Elas estão presentes em comerciais de TV, nas redes sociais, na boca de pessoas famosas, nos sites de notícias e nas conversas de bar entre amigos. Você pode até não se interessar pelo assunto, mas já deve ter ouvido alguém falar sobre criptomoedas.
Quando se trata desse novo universo, ainda há mais perguntas do que respostas – afinal, o mundo das criptos nasceu há menos de 15 anos. Nesse pouco tempo, elas já foram tratadas desde como modismo passageiro até como grande tendência do mercado (e futuro do dinheiro).
Existem vários fatores que mudam a percepção sobre esse universo e que vão além do sobe e desce do valor das principais criptomoedas, principalmente do bitcoin, a primeira e maior moeda digital do mundo. É que, diferentemente de outras novidades do mercado financeiro, as criptos se destacam por não se resumirem ao mundo do dinheiro.
As criptomoedas nasceram no universo da tecnologia com a promessa de criar um sistema financeiro descentralizado, sem intermediários e controlado pelos próprios usuários.
Ao longo do tempo, elas ganharam adeptos e também desafetos de diferentes áreas.
Mas por que o universo cripto não impacta apenas o mundo do dinheiro? Como elas ganharam tanta notoriedade? Quais os efeitos delas no presente e no futuro? Afinal, as criptomoedas são tendência de futuro ou euforia passageira?
Entenda, abaixo, como elas afetam a tecnologia, o dinheiro, a arte, a sociedade e o meio ambiente. E o que dá para afirmar sobre o futuro desse mercado, apesar do sobe e desce do valor delas.
Para começar, o que são criptomoedas e como elas são criadas?
Criptomoedas são moedas digitais descentralizadas. Ou seja, elas não são como as moedas comuns que você conhece, como o real ou o dólar. Elas existem apenas no mundo digital e não é possível tocar nelas ou guardá-las na carteira.
Na prática, as criptomoedas são pedaços longos de código, e são descentralizadas porque não existe um banco central ou governo que controla a emissão ou mesmo a circulação delas.
As criptomoedas são criadas dentro de uma rede blockchain, que funciona como uma espécie de banco de dados.
Nesse sistema, é possível fazer transações de ativos digitais (como documentos e as próprias criptomoedas) sem intermediários, de qualquer lugar do mundo e de uma forma transparente. Qualquer pessoa que acessa uma blockchain consegue ver as transações feitas na rede, mas não tem acesso a quem realizou essas operações, quem as recebeu e nem qual ativo foi enviado.
Isso acontece porque a blockchain usa criptografia para proteger esses dados. Criptografia é uma camada de segurança que torna muito difícil qualquer tipo de fraude. Na prática, é um modo de embaralhar uma informação para que somente quem a envia e quem a recebe consiga decifrá-la. Vários aplicativos que você usa no dia a dia, como os de mensagem, usam criptografia.
Numa rede blockchain, a criptografia é apenas um aspecto que aumenta a segurança. Além dela, o processo como são realizadas as transações complica ainda mais a vida de fraudadores. Esse processo se chama mineração.
Mineração valida dados na blockchain e cria as criptomoedas
A mineração é o processo por trás da criação das criptomoedas. E como isso acontece? Quando uma pessoa quer transferir algum ativo digital para outra por meio de uma blockchain, os mineradores entram em ação. Lembra que as criptomoedas são moedas descentralizadas? Quem “emite” as moedas digitais no mercado são os mineradores – ou seja, os próprios usuários da rede.
Eles são pessoas que têm computadores com alta capacidade de processamento e que são responsáveis por validar as transações feitas em uma blockchain. Na prática, se você quer transferir criptomoedas para alguém, os mineradores checam se você tem saldo para fazer essa operação.
Eles também conferem se o endereço de envio está correto, fazem essa transferência acontecer e “trancam” essa informação numa espécie de bloco – como se fosse um cofre virtual –, onde ela não poderá mais ser alterada.
Depois, encaixam um bloco ao lado do outro, formando uma corrente de blocos trancados e protegidos – daí o nome blockchain, ou “corrente de blocos”, em português.
Para fazer esse “encaixe”, os mineradores precisam resolver equações bem complicadas. Quando conseguem acertar os cálculos, eles recebem criptomoedas como pagamento, de forma automática. São essas moedas digitais, enfim, que entram no mercado e passam a ser comercializadas.
Veja, abaixo, o passo a passo de uma transação em uma rede blockchain. Arraste para o lado para conferir o infográfico completo.
Essa é a base do universo das criptos: são os usuários que fazem as movimentações dentro da rede acontecerem. Mas isso só foi possível graças a avanços tecnológicos, que permitiram que a blockchain virasse realidade.
Criptomoedas surgiram como resultado de uma inovação tecnológica
O universo das criptomoedas nasceu em 2008, quando Satoshi Nakamoto enviou para fóruns de desenvolvedores da internet uma espécie de manual, também chamado de white paper, para a criação do bitcoin, a primeira criptomoeda do mundo. Até hoje ninguém sabe se Nakamoto é uma pessoa ou um grupo.
No manual, ele dá as diretrizes para a criação da blockchain como a conhecemos hoje. Ao contrário do que muita gente pensa, porém, a blockchain não nasceu com o bitcoin. Na verdade, a moeda digital é o resultado da primeira aplicação prática dessa rede que já era estudada há, pelo menos, três décadas.
Os estudos sobre uma rede onde fosse possível fazer transações seguras, transparentes, sem intermediários e que não permitisse alterar dados começaram nos anos 1980. Esses estudos ganharam corpo nos anos 1990. Mas foi com o bitcoin que a blockchain se popularizou e que as teorias viraram realidade. Essa tecnologia permitiu que a primeira criptomoeda fosse criada e abriu espaço para que outras moedas digitais e inovações surgissem.
“O bitcoin inova quando ele une todas essas tecnologias que já existiam, como blockchain e criptografia.”
Caroline Souza, sócia da UseCripto, empresa de educação sobre criptomoedas
A pessoa ou o grupo por trás do pseudônimo Nakamoto continuou presente nos fóruns de tecnologia pelo menos até 2011, quando ele tirou seu nome da lista de desenvolvedores do site bitcoin.org, página oficial da criptomoeda na internet.
