Não precisa ir muito longe para entender os efeitos do desemprego no Brasil em 2021. E não muito longe quer dizer perto mesmo, na nossa casa ou do nosso vizinho. Faça a seguinte reflexão: quantas pessoas você conhece que estão desempregadas? Quantos posts nas redes sociais você viu de pessoas pedindo emprego ou vaquinhas? Sentimos os efeitos do desemprego de todos os lados.
Os dados são complexos e, num primeiro olhar, não explicam tudo. De um lado, 14,8 milhões de pessoas estão sem emprego – os chamados desocupados – e 5,7 milhões de pessoas já desistiram de procurar emprego – os desalentados. Do outro, alguns números tímidos, como o crescimento do PIB em 1,2%, o aumento de 1,5 milhão de vagas no primeiro semestre deste ano e o aumento no número de vacinados sugerem um cenário positivo. Será que podemos esperar uma luz no fim do túnel?
Os especialistas são otimistas quando se trata da vacinação: esse avanço é fundamental para o tão esperado retorno às atividades normais, que impulsionaria a economia.
Porém, para voltarmos aos patamares pré-pandemia, que já estavam abaixo das médias históricas, pode levar tempo. Afinal, as vagas de emprego não estão crescendo no mesmo ritmo do PIB e os impactos que o mercado de trabalho sofreu com a crise podem ser mais duradouros na vida das pessoas.
Para entender como esse cenário foi desenhado, de que forma ele afeta pessoas reais, a gravidade desse problema e as perspectivas para o futuro, a reportagem do blog do Nubank conversou com especialistas e ouviu pessoas que enfrentam hoje o desemprego. Veja, abaixo, um panorama completo do desemprego no Brasil de 2021.
Uma definição de termos
Desde 2012, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) usa os termos ocupação e desocupação para se referir a emprego e desemprego. Nem todo ocupado é empregado, assim como nem todo desempregado está desocupado. Como assim?
Apesar de usarmos o termo desemprego de forma genérica para falar de uma pessoa que está sem trabalho, o termo correto, na verdade, é desocupação.
Isso porque a palavra emprego no Brasil se refere ao vínculo de trabalho formalizado pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Ou seja, apenas os trabalhadores contratados por meio da CLT são considerados empregados pelo IBGE.
Mas qualquer pessoa que realiza algum tipo de trabalho, seja ele formal ou informal, é considerada ocupada. Isso quer dizer que vendedores ambulantes são lidos pelo instituto como ocupados, assim como entregadores autônomos de delivery, por exemplo. Só que ambas categorias não estão empregadas, segundo o IBGE.
Da mesma forma, é considerada desocupada a pessoa que não trabalha nem de carteira assinada, nem de forma autônoma. A pessoa desocupada é, então, aquela que não exerce nenhuma atividade remunerada.
Por fim, outro termo importante é “força de trabalho”. A força de trabalho corresponde à soma das pessoas ocupadas e desocupadas. Ou seja, todos os que estão disponíveis para trabalhar.
Quase 15 milhões de desocupados: como chegamos a esse recorde?
Parte da resposta para essa pergunta é clara: as coisas pioraram bastante com a pandemia. O mercado de trabalho está apenas refletindo o que vive a economia hoje, mas a verdade é que a série histórica já não era muito animadora. Desde 2014 observa-se o crescimento na taxa de desocupação, movimento que teve menor intensidade entre 2017 e 2019, quando a curva de crescimento ficou menos acentuada, seguida de um pico depois de 2020 (veja no gráfico abaixo).
Mas a desocupação não cresceu sem motivo. A economia brasileira já vinha enfrentando uma série de ciclos de recessões, como mostra o relatório do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da FGV. O órgão, que usa dados do PIB como base, mostra que o país enfrentou uma dura crise entre o segundo trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016, o que marcou o fim de uma expansão econômica de 20 trimestres.
Em 2017 o Brasil entrou em um período de expansão, depois de 11 trimestres de crise. Entretanto, no primeiro trimestre de 2020, o órgão identificou o início de outra recessão econômica. Ou seja, antes do início da pandemia o mercado e, consequentemente, o mercado de trabalho já enfrentavam dias complicados.
No gráfico abaixo, é possível observar o avanço da taxa de desocupação no país desde 2012, até maio de 2021.
