A Mona Lisa foi roubada. Calma, isso não aconteceu agora, mas em 1911, mais de um século atrás. A obra-prima do multi-artista do Renascimento, Leonardo da Vinci, foi levada por um trio de ladrões italianos. Segundo os relatos, o Museu do Louvre, em Paris, na França, passava por manutenções e eles se aproveitaram de uma brecha de segurança para surrupiar um dos quadros mais importantes do mundo.
Pouco mais de dois anos depois, um galerista de Florença, na Itália, tentou comprar a pintura dos criminosos, acabou sendo pego pela polícia e o quadro foi devolvido ao lugar onde está até hoje. Mas como eles sabiam que aquela Mona Lisa encontrada com os ladrões se tratava da peça original? Como saber se uma obra de arte é verdadeira?
O famoso sorriso da Mona Lisa, de volta em casa, continuava igual. As paisagens da Toscana, que se desdobram atrás dela, também pareciam as mesmas. Nada disso deu a certeza aos museólogos na época, já que poderia ser a reprodução de um farsante. O que confirmou a autenticidade da obra naquele momento foi um selo colado na parte de trás da pintura e o craquelado da tinta, que só se adquire, como as rugas do rosto, com o passar de muitos anos.
Uma pessoa menos acostumada aos detalhes pode até imaginar que seria fácil reconhecer uma obra falsa. Mas não é bem assim que funciona. De acordo com Gustavo Perino, perito e coordenador do programa de pós-graduação em Peritagem e Avaliação em Obras de Arte na Universidade Santa Úrsula e fundador de uma empresa especializada em perícia e avaliação, quase metade das obras de arte do mundo são falsas ou estão mal atribuídas.
Então como saber se uma obra de arte é verdadeira? Leia abaixo e entenda um pouco mais sobre a autenticidade na arte.
Quem foi que fez isso?
Se um artista está vivo e lúcido, a atribuição da autoria costuma ser uma tarefa mais fácil. “É seu?” A resposta pode ser “sim” ou “não” e, de maneira geral, está resolvido o problema. Mas quando a pessoa já se foi desse mundo e só permanece viva por meio de sua criação, não há como confirmar a autoria com o próprio autor – pior ainda se for de tempos remotos. Vários artistas tiveram lacunas em suas produções que causam dúvidas até em fundações oficiais que levam seus nomes.
Esse é o problema da atribuição, uma questão antiga na História da Arte. E tem muita coisa envolvida aí. Não necessariamente as reproduções eram obras de farsantes, mas de admiradores ou até aprendizes que produziam cópias. E, às vezes, as cópias eram tão boas que ninguém mais sabia ao certo qual o original.
Para continuar no velho da Vinci, o perito Gustavo Perino cita que essa dúvida acontece até hoje com duas versões de uma pintura atribuída ao mestre renascentista, “A Virgem das Rochas”. Uma versão da obra mora na National Gallery, em Londres, e a outra no Museu do Louvre. Especialistas ainda debatem qual das duas versões foi pintada pelo mestre e qual delas é obra de seus discípulos de ateliê. Ou, ainda, se ele participou com pinceladas nas duas.
“É possível não ter previsão e alto grau de certeza mesmo com tecnologia em obras que podem ser cópias de vários séculos atrás, e às vezes obras criadas por falsários ainda quando o artista vivia. Isso provoca novos desafios já que o material vai corresponder [ao esperado] em muitos casos”, afirma Perino.
Até agora se sabe que a versão da “Virgem das Rochas” que está na França foi pintada primeiro, e é bem mais detalhada que a segunda, o que torna mais provável que Leonardo tenha realmente se dedicado a ela. Mas ambas são tão parecidas que não foi possível encerrar a questão que já dura séculos: da Vinci participou ou não da segunda pintura? Há especialistas jurando que sim, outros batem o pé que não.
Por que a autoria importa?
Há vários motivos, mas é possível se concentrar em dois: preço e aura. O primeiro, e mais óbvio, é que o valor de uma obra de arte original é infinitamente superior ao de uma cópia ou de uma farsa. E o mercado da arte movimenta cerca de US$ 60 bilhões de dólares por ano, de acordo com dados da Art Basel. Então sim, os valores importam.
Para Gustavo Perino, todo o sistema da arte se sustenta sobre a autenticidade das obras. “Se uma obra é falsa ou é uma falsificação, tudo o [que foi] negociado ao longo do tempo e os recursos investidos na sua manutenção perdem total valor. Então a definição técnica e científica da autoria é prioritária”, diz.
Você já viu alguma obra de arte muito famosa ao vivo? Foi uma experiência trivial ou tinha algo meio mágico rolando naquele momento? Essa experiência única é a chamada “aura” de uma obra de arte, um conceito criado pelo teórico alemão Walter Benjamin. Basicamente, ele acredita que apenas uma obra de arte verdadeira é que vai possuir essa espécie de aura, de energia, algo inexplicável e quase místico. E, para ele, nada substitui a experiência de estar diante dela, a obra original.
Por isso, uma falsificação nunca seria capaz de produzir esse encantamento, já que ela não é a verdadeira expressão artística criada por um mestre e não carrega em si a originalidade.