Para Caroline, esse sumiço foi proposital. “Na minha opinião, ele sumiu para não centralizar o poder nele e para não impactar as decisões da rede, uma vez que a essência da criptomoeda é justamente a descentralização”, afirma.
Descentralização: uma questão de confiança
A descentralização é a ideia por trás da criação do bitcoin e de outras criptomoedas. Mas por que isso é tão importante para o mundo das criptos? Por causa da confiança.
O manual que deu origem ao bitcoin foi divulgado no fim de 2008, ano de uma das maiores crises econômicas da história. Além de derrubar a economia de vários países, a crise imobiliária dos Estados Unidos também mexeu com a confiança no sistema financeiro tradicional.
Qualquer relação financeira tem como base a confiança, ainda que você não perceba.
Por exemplo:
– Quando o Banco Central emite um papel e diz que ele vale R$ 200, você não duvida disso;
– Quando você abre uma conta em um banco e deposita algum valor, confia que o dinheiro está lá de verdade para quando quiser usar;
– Quando uma loja aceita o seu cartão de crédito como forma de pagamento, existe uma confiança que você vai pagar aquela conta.
Quem criou o bitcoin questionou esse sistema baseado na confiança em um momento em que as instituições financeiras estavam quebrando nos Estados Unidos. No white paper de 2008, Satoshi Nakamoto escreveu:
“Embora o sistema funcione bem o suficiente para a maioria das transações, ele ainda sofre com as fraquezas inerentes ao modelo baseado em confiança. O que é necessário é um sistema de pagamento eletrônico baseado em prova criptográfica em vez de confiança, permitindo que duas partes dispostas a negociar diretamente consigam fazer isso sem a necessidade de um terceiro”.
Isso significa que quem criou o bitcoin queria tirar a confiança das relações que envolvem dinheiro? Ao contrário: a ideia é automatizar esse fator para permitir que as pessoas possam confiar umas nas outras, sem precisar de uma instituição no meio do caminho.
“Confiança é segurança, processos e crença numa marca. Você confia na instituição, mas não dá para ter milhares de instituições. É difícil e caro escalar confiança. Mas as criptos conseguem fazer isso: elas escalam a confiança entre as pessoas.”
Roberta Antunes, sócia da Hashdex, empresa gestora de criptoativos
Escalar significa crescer rapidamente, sem grandes custos. Ou seja, as criptomoedas automatizam a confiança e conseguem fazer essa automatização chegar a mais gente.
Em outras palavras, em meio a uma crise econômica que nasceu no sistema financeiro dos Estados Unidos, quem deu as bases para a criação das criptomoedas propôs que o controle sobre o dinheiro fosse das pessoas e não de poucas instituições.
Essa ideia fez das criptomoedas não apenas uma novidade do mercado, mas uma espécie de símbolo de grupos que questionam o sistema financeiro.
Universo das criptomoedas uniu tecnologia e bandeiras culturais
Esses grupos estavam muito ligados ao Movimento Cyberpunk, que se fortaleceu nos anos 90 e que defendia, dentre outras coisas, o uso da criptografia e da tecnologia para defender a privacidade e o anonimato das pessoas.
Por isso, antes mesmo de o manual de Satoshi Nakamoto aparecer, outras iniciativas de criar uma moeda digital surgiram. É o caso do b-money, de 1998, sistema que usa criptografia e onde os usuários eram identificados apenas pelas suas chaves públicas. Houve ainda o goldbit, moeda digital criada a partir de enigmas de criptografia que eram resolvidos em grupos. Depois de resolvidos, esses enigmas eram enviados a uma espécie de livro público. Conseguiu identificar a raiz da blockchain que deu origem ao bitcoin?
Essa busca por uma moeda digital que permitisse transações anônimas, mas rastreáveis e sem intermediários, nasceu a partir de valores culturais de grupos ligados ao Movimento Cyberpunk e a movimentos de contracultura. Eles defendiam a privacidade e eram contra o sistema financeiro centralizado. Esse traço cultural no universo das criptomoedas persiste até hoje, mas com algumas mudanças.
“Quando a gente deixou de falar só de criptomoeda e passou a falar de blockchain, esses grupos ainda tentaram colocar os valores deles em alguns projetos, mas agora a coisa ficou tão ampla que não existe uma visão única. O que dá para dizer é que as criptomoedas estão muito ligadas a ideia de comunidade. O que essas comunidades têm em comum é o desejo de trocar valores de forma mais livre”, afirma Gabriel Aleixo, professor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio).
Mas como as criptomoedas ficaram populares?
Os entusiastas em tecnologia e os defensores de modelos descentralizados ajudaram a criar as criptomoedas, mas não foram eles que as tornaram populares. Por anos, o bitcoin reinou sozinho, mas outros criptoativos (criptomoedas, tokens e NFTs) foram surgindo à medida que outras blockchains foram sendo criadas.
A mais famosa delas, depois da blockchain do bitcoin, é a rede Ethereum – concebida em 2013, mas lançada efetivamente em 2015. Ela é considerada uma evolução da rede do bitcoin por ser programável e permitir que outros projetos sejam criados dentro dela.
Isso fez com que outras criptomoedas e tokens surgissem de forma mais acelerada. Hoje, mais de 60% dos projetos de criptoativos são criados dentro da Ethereum.
A rede ajudou a impulsionar o número de ativos desse mercado. Segundo dados do CoinMarketCap, existiam 66 criptomoedas em 2013 com algum valor de mercado. Esse número saltou para mais de 500 no ano seguinte e mais do que dobrou em 2017.
Hoje, em 2022, já são mais de 19 mil criptoativos, dos quais em torno de 10 mil criptomoedas têm algum valor de mercado. Esse universo já chegou a valer quase US$ 3 trilhões, se estabilizou em US$ 2 trilhões nos últimos dois anos, mas tem caído em 2022.
O crescimento que esse mercado apresentou até 2021 e as possibilidades de aplicação da blockchain chamaram a atenção de comunidades ligadas à tecnologia e ao setor financeiro. As perguntas sobre bitcoin começaram a aparecer no Google em 2014, ano em que mal se usava o termo criptomoedas.
Foi a partir de 2016 que as buscas sobre criptos e bitcoin começaram a explodir. Muita gente queria entender o que estava acontecendo.
