O que você pensa quando escuta as palavras “inteligência artificial”? Desde a explosão do ChatGPT, o assunto saiu das rodas de conversas de entusiastas da tecnologia para virar pauta das redes sociais, do papo entre amigos e até do almoço em família.
O ChatGPT e outras ferramentas de IA – como aquelas que geram imagens e vídeos bastante realistas e que são, inclusive, pauta da greve de atores em Hollywood – podem ter amplificado a conversa. Mas a verdade é que já faz um bom tempo que a inteligência artificial deixou de ser uma visão de futuro.
De recomendações de conteúdo das plataformas de streaming aos filtros de e-mail e sites de tradução simultânea, muitas ferramentas do dia a dia usam IA. Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostrou que seis em cada 10 brasileiros dizem que produtos e serviços que utilizam inteligência artificial mudaram profundamente sua vida nos últimos anos.
Na vida financeira não é muito diferente. O mercado já oferece soluções e ferramentas que usam inteligência artificial para auxiliar na gestão do orçamento e para proteger o seu dinheiro.
Como a inteligência artificial é usada na vida financeira das pessoas?
Assim como a prática de pagar com cheque está ficando no passado, outros hábitos na sua vida financeira já mudaram com o passar do tempo, e a inteligência artificial é um dos agentes transformadores de certos comportamentos.
O uso cada vez maior desse tipo de tecnologia tem permitido uma experiência mais eficiente, segura e personalizada para as pessoas, e os casos abaixo são alguns exemplos de como isso acontece.
1. Detecção de fraudes
Você já recebeu um alerta de tentativa de transação suspeita no seu cartão de crédito? Foi a inteligência artificial. Enquanto, em média, 8 tentativas de golpe são registradas por segundo no Brasil, segundo um levantamento do Serasa Experian, os algoritmos são treinados para analisar grandes volumes de dados e identificar padrões suspeitos em transações, pensando em proteger as pessoas e suas finanças.
Nesse caso, os sistemas com IA podem detectar atividades incomuns, comportamentos fora do padrão e tentativas de acesso não autorizado em tempo real, permitindo que instituições financeiras ajam rapidamente para evitar que golpes e fraudes aconteçam.
Na prática, funciona mais ou menos assim: imagine que todo mês você costuma gastar um determinado valor em lojas virtuais. De repente, esse padrão de comportamento muda e o valor aumenta muito. A IA é capaz de identificar essa alteração e, a partir de outros dados sobre seus gastos, ela entende se essa compra é ou não fraudulenta, e ainda protege sua conta e seu dinheiro.
O surgimento de iniciativas para combater os crimes e proteger os dados financeiros e o dinheiro das pessoas por meio dessa tecnologia tem se intensificado.
Uma solução criada pela Mastercard, por exemplo, pretende ajudar bancos a prever golpes antes mesmo de o cliente se tornar vítima. Ao longo de cinco anos, a empresa rastreou as atividades de contas vinculadas a fundos fraudulentos, usados por criminosos do Reino Unido e, a partir desses dados, criou uma tecnologia que fornece a inteligência aos bancos, e deve ser testada em breve.
2. Análise de crédito
A inteligência artificial inovou a maneira como as instituições financeiras avaliam o perfil de um cliente. Ela é um fator fundamental para decidir, por exemplo, o limite do cartão de crédito, o valor disponível para empréstimos e financiamentos, o score de crédito…
Isso é possível porque em vez de depender apenas de informações históricas de crédito, os algoritmos de IA fazem a análise de uma ampla gama de dados, como comportamento financeiro, histórico de pagamentos e até mesmo informações disponíveis de outras instituições para prever a capacidade de pagamento do cliente, permitindo uma avaliação mais precisa.
Nesse caso, porém, ainda há uma série de discussões sobre os limites de informações que uma empresa pode coletar para traçar esse perfil de comportamento e conceder crédito para uma pessoa.
Ao divulgar um novo formato de análise do score de crédito, o Score 2.0, o Serasa, por exemplo, informou que usa a inteligência artificial para ajudar no cálculo da pontuação, assim, o consumidor entende de uma maneira mais clara o que influencia na sua classificação.
3. Gerenciamento de contas
Perder datas de contas, fazer cálculos de juros, elencar pagamentos… Todas essas tarefas chatas do dia a dia financeiro também podem ser melhoradas pela IA. Hoje, já existem aplicativos e plataformas financeiras que incorporam inteligência artificial e permitem um gerenciamento de contas mais inteligente e automatizado.
A IA permite a criação de ferramentas que podem categorizar automaticamente despesas, criar orçamentos personalizados e fornecer até recomendações sobre os padrões de gastos do usuário. Isso ajuda as pessoas a tomarem decisões mais certeiras sobre suas finanças, economizarem dinheiro e planejarem melhor suas despesas, contribuindo para uma gestão financeira mais eficaz.
Para além da parte burocrática da gestão, as pessoas também têm experimentado aderir ao uso da inteligência artificial para fazer planejamentos mais robustos, como um plano de aposentadoria ou previsões do fluxo de caixa de um negócio.
Inclusive, empresas norte-americanas que trabalham com planejamento financeiro já vêm adotando a estratégia de combinar tecnologia e interações humanas para aprimorar os serviços e oferecer melhores resultados aos clientes.
4. Open Finance
O conceito de Open Finance tem tudo a ver com inteligência artificial. A tecnologia de dados abertos é impulsionada pela IA, que analisa e agrega as informações em uma única plataforma, de forma segura, permitindo uma visão ampla das finanças de uma pessoa. Ela também facilita a comunicação entre as instituições financeiras.
Além disso, a tecnologia pode ser usada para identificar oportunidades, como melhores taxas de juros em empréstimos e opções de investimento personalizadas. Dessa forma, o Open Finance tem possibilitado maior transparência e autonomia, transformando a maneira como as pessoas acessam, compartilham e usam seus dados financeiros.
E os brasileiros já reconhecem esses benefícios. Segundo o relatório Global Open Finance Index, da Open Banking Excellence (OBE) em parceria com a Universidade de Oxford, o Brasil caminha para ser o líder global no mercado de sistema financeiro aberto, superando até o pioneiro no assunto, o Reino Unido.
5. Recomendações de investimentos
Você aceitaria conselhos de investimento de inteligência artificial? Um estudo publicado pela Harvard Business Review analisou as decisões de investimentos tomadas por investidores-anjo (pessoas físicas que investem em empresas em crescimento) e aquelas tomadas pela inteligência artificial. O resultado mostrou que, quando esse tipo de escolha fica nas mãos dos algoritmos e desconsidera o viés emocional das decisões, a taxa de retorno pode aumentar em até 184%.
Assim, como cada investidor tem um perfil, tecnologias que incorporam a IA têm sido usadas para fornecer recomendações cada vez mais personalizadas. A partir da avaliação de objetivos, tolerância ao risco e situação financeira da pessoa, a inteligência artificial cria portfólios de ofertas de ativos diversificados e otimizados.
“Ah, então eu devo usar IA para me dizer onde investir meu dinheiro?”.
Não é bem assim. Investimento é coisa séria, e quase sempre envolve riscos. Antes de colocar seu dinheiro baseado em recomendações (sejam elas de um especialista ou de uma tecnologia), é importante compreender o que está em jogo.
Leia também:
O que é deepfake e como essa tecnologia está sendo usada em fraudes