Farsantes e falsificadores
É claro que, onde houver oportunidade de ganhar muito dinheiro, vai ter gente tentando aplicar golpe. E não é de hoje. Gustavo Perino lembra que o matemático Arquimedes foi escolhido como perito pelo Rei Hierão de Siracusa, no sul da Itália, para determinar se o ourives estava mesmo fabricando uma coroa de ouro para ele ou tentando levar vantagem misturando outros metais à liga. Isso aconteceu por volta do século 2 a.C.
A história acabou muito disseminada nas aulas de física até hoje. Arquimedes percebeu que, ao serem colocadas dentro de uma banheira cheia de água, coroas fabricadas em material diferente do ouro puro deslocariam mais ou menos água, mesmo que tivessem pesos iguais. Ou seja, massa e volume não são a mesma coisa. Além da descoberta teórica da física, ali Arquimedes estava determinando a autenticidade do objeto – no caso a coroa.
Depois desse artesão que se deu mal, não foram poucos os falsários que tentaram vender gato por lebre. Provavelmente o mais famoso seja o holandês Han Van Meergeren, que levou a “arte da falsificação” a outro patamar já no século 20. Para se ter uma ideia, ele comprava telas que eram de fato do século 17, período em que viveu o pintor também holandês Johannes Vermeer, seu alvo favorito de farsas.
Van Meergeren desenvolveu técnicas para imitar perfeitamente os craquelados de quadros seculares – aquilo que havia ajudado a identificar a Mona Lisa verdadeira, por exemplo. Além de ser um profundo conhecedor da História da Arte, ele usava materiais e pigmentos iguais aos dos mestres, e passava anos desenvolvendo sua técnica de golpes pacientemente. Aí ficou bem mais difícil para os especialistas cravarem se era verdade ou mentira.
Um dos problemas é a excitação que uma possível descoberta causa no mercado da arte, que lida com itens de extrema raridade. Aconteceu em 2019, na França. Uma idosa de 90 anos decidiu procurar um especialista para avaliar um quadro religioso que estava pendurado na sua cozinha. Imagine só a surpresa ao descobrir que se tratava de uma pintura do século 13 do grande pintor Cimabue.
“O processo para uma descoberta é idêntico ao de uma perícia de qualquer outra obra. Quando se trata de velhos mestres, o processo de validação das provas é mais extenso e demorado, já que, a partir de perícias de confirmação, se avaliam em comitês internacionais. Usualmente, as obras que atingem altos valores têm uma grande quantidade de informações de respaldo. Provenance [a linhagem da obra], procedência, perícias e catalogação em literatura”, comenta Perino.
A pintura que estava na cozinha da idosa, que o perito afirma ser um caso muito raro, foi arrematada por mais de R$ 100 milhões em um leilão. Esta era uma obra verdadeira, que animou bastante o mercado e rendeu uma fortuna. Por isso, todo cuidado é pouco.
Então como saber se uma obra de arte é verdadeira?
Segundo especialistas, a resposta é: depende do trabalho artístico. “Uma obra pode aparentar ser velha porque isso foi o que o falsário desejava. Porém, muitas falsificações são novas com assinaturas e datas antigas. Não há coerência, então deve-se somar a avaliação estética, quanto essa obra se parece com uma obra do artista, e revisar a documentação que é oferecida como respaldo”, explica o perito Gustavo Perino.
Mas ele lembra que, da mesma maneira que existem obras falsas, há documentações falsas. Então um papel assinado pode não valer de muita coisa. Um risco adicional é o de comprar online, sem uma avaliação de um profissional especializado – cujo trabalho diminui bastante as chances do comprador ser enganado.
De maneira geral, o processo de avaliação da autenticidade de um trabalho de arte passa por três etapas, de acordo com Perino.
- Contexto histórico: determina se ela está coerente com uma época, estilo e se encaixa na produção do artista;
- Parâmetro estético e técnico: a avaliação do estilo de criação, decisões estéticas e linguísticas. Uma obra deve conter a técnica do artista, que é como a sua impressão digital, impossível de falsificar perfeitamente.
- Parâmetro material: são estudos científicos dos materiais que permitem identificar tecnicamente e até datar essas matérias.
Com esses parâmetros estabelecidos, os profissionais especializados conseguem dizer se uma obra de arte é verdadeira ou não. Isso significa que a avaliação é isenta de erros? Não exatamente.
Mesmo com toda a tecnologia disponível e o conhecimento de técnicas de farsantes, ainda é possível enganar até os mais experientes. É por isso que Perino destaca a importância de os peritos conversarem e trocarem impressões para que juntos possam chegar a conclusões mais precisas.
Nubank e MASP, uma parceria no mundo das artes
Se você quiser ver obras verdadeiras e de importância reconhecida no mundo da arte, pode visitar o MASP, um dos mais importantes museus da América Latina que tem patrocínio do Nubank desde outubro de 2023. Atualmente, está em cartaz a exposição “Histórias Indígenas”, que acontece entre os dias 20 de outubro de 2023 e 25 de fevereiro de 2024.
A mostra “Histórias Indígenas” apresenta diferentes perspectivas sobre as narrativas indígenas das Américas do Sul e do Norte, Oceania e Escandinávia, por meio de trabalhos de várias mídias e tipologias, origens e períodos, que cobrem desde a época anterior à colonização europeia até o presente. A curadoria das obras também é feita por artistas e pesquisadores indígenas ou de ascendência indígena.
Fique atento à programação do museu e visite as mostras patrocinadas pelo Nubank.
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