Segundo especialistas, não tem como afirmar, ao certo, os motivos que fizeram esse universo chamar a atenção e ganhar ainda mais adeptos a partir de 2017. Mas dá para dizer que o salto do preço do bitcoin contribuiu, e muito, para isso. Naquele ano, o valor da moeda digital saiu de menos de US$ 1 mil para cerca de US$ 20 mil, em dezembro – um crescimento de quase 2.000%, que também impulsionou todas as outras moedas digitais.
Esse aumento fez muita gente olhar para o universo de criptomoedas não como um movimento de contracultura ou como um resultado de aplicação tecnológica, mas como uma maneira de ganhar dinheiro. Não demorou muito para o assunto sair da mídia especializada em tecnologia para a mídia de economia. Assim, as criptomoedas ultrapassaram a barreira dos fóruns de desenvolvedores e começaram a ganhar o grande público.
Briga de narrativas: euforia ou “o dinheiro do futuro”?
As buscas por algo que justificasse o crescimento do bitcoin em 2017 só fez crescer o interesse pelo universo das criptomoedas e também deu início a uma disputa de narrativas. Muitos falam em aumento repentino de demanda de pessoas físicas, levadas pelas notícias e influenciadores de redes sociais que começaram a falar sobre bitcoin naquele ano.
Outros colocam um peso maior no interesse de grandes investidores institucionais, como fundos e empresas, que passaram a comprar bitcoin pelo seu potencial tecnológico.
Um estudo da Universidade do Texas (EUA), porém, tem outra versão. Ao analisar as transações feitas em dezembro de 2017, mês em que a moeda digital disparou pela primeira vez, os pesquisadores concluíram que há suspeita de manipulação em pelo menos metade dessas transações. Para eles, grande parte das compras foi feita com outra criptomoeda, a tether, forçando o preço do bitcoin a subir, puxando o mercado com ele.
Antes mesmo de o bitcoin ganhar a atenção de pessoas fora do mundo da tecnologia, ele já tinha caído na descrença de muita gente. Não foram poucos aqueles que disseram que o bitcoin estava à beira do colapso, que era apenas um ativo de especulação, golpe, pirâmide, modismo ou uma piada mesmo.
Desde antes do primeiro grande pico da moeda digital, publicações norte-americanas importantes, como Forbes, Wired, The Washington Post, Business Insider, Wall Street Daily e muitos outras declararam a morte do bitcoin.
Alguns desses textos não estão mais no ar, mas foram tantos aqueles que afirmaram que “o bitcoin já era” que existe até um banco de dados para contabilizar quantas vezes o obituário da moeda digital foi escrito. De forma geral, o argumento dos críticos tem a mesma linha de raciocínio: esse mercado oscila de forma muito intensa, não é regulado, não tem ninguém controlando o que acontece nas blockchains, não tem travas e pode colapsar a qualquer momento.
Como em toda briga de narrativas, o outro lado também tem seu espaço. Desde que foi criado, o bitcoin ganhou fãs e adeptos, que afirmam que as moedas digitais são o “dinheiro do futuro”. Esses defensores ganharam até nome: são os criptoevangelistas.
Geralmente empreendedores ou pessoas ativas da área de tecnologia e jogos, os defensores desse universo argumentam que as criptomoedas são uma alternativa ao sistema financeiro convencional, e permitem que as pessoas façam transações sem entraves. Eles ainda dizem que a tecnologia das criptomoedas garante acesso a produtos e serviços aos não-bancarizados.
Entre os criptocéticos e os criptoevangelistas, porém, há um consenso: esse mercado é novo e muita coisa ainda pode mudar.
Efeito manada, FOMO e redes sociais: “como assim você não tem cripto?”
Não demorou muito para a briga de narrativas sair dos fóruns online e sites de notícias para chegar ao perfil daquela celebridade que você acompanha nas redes sociais, às mesas de bar entre amigos, ao almoço com a família e ao café com os colegas de trabalho. E quando muita gente começa a falar de uma novidade, é muito difícil não prestar atenção.
Esse desejo de estar “por dentro” de tudo o que está acontecendo tem nome: FOMO (fear of missing out, que significa “medo de estar por fora”). A sigla é conhecida daqueles que ficam horas e horas nas redes sociais, mas não se aplica apenas a elas.
Segundo a psicologia comportamental, esse desejo de participar de uma conversa faz parte da nossa evolução. Não entender a “novidade da vez” é um gatilho que gera desconforto. E se tem uma coisa que o ser humano quer evitar na vida é o desconforto, segundo os estudos comportamentais.
Por isso, o burburinho em torno das criptos nas rodas de conversa, redes sociais e grupos de amigos fez muita gente pesquisar sobre elas. Nessa pesquisa, histórias de enriquecimento rápido apareciam cada vez mais. Uma delas é a do norte-americano Erik Finman, que afirma ter ficado milionário aos 18 anos, em 2017, investindo US$ 1 mil em bitcoin. Outra história conhecida é a do norte-americano Cooper Turley, que diz que também se tornou milionário ao comprar bitcoin e ether, da rede Ethereum.
Quando alguma criptomoeda sobe de uma vez só, como ocorreu com as memecois – moedas digitais atreladas a algum meme da internet – essas histórias costumam se multiplicar. Um gerente de supermercados nos Estados Unidos afirmou que comprou US$ 8 mil da criptomoeda shiba inu e retirou mais de US$ 1 milhão poucos meses depois.
Essas histórias de enriquecimento “do dia para a noite” levam a um comportamento conhecido no mundo dos investimentos: o efeito manada – que é a tendência de seguir a decisão de um grupo. Esse comportamento acontece com todas as pessoas e é um atalho que o cérebro usa para não gastar energia na tomada de decisão.
Em outras palavras, essas histórias reforçam o FOMO e ajudam a aumentar o número de pessoas que compram cripto esperando o mesmo resultado: o enriquecimento sem muito esforço. O problema é que, nessa hora, muita gente esquece que o mercado de cripto é muito volátil – ou seja, sobe e cai muito, e muito rápido. Além disso, para cada história de enriquecimento, existem outras tantas de pessoas que perderam muito dinheiro ou tudo com criptomoedas.