Mais gente procurando emprego aumenta a taxa de desocupação
Você pode estar pensando: “Mas como a vacinação e a abertura do mercado podem aumentar as taxas de desocupação? Não deveria ser o contrário?”. Na verdade, não.
Com a vacinação e flexibilização do mercado, as pessoas retornam para a força de trabalho. Isso quer dizer que aumentou o volume de pessoas que estão trabalhando ou em busca por trabalho. Os últimos dados divulgados pelo IBGE, no dia 30 de julho, mostram o resultado do trimestre de março, abril e maio de 2021, e deixam claro o crescimento.
“A vacinação está avançando e as atividades econômicas estão ficando mais aquecidas em alguns setores. Isso, por si só, já explica boa parte desse crescimento da desocupação, porque as pessoas voltaram a procurar trabalho”, explica a analista da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
Então, à medida que a força de trabalho cresce, a taxa de desocupação aumenta, porque não há emprego no mercado desaquecido para todo mundo que agora está disponível para trabalhar. É o que explica o professor sênior da Faculdade de Economia da USP e coordenador do salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn.
“A ocupação vai crescer e a taxa de desocupação também vai crescer. Porque havia uma população represada, [já que] desalento é uma represa. As pessoas ficam lá esperando a coisa melhorar e quando começa a melhorar, volta todo mundo. E o mercado melhorando não consegue encontrar ocupação para todo mundo”, esclarece Zylberstajn.
Essa visão é compartilhada pelo pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, Daniel Duque. “Nos próximos meses, há maior probabilidade de a força de trabalho crescer acima do número de empregos. O ritmo de recuperação das ocupações tem sido lento, enquanto há muitos trabalhadores para voltar ao mercado”, diz. Daniel estima que a taxa de desemprego ainda deve se manter por algum tempo em torno dos 15%.
Essa maior concorrência é sentida na pele por quem está em busca por emprego, como Geovana Santos Nunes, de 20 anos, moradora de Montes Claros (MG). Desempregada há um ano, ela percebe uma dificuldade maior para se recolocar por não cumprir os requisitos de um mercado cada vez mais exigente por causa da concorrência.
“Vi uma vaga para recepcionista que pedia carteira de habilitação AB e veículo próprio. É uma vaga de recepção, e não seria necessário exigir tanto”, pondera a jovem.
Na casa de Geovana, ela e a mãe estão desempregadas. Já o pai, que sofre de uma doença crônica e recebe um auxílio-doença, é hoje a única fonte de renda de toda a família. “Tem sido uma luta constante”, afirma.
Se o PIB melhorou, por que a ocupação não acompanhou?
No primeiro trimestre de 2021, assistimos ao crescimento do PIB brasileiro, puxado pelas exportações de commodities (matérias-primas de origem agropecuária, como soja e carne, ou minerais, como ferro e manganês). O cenário de dólar em alta favorece as exportações, porque fica mais barato para o comprador estrangeiro adquirir os produtos brasileiros, e o vendedor ganha mais do que no mercado interno.
Esse avanço, porém, pouco ou nada teve relação com os setores de comércio e serviço, “que correspondem à maior parte da geração de trabalho no país”, destaca a pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy.
Vale observar que esses setores (comércio e serviço) são os que mais têm sofrido os impactos da pandemia, segundo o IBGE. Ou seja, a alta do PIB e da bolsa ainda não tiveram consequência direta na geração de empregos de forma mais significativa.
“É justamente da relação desses setores que viria um impacto benéfico sobre o mercado de trabalho, caso eles tivessem crescido de uma maneira mais significativa”, observa Adriana.
Para a maior parte dos brasileiros, que depende do comércio e serviços, a busca por trabalho tem sido frustrante porque há poucas vagas e muitos negócios continuam fechados.
Célia Maria de Oliveira, de 58 anos, moradora de Belo Horizonte (MG) vive isso no cotidiano. Apesar da experiência no ramo de produção de salgados, ela está desempregada há mais de um ano e meio, e não encontra muitas oportunidades pela falta de vagas disponíveis.
“No início da pandemia, a empresa em que eu trabalhava fechou, e desde então estou desempregada. Ainda está um pouco difícil a contratação na área, porque muitos estabelecimentos permanecem fechados”, diz.
Por conta da idade, Célia acredita que enfrenta ainda mais obstáculos. “Na minha faixa etária é difícil arranjar um emprego”, conta.
