Comprar é bom. As pessoas se sentem mais felizes e mais confiantes, como mostra essa pesquisa do Havas Group. Comprar sem pensar nas consequências, entretanto, pode ser perigoso, por isso é necessário falar sobre consumo consciente – algo que vai muito além de consumir com planejamento.
Mas o que é consumo consciente?
Se, ao ouvir falar sobre consumo consciente, você imagina uma pessoa com extremo autocontrole, que se planeja e compra apenas o necessário, saiba que essa é uma visão comum – mas não totalmente correta.
Segundo a pesquisa Consumo Consciente, realizada em 2018 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 41% dos entrevistados associam esse comportamento com atitudes que evitam principalmente o desperdício e as compras desnecessárias.
É importante entender, entretanto, que consumo consciente vai muito além disso, impactando tanto as finanças pessoais quanto questões ambientais e sociais.
Como assim?
De acordo com o SPC Brasil e a CNDL, consumo consciente é “o ato de considerar, durante o processo de compra de um produto [ou serviço], o equilíbrio entre a satisfação pessoal, as possibilidades ambientais, os impactos de longo prazo e os efeitos sociais e financeiros da decisão”.
Isso significa, do ponto de vista de consumo consciente, que comprar vai muito além de pagar por algo e ganhar sua propriedade – passa por entender toda a cadeia de consumo e produção que existe por trás de uma aquisição:
- A escolha e extração da matéria-prima pelo fabricante;
- A instalação de uma indústria ou de um centro de compras e seus impactos;
- O regime de trabalho imposto pela empresa e as condições de produção;
- Os desdobramentos ambientais, econômicos e sociais provocados pelo uso final do item comprado….
São diversos fatores que podem contribuir para tornar uma compra mais (ou menos) consciente.
Entendi. E quais comportamentos são considerados conscientes?
O estudo Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações, realizado em 2018 pelo Instituto Akatu, elencou 13 comportamentos conscientes:
- Evitar deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados;
- Fechar a torneira enquanto escova os dentes;
- Desligar aparelho eletrônico quando não está usando;
- Esperar os alimentos esfriarem antes de guardar na geladeira;
- Planejar as compras de alimentos;
- Planejar as compras de roupas;
- Pedir nota fiscal quando vai às compras, mesmo que o fornecedor não ofereça espontaneamente;
- Ler atentamente os rótulos antes de comprar um produto;
- Usar também o verso das folhas de papel, quando possível;
- Separar o lixo de casa para reciclagem, mesmo que não haja coleta seletiva;
- Passar ao maior número possível de pessoas as informações que aprende sobre empresas e produtos;
- Comprar produtos feitos com material reciclado;
- Comprar produtos orgânicos.
Podem parecer atitudes pequenas, mas elas indicam como uma pessoa se relaciona com o consumo e como ela vê os impactos de suas ações na sociedade.
A partir desses comportamentos, por exemplo, o estudo classificou os entrevistados em quatro níveis de consciência.
Nível de consciência? O que isso significa? Em qual estágio eu estou?
Com base na quantidade de comportamentos que o entrevistado declarou “adotar sempre” ou “ter realizado nos últimos seis meses”, eles foram classificados em:
- Indiferente (0 a 4 comportamentos): aquela pessoa para quem a questão financeira ainda é o principal fator para adotar atitudes conscientes (ela apaga as lâmpadas para economizar, por exemplo, não porque isso impacta o ambiente);
- Iniciante (5 a 7): além das atitudes em casa, essa pessoa também planeja suas compras como uma forma de economizar;
- Engajado (8 a 10): para ela, as práticas sustentáveis incluem o planejamento de compras de roupas e de alimentos, incluindo saber mais sobre os produtos e como destinar o próprio lixo;
- Consciente (11 a 13): a pessoa que não só tem atitudes conscientes, mas também defende e compartilha ações que beneficiam questões sociais e ambientais (como recomendar marcas socialmente responsáveis).
Para saber seu nível de consciência, basta ver quantos comportamentos são parte do seu dia a dia e comparar com a classificação acima.
Por que é importante falar sobre consumo consciente?
Não é natural pensar sobre as consequências do consumo, mas é importante parar para refletir sobre isso. Afinal, os impactos vão muito além daqueles que é possível, literalmente, ver – como a água indo embora pelo ralo ou a conta de energia no final do mês.
No livro Hidden Impact (Impacto oculto, em tradução livre), a designer e pesquisadora holandesa Babette Porcelijn mostra que o maior impacto ambiental não é causado pelos carros ou pelo ar-condicionado das casas, por exemplo, mas por produtos que as pessoas consomem – como roupas, eletrônicos e alimentos.
Segundo Babette, em países como Holanda e Estados Unidos, apenas pouco mais de um quarto da “pegada ecológica” (ou seja, as consequências ambientais de uma ação) de cada pessoa é perceptível no dia a dia.
Todo o resto está embutido no ciclo de vida de produtos e serviços, passando pela extração de matérias-primas, produção, transporte dos produtos, até o descarte.
Por exemplo, é mais fácil pensar sobre a energia gasta para carregar um celular, mas ainda é algo distante refletir sobre tudo o que está por trás da existência deste pequeno aparelho – como as consequências da mineração dos metais necessários para produzi-lo ou a enorme quantidade de água utilizada nesse processo.
Ainda de acordo com Babette, seriam necessárias 4,3 terras para sustentar o estilo de vida da população mundial em 2050.
