Aqui no Nubank, nós acreditamos que a engenharia deve usar abordagens padronizadas, aplicadas de forma consistente. Sabemos que nossos dados são um ativo estratégico, e a confiança do cliente é difícil de ganhar e fácil de perder. Queremos otimização por meio de plataformas, propriedade e resiliência técnica, e sabemos que múltiplas perspectivas criam um software melhor.
Estes são os princípios que guiam a equipe de engenharia de software e têm sido aplicados no Nubank desde o início.
David Vélez, fundador e CEO do Nubank, é um dos responsáveis por criar estes princípios que guiam nossas equipes e nos motivam a desafiar o status quo ao criar soluções de ponta. Matt Swann entrou no Nubank em 2021, e é chefe dos times de engenharia, além de supervisionar o desenvolvimento e execução da estratégia e planejamento da tecnologia global.
Nesta entrevista, eles conversam sobre o cargo de engenheiro no Nubank e como as equipes técnicas devem agir no processo de desenvolvimento de produto.
Engenheiros como Nubankers
Matt Swann: De todos os princípios de engenharia do Nubank, com qual você mais se identifica?
David Vélez: Eu me identifico com todos os princípios, mas destacaria o princípio da propriedade. Desde o começo, tem sido um princípio da empresa: nós somos proprietários, não inquilinos. Este princípio existe porque uma das coisas que me chateia é ver uma divisão entre proprietários e inquilinos, chefes e funcionários. É como se eles fossem opostos, criando desconfiança e conflitos. É como se você estivesse em um barco, e as pessoas remassem em direções diferentes. Propriedade significa que todos estão remando na mesma direção.
Esta é a atitude esperada de todo funcionário do Nubank, mas é ainda mais importante na engenharia porque não queremos o grupo tradicional de TI (Tecnologia da Informação), que fica em um prédio diferente e recebe uma lista do que as áreas de negócios desejam. Queremos que os engenheiros estejam diretamente envolvidos nas equipes, contribuindo e fornecendo pontos de vista sobre o produto, indo além do código, para serem criadores e proprietários daquele produto.
E foi algo que definimos na cultura do Nubank desde o começo. E isso é fundamental na engenharia, que é a principal estrutura de um produto. Esperamos que os engenheiros possam resolver problemas em todos os setores da companhia.
MS: Como a engenharia pode equilibrar as exigências do negócio para obter resultados rápidos com as soluções altamente escalonáveis de longo prazo, que levam tempo para construir?
DV: É uma pergunta difícil, e não acho que haja uma resposta única para todos os casos. Normalmente, é uma microdecisão que todos em uma equipe devem tomar baseada na informação disponível e na urgência da tarefa em questão.
Eu diria que algumas pessoas podem sentir que, em grandes empresas, existem diferentes percepções de negócio e engenharia. Mas eu acredito que no Nubank todos entendem o conceito de substituir o curto prazo pelo longo prazo. Todos nós focamos no longo prazo, e estamos dispostos a perder metas de curto prazo porque queremos atingir estas metas de longo prazo.
Para resumir, eu diria que a melhor forma de encontrar a solução é: pensar da mesma forma, ter uma conversa e entender o nível de urgência.
MS: Quando você pensa sobre os próximos anos, qual é a atitude mais importante que os engenheiros do Nubank devem ter?
Tem a excelência técnica. Precisamos continuar sendo excelentes tecnicamente, e isso quase não precisa ser dito. Precisamos ser grandes arquitetos e pensar continuamente sobre como a organização está sendo construída, e a plataformização é um grande aspecto. Mas sobre os comportamentos, eu volto à mentalidade de propriedade, o que significa contestar quando existe burocracia.
Frequentemente, vemos coisas que não fazem sentido. E muitas vezes é porque não houve a perspectiva que um engenheiro ou qualquer outra pessoa da equipe poderia ter oferecido. O que eu peço durante o nosso crescimento é: fale e mostre seu ponto de vista.
Lutando contra a complexidade no futuro
MS: Uma das coisas que temos falado é sobre a plataformização, e como pensamos nisso como um princípio. O que isso significa para você quando pensa no futuro da empresa?
DV: Nós criamos o Nubank para ser ágil desde o começo. Começamos com uma ideia ousada de construir a próxima geração de serviços financeiros no Brasil, e todo mundo disse que estávamos loucos. Tínhamos algo para provar na época, então precisávamos lançar o mais rápido possível no Brasil. E de repente: e se a gente lançasse a conta? Depois, empréstimos pessoais, México, Colômbia? No final, chegamos ao ponto onde falamos que as oportunidades que temos para o futuro do Nubank são amplas, então por que nos limitarmos?
Os problemas que estamos tentando resolver no Brasil, México e Colômbia estão presentes em diversos mercados emergentes. Então a plataformização permite testes diferentes simultaneamente, enquanto mantemos os outros serviços no ar. Isso nos ajuda a crescer e é essencial para aproveitar oportunidades.
MS: Temos grandes ambições e crescemos muito nos últimos anos. Você já pensou sobre formas de reduzir a complexidade do nosso aplicativo?
DV: O crescimento gera complexidade, e se você sabe disso, pode trabalhar e pensar em como reduzi-la. Nosso aplicativo tem um desafio de design muito interessante, e está bastante alinhado com o propósito de criar um banco pessoal, o que significa ter um Nubank preparado para cada consumidor. Significa ter um modelo de aprendizagem de máquina que, baseado na necessidade do cliente, vai mostrar um aplicativo diferente, oferecendo exatamente o que ele precisa e no momento certo.
MS: O que você acha que poderia ser melhor no Nubank?
DV: Uma das coisas que eu mais me orgulho no Nubank é que temos uma das melhores equipes de engenharia do mundo. O que criamos são realmente produtos e serviços de ponta. Mas eu gostaria de ouvir mais da equipe de engenharia, e de maneiras e níveis diferentes. Como sempre falamos, precisamos ter o cliente na discussão, no centro do negócio. Eu diria que precisamos ter a equipe de engenharia participando em todas as decisões.