Mais que desemprego: desalento
Os desalentados são o grupo de pessoas que desejam trabalhar, mas desistiram de procurar. Esse número cresceu rapidamente, passando de 1,46 milhões, em 2014, para 5,7 milhões em 2021 – um número quase quatro vezes maior, como pode ser verificado no gráfico abaixo.
De acordo com o IBGE, diversos motivos podem fazer com que as pessoas parem de tentar: não encontrar oportunidades na sua cidade ou região, não conseguir trabalho por ser jovem demais ou muito idoso, não ter experiência profissional ou qualificação suficiente.
O perfil das pessoas que desistiram de buscar emprego
Existe um perfil claro dos mais afetados, apesar da falta de dados atualizados do período da pandemia sobre quem são essas pessoas que desistem de procurar emprego. Uma pesquisa de economistas da FGV, de 2019, mostra que a maioria é jovem (entre 14 e 23 anos), mulher, de pele negra (pretos e pardos), e com ensino fundamental incompleto.
“São as pessoas que têm menos chances no mercado de trabalho, ou seja, as mais vulneráveis: mulheres, jovens e as minorias, principalmente os negros”, comenta o professor da USP, Hélio Zylberstajn.
Observando os gráficos, é fácil comprovar que o perfil descrito pelo professor Hélio compõe, de fato, o maior grupo de desalentados. Mas eles não são os únicos. Existem mais pessoas que não se incluem nesses grupos e que também desistiram de procurar trabalho.
É o caso de Igor Monteiro, de 34 anos, morador de Taubaté (SP). Ele é formado em Letras, e chegou a desistir de procurar emprego para proteger sua saúde no período inicial da pandemia.
“Eu desisti e não desisti. No início da pandemia eu esperei as coisas melhorarem, porque não estava vacinado e os comércios estavam fechados. Depois, quando o comércio foi voltando, até fiz uma ou duas entrevistas, mas não consegui ir porque fiquei com medo de pegar Covid e passar para os meus pais”, conta.
A ocupação cresceu, mas na informalidade
Os termos do IBGE podem causar alguma confusão quando se fala em emprego e ocupação. Ao mesmo tempo em que vemos a taxa de desocupação avançar a patamares recordes, por exemplo, assistimos ao crescimento da ocupação. Como é possível que ocupação e desocupação cresçam juntas?
O que explica essa situação é o tal aumento na força de trabalho. Tem mais gente procurando emprego e entrando nas estatísticas, o que aumenta a desocupação. E também tem trabalhadores conseguindo emprego, o que aumenta a ocupação.
No último trimestre, foi registrado um total de 86,7 milhões de pessoas ocupadas, um crescimento de 0,9% em relação ao trimestre anterior. Mas acompanhando essa ocupação crescente, a taxa de informalidade também tem se mantido alta (39,6%).
Ou seja, até tem pessoas saindo da desocupação, mas não necessariamente se tornando empregadas em vagas CLT. Lembrando que a ocupação não é sinônimo de emprego, mas sim de um grupo de pessoas que exerce alguma atividade remunerada com ou sem vínculo empregatício.
Portanto, uma consequência da desocupação é que muitas pessoas se viram como podem no caminho da informalidade, buscando uma saída instável para manter a fonte de renda da família.
Desemprego impacta mais os jovens, mulheres e negros
Por trás de todos os dados, existem pessoas, histórias e dores. Assim como no caso do desalento, se a gente fosse imaginar um perfil médio da pessoa desempregada no Brasil, ela seria uma mulher, jovem e negra, de acordo com a média geral dos dados do IBGE.
Mas não são só elas: existem pessoas acima de 30 anos que também sentem esse efeito. É o caso de Igor Monteiro, que apesar de ter 34 anos, ainda não se considera um profissional com experiência suficiente para a competição atual.
“Acho que as empresas querem crescer rapidamente e contratam pessoas experientes. Como os jovens não estão preparados, porque não têm curso, isso e aquilo, ficam a ver navios e não encontram oportunidades”, complementa.
Essa dinâmica revela um cenário ainda mais duro para os jovens que mal conseguiram ingressar no mercado de trabalho. Por não terem experiência, não são contratados para as vagas, e assim não conseguem desenvolver o que os empregadores esperariam de um candidato. Funciona como um ciclo de inexperiência difícil de ser quebrado, ainda mais com tamanha concorrência.