Por conta de todos esses fatores, é essencial falar sobre os impactos do consumo no planeta e como reduzir os danos causados. Consumir de forma consciente é uma das formas.
Consumo consciente é para todo mundo?
Quando se fala em consumo consciente, uma dúvida que pode surgir é se este é um movimento para todo mundo. Afinal, só é possível escolher como consumir quando se tem liberdade para tal.
Uma forma de entender essa questão é olhar para alguns números que mostram a realidade brasileira:
- Em 2018, a renda domiciliar per capita (por pessoa) do Brasil ficou em R$1.373, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – sendo que, em alguns estados, este valor cai para menos da metade;
- A diferença de preço entre produtos orgânicos e convencionais pode superar 270%, de acordo com uma pesquisa de 2015 da Korin;
- 43% das pessoas terminaram o mês zerados, segundo um estudo do SPC Brasil – e outros 33% não tiveram recursos suficientes para pagar todas as contas.
Ou seja, chega a ser injusto exigir que pessoas que mal têm dinheiro para pagar as próprias contas gastem mais para comprar produtos sustentáveis. A conta simplesmente não fecha.
Em contrapartida, mesmo quem não tem margem de manobra no orçamento pode adotar pequenas mudanças, como planejar as próprias compras e reutilizar produtos e embalagens.
Só é importante considerar que, em um cenário de desigualdade, não dá para esperar que todos os cidadãos adotem todas as práticas de consumo consciente.
Qual a realidade do consumo consciente no Brasil?
Consumo consciente é um assunto cada vez mais falado no Brasil, mas não necessariamente entendido.
De acordo com o SPC e a CNDL, ainda predomina uma visão mais voltada para a questão financeira: quatro em cada dez pessoas ouvidas (41,4%) entendem consumo consciente como atitudes que evitam principalmente o desperdício e as compras desnecessárias.
É importante lembrar, entretanto, que isso é apenas parte da questão.
Já 32,1% entende corretamente que se trata de refletir sobre as consequências de uma compra antes de realizá-la, sabendo que o consumo produz impactos sociais, ambientais e econômicos para todo mundo.
Por último, 13,6% dos entrevistados pensam em consumo consciente como atitudes que têm como foco economizar dinheiro e 10,8% falam em economizar pensando no meio-ambiente.
Apesar de ser um primeiro passo, é preciso ir além.
Mas os brasileiros têm um consumo consciente?
No estudo do SPC e da CNDL, os consumidores tiveram de escolher uma nota de 1 a 10 em relação ao seu comportamento – sendo 1 “nada consciente” e 10 “muito consciente”. A nota média foi 7,7.
Entretanto, a pesquisa sugere que, sob diversos aspectos, essa auto imagem não corresponde totalmente à realidade: 97,3% dos entrevistados admitem ter dificuldades para a adoção de práticas de consumo consciente.
Por que essa diferença entre expectativa e realidade?
Como a maioria das pessoas relaciona consumir de forma consciente com comprar apenas o necessário, elas se julgam conscientes.
Quando outros fatores são adicionados nesse cálculo, contudo, a realidade é outra.
Segundo o estudo Panorama do Consumo Consciente no Brasil, do Instituto Akatu, 76% dos entrevistados foram classificados como menos conscientes em relação ao consumo.
Ou seja, pensam mais em questões financeiras do que no impacto das ações no mundo – que podem ser muitos.
Quais são as barreiras para o consumo consciente?
Apesar da pesquisa do Instituto Akatu mostrar que os brasileiros desejam seguir um caminho sustentável, existem algumas barreiras para isso.
A principal delas é a necessidade de esforço, sendo apontada por 60% dos entrevistados.
Neste sentido, os principais obstáculos são:
- Preço alto de produtos sustentáveis;
- Necessidade de mais informação sobre impactos ambientais e sociais do consumo;
- Mudança nos hábitos da família e nos próprios;
- Dificuldade para encontrar produtos sustentáveis;
- Ter mais trabalho para levar uma vida consciente.
A segunda barreira principal é a falta de confiança. Segundo os consumidores, não adianta mudar o comportamento se empresas, governo e outras pessoas não fazem sua parte.
Além disso, eles entendem que seria preciso abrir mão de pequenos prazeres para adotar esse estilo de vida – e não estariam necessariamente dispostos a isso.
Como ter um consumo mais consciente?
Para quem quer ter um consumo mais consciente, é preciso estar disposto a refletir mais sobre os próprios hábitos e compras. Além disso, o Instituto Akatu sugere alguns comportamentos:
- Planejar as próprias compras;
- Avaliar os impactos ambientais e sociais do próprio consumo;
- Consumir apenas o necessário;
- Reutilizar produtos e embalagens;
- Separar o próprio lixo;
- Usar crédito de forma consciente para não se endividar;
- Conhecer e valorizar práticas de responsabilidade social das empresas;
- Não comprar produtos piratas ou contrabandeados;
- Divulgar o consumo consciente;
- Refletir sobre os próprios valores.
Você tem um consumo consciente?
Os membros da NuCommunity, a comunidade do Nubank, estão comentando por lá como eles lidam com consumo consciente.
O usuário Edvan_Cds, por exemplo, diz que pesquisa bastante antes de fazer uma compra.
Já Marina_Marta_Almeida faz a busca completa: entende o máximo de informações possível sobre os produtos, procedência e fornecedores antes de comprar.
E você, como lida com consumo consciente?
Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história aqui.