Enquanto muita gente fala sobre os valores recordes do bitcoin, não é todo mundo que lembra dos seus tombos históricos. Um ano depois de atingir sua primeira máxima histórica, o bitcoin foi a US$ 3,4 mil – uma queda de 82%.
As queridinhas das celebridades em tempos de crise
Narrativas de enriquecimento rápido caem muito bem em períodos de crise econômica. Não foi à toa que, entre quem já investe no Brasil, houve um aumento no interesse pelas criptomoedas nos dois primeiros anos da pandemia de covid-19.
Uma pesquisa mostra que 50% dos investidores brasileiros de criptomoedas começaram seus aplicações nas moedas digitais justamente entre 2020 e 2021. O estudo foi realizado pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), em parceria com a University Blockchain Research Initiative (UBRI) e com a gestora Hashdex.
Existem alguns motivos que explicam esse movimento em plena crise. Um deles é econômico. Com inflação e desemprego em alta e queda na renda média da população, as pessoas “aceitam” de forma mais aberta histórias de ganhos altos e rápidos.
O problema é que muitas dessas promessas não são reais.
Uma pesquisa da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostrou que as criptomoedas foram o produto financeiro mais citado por 43,3% das vítimas de golpes que participaram do estudo. Conforme o levantamento, a promessa de altas rentabilidades é o principal gatilho nesse tipo de fraude.
Outro motivo é comportamental. Por causa da pandemia, as economias pararam e tudo ficou incerto e instável. É em momentos de incerteza que as pessoas se apoiam naquilo que elas já conhecem: indicações de “especialistas”, amigos, família e daquela celebridade que acompanham.
Você já ouviu essa história?
Poucas vezes um ativo caiu tanto nas graças de pessoas famosas com milhares de seguidores nas redes sociais. Segundo Hugo Carone, analista de investimentos do Nubank, o movimento que ocorre com as criptomoedas é semelhante ao que ocorreu em 2000.
Naquele ano, as empresas que tinham boa parte do seu negócio atrelado à internet, as chamadas “empresas pontocom”, foram a bola da vez do mundo dos investimentos.
Não se falava em outra coisa: eram muitas as histórias de altos ganhos e quem nunca havia investido na vida também queria fazer parte dessa conversa.
“É um tipo de situação que se repete. O que ocorre hoje com as criptos aconteceu com a bolha das pontocom. Algumas pessoas achavam que aquelas empresas não valiam nada e outras diziam que elas eram o futuro. É um comportamento humano que se repete.”
Hugo Carone, analista de investimentos do Nubank
Mas os anos 2000 não tinham as redes sociais para espalhar essas conversas como agora. As criptomoedas ganharam fama com a ajuda de celebridades e pessoas famosas do mercado, como a socialite Kim Kardashian, o empresário Elon Musk, as atrizes Gwyneth Paltrow e Reese Witherspoon, e o ator Matt Damon, para ficar apenas em alguns exemplos de outros países.
Hoje, um post em uma rede social pode disparar ou derrubar o valor de mercado de uma criptomoeda, principalmente de uma memecoin, cujo valor é muito suscetível ao que se fala dela por aí. “Essa é a diferença: é a quantidade de gente que você atinge hoje. Tem pessoas postando moedas que você nunca ouviu falar. É uma forma de status e imagem”, afirma o analista do Nubank.
Muitas dessas celebridades defendem a ideia de que as criptomoedas estão mudando o presente e moldando o futuro. E usam sua audiência e imagem para atrair adeptos para uma determinada criptomoeda.
O problema é que muitas dessas mensagens mais criam ansiedade do que informam. Ao menos essa é a percepção de muitos órgãos reguladores, como a FDA (Financial Conduct Authority), do Reino Unido, que já criticou a conduta de muitas celebridades de promover até mesmo criptos que não existem.
“Existem protocolos que não são descentralizados, que são vendidos como descentralizados para atrair investidores. As pessoas acham que é fácil criar um projeto desse, mas não é bem assim. Existe uma certa vulgarização da descentralização. E é preciso ficar de olho para entender quem está por trás desses projetos”, alerta Caroline Souza, sócia da UseCripto.
Mercado financeiro: como as criptomoedas estão mudando o dinheiro?
Para Caroline, é natural que o primeiro impacto das criptomoedas seja no sistema financeiro e na forma como as pessoas lidam com o dinheiro. “É um novo tipo de dinheiro, que traz de volta o poder para as pessoas, para o usuário final. Quando elas mais precisam ter acesso ao seu patrimônio, em uma situação limite, são poucas as entidades com as quais é possível contar”, afirma.
Na prática, embora sejam moedas, que podem ser usadas para comprar bens e serviços, as criptomoedas são mais do que isso. O universo cripto já permite que pessoas realizem transações financeiras sem intermediários e tenham acesso a empréstimos e sistemas de pagamentos. Esse conjunto de produtos e serviços se chama DeFi (finanças descentralizadas), que funciona como se fosse um sistema em que tudo é executado de forma automática dentro de uma blockchain.
O DeFi usa algoritmos e smart contracts (contratos inteligentes, que permitem a realização automática de acordos) para possibilitar que qualquer pessoa conectada a uma blockchain envie e receba recursos, peça empréstimos e receba juros de qualquer lugar do mundo, sem intermediários. A rede Ethereum é a blockchain onde há mais aplicações de DeFi.
Segundo Gabriel Aleixo, professor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), as criptomoedas são ferramentas para pessoas e países que precisam de liquidez, principalmente em um momento de crise.
Além disso, ele afirma que, diferentemente do sistema financeiro tradicional, os sistemas blockchain e as criptomoedas estão abertos para qualquer pessoa. Na prática, você não precisa passar por uma análise de crédito, por exemplo, para fazer transações ou pegar dinheiro emprestado por meio de uma blockchain.
“A gente pode falar desde países que estão vivendo conflitos a países que passam por crises financeiras. Por que a Argentina tem a maior comunidade de entusiastas das criptos? Porque o país passou por desvalorização da moeda oficial. Por ser uma forma de dinheiro livre, a criptomoeda não discrimina ninguém, mas tem uma curva de aprendizagem.”
Gabriel Aleixo, professor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro
Para o especialista, essa curva será parecida com a da própria internet. “Vai ser cada vez mais barato e simples de usar. É um trabalho de formiguinha”, diz.