Tempos difíceis exigem medidas drásticas
O desemprego é uma ameaça à espreita, e vez ou outra nos deparamos com histórias de pessoas que estão sofrendo com ele. Nas redes sociais ou entre amigos e conhecidos, surgem relatos de profissionais que acabam forçados a tomar medidas desesperadas.
Foi o caso de Eduardo Durães, de 49 anos, morador de Belo Horizonte (MG). Ele trabalhava como professor em uma escola particular da capital mineira, mas o empregador não cumpriu com seus compromissos e deixou de pagar seus salários. Com isso, Eduardo se viu em busca de um novo trabalho diante da maior taxa de desemprego da série histórica.
Mesmo com um mestrado no currículo, depois de contatar mais de 100 empresas, sem resposta, ele decidiu tomar uma medida drástica. Fez um cartaz, pendurou no pescoço, e foi até os cruzamentos de Belo Horizonte para pedir emprego, oferecendo uma paçoca grátis aos motoristas para chamar a sua atenção.
“Eu escrevo no meu Instagram sobre moradores de rua, sobre as pessoas que vivem da economia informal nos sinais de trânsito vendendo qualquer coisa para sobreviver. Como eu mandei os currículos para as empresas e não obtive resposta, pensei: já que eu conto tantas histórias vou lá dar visibilidade para a minha luta”.
A foto de Eduardo viralizou nas redes sociais. Ele apareceu em diversas reportagens nos jornais locais, e tem recebido muitas propostas de trabalho. Eduardo acredita que seu caso só teve uma repercussão tão grande devido ao seu nível de instrução, já que ele é formado em Jornalismo e Letras, tem mestrado na área, e deixou isso claro no cartaz.
“Eu acho que se um sujeito, como um pedreiro, for para o centro da cidade e colocar um cartaz no pescoço, infelizmente ele pode não chamar atenção como um cara como eu”, desabafa. Ele acredita que as pessoas ficam mais inconformadas que alguém com boa formação esteja sem emprego do que um trabalhador sem instrução, e completa, em tom de indignação: “Somos todos brasileiros, somos todos trabalhadores”.
A situação de Geovana também se agravou muito na pandemia. Ela precisou recorrer a ajuda de outras pessoas e vaquinha online para financiar itens básicos da rotina da casa.
“Nesse ano chegamos ao ponto de eu ter que pedir ajuda de pessoas próximas a mim e à distância. Montamos vaquinha na internet por causa da falta de dinheiro. Nunca chegamos a esse ponto, mas infelizmente nesse ano chegou, e não teve como fugir. A gente não tinha de onde tirar dinheiro”, lamenta.
Danos materiais e psicológicos
O impacto do desemprego na vida das pessoas vai além da questão material e chega ao psicológico. Igor, por exemplo, tem enfrentado crises frequentes. “Eu sofro de ansiedade. Passei muito mal nesse ano de pandemia. Eu estava fazendo terapia, mas tive que parar porque não tive mais como pagar”.
Já Eduardo sente que, como pai, é ainda mais difícil enfrentar as consequências psicológicas. “Eu, por exemplo, sou pai e sou separado. A gente tem que arcar com as nossas contas pra sobreviver. Então vai afetando o emocional das pessoas que estão ao seu lado, das pessoas que te cercam”, diz. “Cria-se até uma situação de doenças mais graves, como crise de ansiedade, depressão, síndrome do pânico”.
O professor da USP e coordenador do Centro de Psicologia Aplicada no Trabalho, Marcelo Afonso Ribeiro, fala em reportagem da instituição sobre o sentimento de exclusão do desempregado.
“O trabalho é central na vida das pessoas, e é ele que garante satisfação pessoal e sobrevivência. Estar fora do trabalho é uma espécie de exclusão social e tem consequências. A pessoa acaba assumindo que ela é a responsável pelo desemprego dela”, explica.
E essa culpa, segundo Ribeiro, desperta um sentimento de irresponsabilidade e desqualificação, dificultando ainda mais a busca de alternativas e agravando a situação da pessoa desempregada.
Para onde caminham as relações de trabalho?
Desde 2012 tem crescido no Brasil o número de trabalhadores por conta própria, ou seja, aqueles que têm o CNPJ de uma MEI.
