pessoa. Se você gosta de tomar vinho, sair com a família para almoçar fora e isso é importante para você, então não é um gasto desnecessário.”
Carlos Castro
Vantagem: a vantagem é que esse método aumenta a consciência do próprio orçamento. Ao cortar o que não é importante, é possível economizar sem sofrimento.
Desvantagem: a desvantagem é que cortar o que é desnecessário implica em se comprometer em entender o que realmente é importante. E, mais uma vez, essa análise exige tempo e conhecimento que nem todo mundo quer dispor.
5. Reduzir gastos essenciais
Cortar água, luz, gás e outros gastos essenciais sempre aparece na lista das estratégias para economizar. Mas será que esses cortes são sustentáveis?
Vantagem: prestar atenção nessas contas ajuda a verificar desperdícios escondidos e gera, sim, uma economia de curto prazo.
Desvantagem: esse método tem um limite.
“É sempre possível reduzir o desperdício dessas contas no início, mas chega um ponto que não tem mais como reduzir.”
Ângela Tosatto
6. Diminuir pedidos de comida por aplicativo e cozinhar
Quem nunca levou marmita para o trabalho para fazer o vale-refeição e o salário render mais no mês? Essa medida, já corriqueira entre quem ganha pouco, tem se popularizado também entre as camadas de maior renda, diante do aumento dos preços, principalmente dos alimentos.
Vantagem: já é sabido que cozinhar em casa tem um custo menor, principalmente nas grandes cidades, onde é mais caro comer fora.
Desvantagem: para esse método dar certo, é preciso colocar o tempo na conta. “Cozinhar nem sempre é uma realidade para as pessoas que se locomovem e saem cedo para trabalhar e chegam tarde em casa”, afirma Ângela Tosatto.
Além disso, o armazenamento não é algo trivial. Não é todo mundo que tem espaço, um freezer ou geladeira grande o suficiente para estocar comida para uma semana inteira.
7. Dia ou semana com zero gastos
Ficar um dia ou uma semana inteira sem gastar um centavo sequer é uma estratégia conhecida como detox financeiro. Mas será que dá certo?
Vantagem: segundo os especialistas, esta é uma boa tática de curto prazo, que aumenta a percepção sobre o próprio orçamento e pode ser um primeiro passo para criar alguma disciplina financeira.
Desvantagem: não é um método sustentável no longo prazo e pode até causar um efeito sanfona nas finanças, quando a pessoa gasta o dobro no dia ou na semana seguinte.
Qual é a melhor estratégia para economizar em 2024?
Estes são apenas alguns dos métodos mais populares e, no fim das contas, não existe um melhor do que o outro. Para os especialistas, testar cada um é o caminho para entender o que pode funcionar ou não.
O planejador Carlos Castro recomenda começar pelas metas. Entender o que se quer no curto, médio e longo prazo dá uma razão para a tarefa de economizar e a deixa mais fácil de seguir. A partir daí, fazer um combinado de estratégias, pensando nos prazos dos objetivos, pode ser mais efetivo do que escolher apenas uma.
“Se eu fosse combinar, separaria as estratégias pensando naquelas de tiro curto, como a redução de gastos essenciais, e naquelas focadas no orçamento, como a regra do 50-15-35, por exemplo. E ainda pensaria num terceiro grupo, que é o que vai sustentar qualquer estratégia para economizar, que é o método SMART”, afirma o planejador.
Para Ângela Tosatto, mais do que olhar para métodos de como economizar, é preciso focar naquilo que é sustentável.
“O que é sustentável é se organizar, aumentar a renda, se possível, e não apenas cortar, cortar e cortar. Tudo tem que ter um equilíbrio. Talvez a dica não esteja somente em economizar dinheiro através da redução de consumo de itens desnecessários, das contas essenciais, mas em encontrar uma forma de ganhar mais. O foco deve estar nas duas vertentes: economizar para sobrar e investir, mas também em gerar mais renda”, diz a planejadora.
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