Reserva de valor: o bitcoin como “ouro digital”
Apesar do entusiasmo dos adeptos desse universo em relação às mudanças tecnológicas que ele pode promover no sistema financeiro, as criptomoedas ganharam força mesmo como um ativo. Mais e mais pessoas compram criptomoedas à espera de uma valorização.
A gestora de RH Joice Bragança, de 33 anos, é uma delas. Ela conta que ouvia falar de cripto, principalmente do bitcoin, há algum tempo, mas nunca buscou mais informações sobre esse universo.
Ela é nova no mercado financeiro e começou a investir há cerca de um ano, já na Bolsa de Valores. Só depois de entender que não é indicado começar no mundo dos investimentos pela renda variável é que ela passou a investir também na renda fixa. “Entendi que meu capital não deveria estar todo em um lugar só, ainda mais na Bolsa”, diz.
Em 2021, a notícia de que o bitcoin havia alcançado seu pico histórico de US$ 67 mil chamou sua atenção. “Como eu estava estudando, entendia um pouco de análise técnica. Quando olhei o gráfico e vi que estava começando a cair, eu entrei”, diz.
Além do bitcoin, Joice também comprou ether, da rede Ethereum, a cardano, além de alguns tokens. Para escolher uma cripto, ela checa o preço, o projeto por trás da moeda digital, seus fundamentos e conversa com pessoas que entendem desse mercado.
Hoje, em torno de 20% do seu patrimônio está em criptomoedas – um percentual considerado alto para investidores iniciantes, na avaliação de Hugo Carone.
Ainda assim, a investidora não tem pressa quando o assunto é cripto e não acredita em enriquecimento do dia para a noite. “Penso mais no longo prazo. Pra mim, acho que a única forma de enriquecer é com o meu trabalho. Os investimentos são uma forma de acelerar isso”, acredita.
Bitcoin é limitado
O bitcoin é, de fato, a criptomoeda preferida por quem busca entrar nesse universo. Além de ser a primeira moeda digital, ela também é a mais sólida, representa 40% do valor total desse mercado e é comparada ao ouro.
Essa comparação deve-se à limitação do bitcoin – que foi estabelecida no seu código de criação. Na prática, só será possível minerar, ao todo, 21 milhões de bitcoins no mundo. Hoje, em torno de 19 milhões já foram minerados, e levará mais de 100 anos para que os outros 2 milhões sejam criados.
Segundo especialistas, essa limitação vai ajudar a criptomoeda a ser mais estável em algum momento, garantindo certa previsibilidade, um dos fatores mais importantes da economia. Quando você tem uma inflação estável, por exemplo, sabe que seu dinheiro não vai perder valor de uma hora para outra, e fica mais fácil fazer planos de longo prazo.
É por isso que, em momentos instáveis, quem pode compra dólar e ouro – ativos confiáveis e mais estáveis. O bitcoin está entrando nessa lista. “As políticas monetárias mudam o tempo todo e ter um novo tipo de dinheiro que pode ser uma reserva de valor é revolucionário”, afirma Caroline Souza, da UseCripto.
Apesar disso, o viés de especulação ainda é grande nesse mercado. E essa compra e venda de curto prazo, em busca de ganhos, só reforça uma visão negativa do mundo das criptos. Gabriel Aleixo, do ITS-Rio, acredita que a ambição exagerada contribui para afastar muitas pessoas dos criptoativos.
“Esse desejo de ficar rico do dia para noite abre espaço para golpistas. Tem pessoas que ganham e que perdem, mas o mercado tem amadurecido. Tem gente que perde e aprende. A tecnologia tem um potencial gigante, mas precisa levar a sério esse negócio de ‘não invista naquilo que você não entende’. As pessoas precisam entender como esse mercado funciona antes de colocar dinheiro nele”, afirma Aleixo.
Outro ponto que também chama a atenção das pessoas que compram criptomoedas é a ideia de que elas caminham separadas do resto do mercado. Segundo Hugo Carone, do Nubank, esse universo é novo demais para afirmar se ele acompanha, ou não, o mercado tradicional. Ele explica que existem ciclos econômicos, dos mais curtos aos mais longos, que afetam todo tipo de negócio e ativo. O ciclo mais básico é o de quatro anos, por estar atrelado ao período eleitoral.
“Olhando sob esse ponto de vista, o bitcoin não chegou nem a três ciclos básicos desde que foi lançado. Ou seja, com isso, não tem como avaliar se existe essa correlação. Além disso, a gente não teve, até agora, um estresse de mercado, como o de 2008”, explica. É em um momento de forte crise que é possível entender melhor o comportamento dos ativos.
Mas vai ter bolha?
As criptomoedas vieram para ficar não apenas pelo ativo em si, mas pelas tecnologias que elas estão colocando no mercado e que devem mudar diversos setores da economia. Contudo, não são todos os projetos de cripto que vão sobreviver no mercado.
“As criptomoedas são o futuro e não tem volta. Não tem governo que segure esse movimento, mas vai ocorrer uma limpeza, que vai varrer tudo o que não serve.”
Hugo Carone, do Nubank.
Para ele, assim como ocorreu nos anos 2000, uma hora a “bolha” das criptomoedas vai estourar. “Não tem como existirem 10 mil criptomoedas. A gente vai passar por essa limpeza para que as criptos que realmente apresentarem alguma solução fiquem. Economicamente, tudo é cíclico. Essa limpeza é inevitável”, diz.
Caroline Souza, da UseCripto, lembra ainda que ocorrem pequenas bolhas dentro desse mercado. “É normal essas bolhas, porque projetos menos sólidos colapsam de tempos em tempos”, diz.
Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), mais de 16 mil tokens já foram listados em exchanges (corretoras de criptoativos), mas existem em torno de 9 mil.
Metaverso e NFTs: universo cripto abre espaço para novas possibilidades artísticas e culturais
As tecnologias por trás das moedas digitais têm influenciado o mundo do entretenimento, da cultura e da arte também. Depois da rede do bitcoin, a Ethereum é a segunda maior blockchain do mundo. Ela iniciou um movimento de criação de jogos e mundos virtuais que têm mudado a cena do entretenimento.
O universo gamer ganhou, nos últimos três anos, cripto games, game tokens e novas realidades virtuais impulsionadas pelo metaverso. Não entendeu nada? Calma, a gente explica.