A origem da MEI veio de um esforço para regularizar o trabalho autônomo, em 2009. Mas, como efeito colateral da medida, é possível observar também uma tendência de aumento nas relações de trabalho estabelecidas por meio da modalidade de pessoa jurídica.
Existem vantagens e desvantagens nesse tipo de relação de trabalho. Do lado do empregado, a jornada de trabalho se torna mais flexível, e os descontos na folha são reduzidos – aqueles que normalmente são recolhidos direto da fonte. Com isso, o salário no bolso do trabalhador poderia ser melhor.
O problema é que este trabalhador fica desamparado em relação a alguns benefícios destinados aos celetistas, como FGTS, 13º salário, férias e indenização no caso de rescisão do contrato de trabalho.
Para as empresas, sim, contratar neste regime vale a pena. Isso porque os custos por colaborador diminuem muito durante a sua jornada na companhia. E, no momento do desligamento desse funcionário PJ, os valores são praticamente nulos quando comparados aos trabalhadores celetistas.
Abaixo, é possível comparar a evolução da população ocupada com carteira assinada e trabalhadores com CNPJ. Enquanto os empregos por carteira assinada têm diminuído, o número de profissionais que trabalham por conta própria vem aumentando.
Segundo o pesquisador da FGV, Daniel Duque, existem dois movimentos entre os grupos de trabalhadores: tanto informais que migram para a MEI, quanto de CLT que mudam para MEI. “Até recentemente, o principal movimento era de informais, ou seja, pessoas sem carteira assinada, para MEI, o que é um movimento positivo. No entanto, nos últimos anos tem crescido o movimento considerado ruim: o de transição da CLT para o MEI”, diz.
Uma pesquisa do Sebrae de 2019 sobre o perfil do MEI, mostra que a média de renda familiar desse perfil de empreendedor era de R$ 4.400. Enquanto isso, o redimento médio dos trabalhadores (com ou sem carteira assinada) no Brasil também em 2019 era de R$ 2.244, segundo a Pnad. Ou seja, a renda média do microempreendedor individual é quase o dobro em comparação à do trabalhador regular.
Além disso, quando perguntados pelo Sebrae sobre as atividades que exerciam antes de se formalizarem como MEIs, 51% dos entrevistados disseram que trabalhavam com carteira assinada.
Apesar dos trabalhadores informais no Brasil terem baixa escolaridade no geral, em 2019, quase 40% dos MEIs tinham ensino médio ou técnico completo. Cerca de 30% deles têm ensino superior incompleto ou mais. De 2011 a 2019, o número de MEIs com baixa escolaridade caiu de 36% para 30%.
Todos esses números sugerem um movimento de pejotização no mercado de trabalho formal, inclusive para profissionais mais escolarizados.
Impactos da pandemia a longo prazo
E quando a pandemia acabar, tudo vai melhorar? Quando o mercado experimentar uma retomada de fato e a economia se aquecer, os efeitos da pandemia terão ficado no passado?
Tudo indica que não. Os especialistas acreditam que o cenário em que vivemos hoje pode trazer impactos duradouros para a sociedade e aumentar as desigualdades.
Por exemplo: hoje, o trabalhador mais escolarizado e valorizado pelas empresas teve o seu emprego mantido e, muitas vezes, passou a cumprir sua jornada de trabalho de casa (home office).
Por outro lado, o jovem menos experiente que foi afastado do mercado e permanece desempregado, pode continuar sofrendo os impactos da pandemia no futuro. Afinal, serão anos preciosos no início da carreira dele que terão sido perdidos.
“Setorialmente, a pandemia atacou as ocupações exercidas por trabalhadores menos escolarizados, menos experientes, etc. É um fenômeno que vai impactar a desigualdade permanentemente, mesmo com a crise sendo temporária, porque os efeitos sobre os trabalhadores, principalmente os mais jovens, perduram no tempo”, acrescenta Daniel Duque. Para o especialista da FGV, cabe ao setor público redistribuir os ganhos de nível de emprego e salários no Brasil.
Ou seja, o mercado vai retomar seu ritmo aos poucos, as vagas de emprego vão crescer em algum momento, e a taxa de desocupação vai cair. Mas não necessariamente as populações mais vulneráveis hoje aos efeitos da pandemia vão encontrar com facilidade um futuro próspero.
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