Cripto games são jogos que dão aos jogadores criptomoedas como prêmio, no sistema play-to-ear (“jogar para ganhar”, na tradução para o português). Muitos desses jogos rodam em ambientes virtuais, e alguns até exigem um investimento inicial para compra de personagens e terrenos, por exemplo.
Alguns cripto games têm sua moeda própria, chamadas de game tokens, como é o caso do Axie Infinity, um dos jogos mais populares desse universo. Outros remuneram o desempenho do jogador com bitcoin ou outra criptomoeda.
E onde entra o metaverso nessa história?
Metaverso é um ambiente virtual, onde você consegue interagir com outras pessoas usando avatares, construir seu próprio ambiente e criar uma vida inteira totalmente digital. O termo ficou popular em 2021, quando a Meta, empresa dona do Facebook e Instagram, anunciou a mudança de nome e de foco: agora, a companhia de Mark Zuckerberg entraria de vez no mercado da realidade estendida.
Apesar do termo novo, o metaverso está longe de ser uma grande novidade. Quem viveu os anos do Second Life sabe disso. O jogo estourou nos anos 2000 ao permitir criar uma vida digital em um mundo virtual. A mudança agora é que o metaverso usa tanto os recursos da realidade virtual (VR) como os da realidade aumentada (VA) para criar um ambiente imersivo e hiper-realista.
É nesse ambiente que muitos cripto games acontecem. Há jogos que têm seus próprios ambientes virtuais, como é o caso do Fortnite e Minecraft, para ficar nos mais populares.
Mas não é só de jogo que vivem os metaversos. Esse ambiente está criando novos mercados, como o mercado imobiliário virtual. Já não são raros os casos de venda de terrenos em metaverso por milhares ou mesmo milhões de dólares.
A estimativa é de que, somente em 2021, foram movimentados mais de US$ 500 milhões em vendas de terrenos no ambiente virtual. Segundo a consultoria BrandEssence Market Research, esse mercado deve crescer cerca de 31% por ano, de 2022 a 2028. Para acompanhar o crescimento desse mercado, novas profissões estão surgindo, como arquitetos e designers de metaverso.
Para Gabriel Aleixo, do ITS-Rio, as novas realidades impulsionadas pelas tecnologias das criptomoedas ainda vão passar por grandes mudanças e muitos debates ainda vão acontecer.
“No mundo real, a gente tem a escassez. Daí, a gente pega essa escassez e replica no metaverso? O que impede de termos terrenos infinitos? Por que vou limitar? Ainda vejo o paradigma de escassez e abundância sendo replicado no mundo virtual e isso pode gerar problemas. Essa tecnologia é livre e não coloca limitações e exclusões, mas essas limitações são artificialmente colocadas por empresas.”
Gabriel Aleixo, do ITS-Rio
NFTs: um novo jeito de fazer arte
Esse debate pode ser replicado também para as NFTs. Afinal, como pode um meme da internet ser vendido por milhões de dólares? Ou como pode apenas quem tem acesso a uma blockchain conseguir comprar um NFT e ter acesso a um novo mundo de arte? Enquanto essas perguntas ficam sem respostas, esse mercado segue ora crescendo ora caindo muito.
Para resumir, NFT é uma sigla para non-fungible token – ou token não-fungível. Ou seja, ele é um código de computador que serve como autenticação de um arquivo. É como se toda NFT tivesse passado no cartório para ter a firma reconhecida. Essa autenticação garante que aquele arquivo é único e original.
Assim como o metaverso, o NFT não é necessariamente novo. A primeira obra a ter um certificado NFT é “Quantum”, de Kevin McCoy, artista de Nova York (EUA). Ela se tornou um NFT em 2014, quando o termo sequer existia ainda. A imagem, em formato de octógono, foi vendida por US$ 1,4 milhão em um leilão realizado em 2021 – ano em que as artes atreladas aos tokens não fungíveis ganharam notoriedade.
Quem começou a tirar os NFTs do círculo artístico foi o empresário Elon Musk. Em março de 2021, ele anunciou no Twitter que venderia uma música sobre NFTs como um NFT. O último lance pela obra havia ultrapassado US$ 1 milhão, quando o empresário desistiu da venda.
No mesmo mês, a obra digital “Todos os Dias: Os Primeiros 5.000 Dias”, do artista norte-americano Beeple, foi vendida por US$ 69,3 milhões num leilão. Esses fatos foram o suficiente para as buscas sobre NFT saírem do zero no Google e começarem a crescer. As vendas de NFTs ultrapassaram US$ 25 bilhões em 2021, segundo a DappRadar.
Foi o jogador de futebol Neymar, contudo, que fez a curiosidade sobre os tokens não fungíveis no Brasil explodir. Em janeiro de 2022, o jogador comprou duas obras da coleção Bored Ape Yacht Club por R$ 6 milhões. Em abril de 2022, Neymar voltou a comprar NFTs e ajudou a aumentar ainda mais o interesse pelas artes digitais.
NFTs ganharam espaço no Brasil também entre artistas
No Brasil, um dos artistas mais populares desse universo é Uno de Oliveira. Foi por meio de um artigo escrito por Uno que Alberto Brant, de 25 anos, conhecido no mundo da arte como Ottis, descobriu a criptoarte, no início de 2021. Hoje, Ottis se define como arquiteto de mundos virtuais e artista de realidade estendida. No mundo da arte há 15 anos, ele já unia criatividade e mundo digital há pelo menos cinco anos. Mas as NFTs fizeram ele enxergar outras possibilidades.
“É uma revolução no mundo da arte, porque no mundo digital minha arte pode ser duplicada e postada sem os devidos créditos. Quando vi que os NFTs me permitiam provar a história da minha arte, e ter esse registro na blockchain, isso abriu o meu olho e mudou minha cabeça.”
Criptoartista Aberto Brant, conhecido como Ottis
Ottis já tinha buscado entender um pouco mais sobre bitcoin anos antes, mas foi com a criptoarte que ele passou a saber mais sobre o universo cripto.
“Mergulhei nesse assunto por cinco meses para aprender mais sobre esse ecossistema. Como cursei engenharia e ciência da computação, tenho um background técnico que me ajudou”, conta o artista.
Ottis subiu duas artes em duas blockchains diferentes e conseguiu vender uma delas logo no primeiro dia. Embora não seja um mercado simples para todos os artistas, ele conta algumas vantagens, como ter o registro de autenticidade das suas artes e ampliar o alcance do seu trabalho, uma vez que as blockchains rodam de qualquer lugar do mundo, sem intermediários.
“Já fui exibido em Nova York, Miami, República Tcheca. Eu achei que poderia demorar para ter uma exposição no exterior, mas ano passado [2021] tive cinco. Seria mais difícil fazer isso no mercado tradicional”, conta.
Além disso, o metaverso possibilitou que Ottis tivesse sua própria galeria no mundo digital. “Qualquer pessoa pode visitar, conhecer meu projeto, entender meus NFTs e conversar comigo. É a mesma coisa de gerir várias redes sociais ao mesmo tempo”, diz.
Outra vantagem, segundo Ottis, é que esse universo o ensinou muito sobre economia. E ele afirma que dá, sim, para ganhar dinheiro com NFTs no Brasil, mas o processo não é tão simples como parece. Para se destacar, é preciso criar comunidade dentro da rede – ideia que só reforça as origens da blockchain e das criptomoedas.
“A comunidade é tudo. A sua arte pode ser a mais bonita do mundo, mas se você não tiver comunidade, pessoas que conhecem o seu projeto artístico, é só um jpeg (formato de arquivos de imagens). Você precisa estar presente, se conectar com as pessoas”, diz.
Impacto: criptomoedas como ferramenta de mudança social
O universo digital de cripto também está sendo usado para mudar o mundo real. Na prática, esse universo ajuda, dentre outras coisas, na geração de renda. O caso mais conhecido é o de comunidades rurais nas Filipinas que foram afetadas pelo desemprego provocado pela pandemia, principalmente entre a população mais jovem.
Uma solução para elevar a renda, e que logo se espalhou, foi jogar Axie Infinity, que remunera os jogadores com criptomoedas e que podem ser convertidas em dinheiro local. A história rendeu até um documentário.
Segundo os especialistas, o uso do universo cripto para gerar impacto tende a crescer ainda mais. O acesso de mais pessoas aos serviços e produtos financeiros dentro de blockchains gera, na visão de Gabriel Aleixo, um grande impacto social. “A blockchain não vê score de crédito. Vejo muito potencial social para fazer essa inclusão financeira global e permitir que mais gente tenha acesso a isso”, afirma
Impacto maior esbarra no acesso à tecnologia
Para ter esse acesso, porém, outros pontos mais estruturais ainda precisam ser resolvidos. “A blockchain está disponível para todo mundo, mas não é fácil chegar lá. Tem a barreira do acesso, mas também tem a barreira do inglês. Esse pode ser um bom ponto de oportunidade para as pessoas começarem a construir soluções que possam incluir todas as pessoas nesse universo”, afirma Caroline, da UseCripto.
É por isso que a tecnologia sozinha não vai chegar para todo mundo. “Existem carências que não têm nada a ver com a tecnologia e que precisam ser sanadas, como questões de sobrevivência mesmo, de alimentação. Só depois disso, as pessoas conseguem investir o tempo delas para estudar e diminuir essa curva de aprendizado. O dia que tiver acesso a internet para todo mundo, vai ter blockchain para todo mundo, porque ela já está pronta”, afirma Aleixo.
Enquanto o acesso às possibilidades que a blockchain oferece não chega para a maior parte da população, é possível gerar impacto social com a ajuda desse universo de outras formas.
Segundo a Impacta Finance, rede que reúne soluções e tendências do universo cripto, existem mais de 100 produtos e soluções blockchain focados em resolver problemas sociais e ambientais. Mas esse número é ainda maior, considerando os projetos criados por pessoas físicas para ajudar em problemas locais.
Do digital para o mundo real
É o caso do estudante de design Gean Guilherme Santos Lopes, de 22 anos. Apaixonado por tecnologia e inovação, ele estudou design, fotografia e vídeo sozinho, por anos, e começou a trabalhar com arte e tecnologia, principalmente a 3D.
Ele descobriu o universo das criptomoedas em 2021, em plena pandemia, e viu ali a possibilidade de usar o mundo virtual para ajudar a resolver um problema bem real.
Morador da favela Santo Amaro, na zona Sul do Rio de Janeiro, ele viu sua comunidade sofrer com os efeitos da pandemia, como o aumento do desemprego e da fome.
“A gente estava fazendo financiamento coletivo para compra de alimentos porque muita gente estava sem trabalhar e foi nesse momento que comecei a entender sobre esse mundo cripto. Vi que tinha muito dinheiro envolvido e pensei como conseguir um pouco desse dinheiro para traduzir em impacto social”, conta.
Gean, então, criou o projeto Social Cripto Arte, para converter criptomoedas em cestas básicas. Para o projeto, ele desenhou uma arte, chamada Hungry (fome, em português), e subiu na blockchain Tezos, considerada uma rede de mais fácil acesso, com uma grande comunidade de brasileiros e cuja criptomoeda nativa, a tezos (XTZ) tem custo acessível, de menos de US$ 2.
O artista disponibilizou o NFT do desenho de forma gratuita, mas quem pagasse por ela, ajudaria a comprar comida para as famílias da favela Santo Amaro. Ele conseguiu em torno de R$ 7 mil só com esse primeiro desenho.
“Gastei R$ 2 para subir a obra e consegui arrecadar de muitos brasileiros e também estrangeiros. Ficou uma parada bem global e deu para enxergar o potencial disso”, afirma. A quantidade de comida comprada com o valor arrecadado foi suficiente para alimentar, pelo menos, 15 famílias de mães solo da comunidade. O projeto ganhou o hackathon do Ethereum.Rio, primeiro evento sobre a rede blockchain, realizado em março de 2022, no Rio de Janeiro.
Universo cripto pode ajudar, mas não é só isso
O prêmio de US$ 2 mil está sendo usado para desenvolver um marketplace de NFTs próprio da Social Cripto Arte. A meta é reunir tokens de vários artistas que serão convertidos em dinheiro para financiar os projetos sociais da favela onde Gean nasceu e vive.
Para o artista, o universo cripto pode ajudar a mudar a realidade social de muita gente, mas ele sabe que esse acesso é limitado para essa parcela da população.
“O universo cripto pode ajudar a resolver problemas sociais, mas a galera está usando como se fosse um cassino, um portal de grana fácil. Minha batalha é mostrar as possibilidades e puxar para gente o protagonismo dessa tecnologia, senão ela vai ser só mais uma ferramenta de manutenção da desigualdade.”
Gean Lopes, criptoartista
Um desafio, afirma o artista, é justamente materializar para a população que o virtual impacta o real.
“É uma loucura falar sobre o futuro, sobre essas tecnologias, quando a nossa realidade é muito mais escancarada. No mesmo momento que estou tentando falar sobre isso, tem gente precisando de um prato de comida, precisando de água. A galera não tem internet, computador, celular. Acordei com barulho de tiros, no susto. Estou pensando no amanhã sem saber se vou estar vivo hoje. Há um o gap de educação e precisamos explicar para o público da favela que a gente tem que se apropriar dessas tecnologias para ter uma vida melhor”, conta.
Além do desenvolvimento do marketplace de NFTs, Gean também aposta no trabalho de educação, com a realização de workshops sobre metaverso, realidades estendidas e blockchain. “Não é tudo bonitinho. No metaverso é, mas nossa realidade não”, diz o artista.
Meio ambiente: comunidade cripto pode reduzir consumo de energia?
Um dos pontos críticos do universo cripto, e muito falado nos primeiros anos do bitcoin, é a quantidade de energia necessária para minerar a criptomoeda. O processo de mineração exige uma rede de supercomputadores ligados e operando 24 horas por dia para resolver os cálculos que validam as transações feitas na blockchain e que, por consequência, geram algumas moedas digitais, como o bitcoin.
O consumo de energia é tão grande que o valor do bitcoin, nos seus primeiros anos, estava atrelado à quantidade de energia necessária para minerá-lo. Só depois passou a valer a lei da oferta e da procura.
Contudo, à medida que o valor do bitcoin aumenta, mais pessoas e empresas apostam na mineração da cripto, elevando o custo energético. Além disso, pesa o fato de o bitcoin ser uma moeda limitada. Se a busca pela criptomoeda continuar alta, mais mineradores vão querer fazer parte desse processo.
Consumo de energia para minerar bitcoin é menor do que a energia de muitos setores
Segundo o indicador de consumo de energia do bitcoin, da Universidade de Cambridge, da Inglaterra, a mineração de bitcoin consome 126,67 terawatt-horas por ano. Esse consumo é maior do que o de muitos países, como o da Ucrânia (124,5 TWh), Suíça (123,2 TWh) e até da Argentina (121,7 TWh).
Mas esse gasto energético está bem longe daquele necessário em outros tantos países, como o Brasil (6.875 terawatt-horas), e outras indústrias, como a química (1.349 TWh) e a de ferro (1.233 TWh). Até para minerar ouro é preciso mais energia: 131 terawatt-horas por ano.
“A pegada de carbono do bitcoin é muito inferior a de outros setores, como transportes, e muitos mineradores já estão buscando alternativas, como fontes de energia renováveis e regiões onde a pegada de carbono é negativa, por exemplo – quando há excedente de energia para ser usada.”
Caroline Souza, da UseCripto
Além disso, Roberta, da Hashdex, lembra que não são todas as criptomoedas que são mineradas. Somente as blockchains que têm sistemas de validação de transações por consenso da rede (proof-of-work), como a Bitcoin e a Ethereum, é que têm suas moedas digitais mineradas.
De olho nesse aspecto ambiental, tem sido comum a migração de mineradores para países e áreas que têm sobra de energia, que produzem energia mais limpa e também mais barata. Está cada vez mais comum a criação de fazendas de mineração, com o intuito de diminuir os custos e o consumo de energia. Ainda assim, o impacto ambiental desse universo é um desafio.
Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), a mineração de bitcoin consome 0,36% da eletricidade global. E essa migração pode “levar a um aumento significativo no uso doméstico de energia, especialmente em países que subsidiam os custos de energia”.
No entanto, a instituição espera que as futuras gerações da rede Ethereum, principalmente, e outras blockchains consumam muito menos energia do que a rede Bitcoin.
A nova moeda oficial? Criptomoedas interferem na política monetária dos países
A adoção das criptos tem crescido. Os números são incertos, mas já há estimativas de que mais de 110 milhões de pessoas no mundo tenham carteiras digitais com criptomoedas, que são usadas não apenas como reserva de valor.
Segundo o CoinMap, cerca de 30 mil estabelecimentos em todo mundo já aceitam criptomoedas como pagamento de produtos e serviços. Esse crescimento todo tem conquistado o público e chamado a atenção de governos e bancos centrais pelo mundo.
Até agora, El Salvador e República Centro-Africana são os dois países que já adotam o bitcoin como moeda oficial, sem deixar de imprimir suas moedas locais. No Brasil, assim como em muitos países, há um projeto para a criação de uma moeda digital oficial. Em 2020, o Banco Central criou um grupo de estudos para criar o Real Digital. A estimativa é de que o projeto piloto da moeda brasileira digital comece a rodar ainda em 2022.
“Ainda havia questões conceituais importantes a serem resolvidas. A primeira delas era sobre como oferecer uma versão digital do Real sem impor uma profunda reorganização do provimento de liquidez e crédito para a economia”, disse o Banco Central em nota.
Além disso, o órgão também estuda quais as vantagens do Real Digital em comparação ao Pix, por exemplo, e que novos serviços ele pode agregar. “Ao longo do último ano ficou claro o potencial de se oferecer uma nova plataforma, voltada a serviços inteligentes de pagamento e liquidação, construída com base no Real Digital”, afirmou o banco.
Para o desenvolvimento do Real Digital, o BC não descarta usar blockchain e outras tecnologias desenvolvidas a partir dessa rede. Ainda não há uma data específica para o lançamento oficial da moeda digital, e ele deve demorar um pouco mais para se tornar realidade.
“Caso tudo corra conforme planejado, iniciaremos no quarto trimestre [de 2022] uma fase de projetos piloto, o que, com base na experiência internacional, deve durar mais de um ano. Assim, em meados de 2024, o BC poderá ter os elementos necessários para o lançamento do Real Digital.”
Banco Central, em nota
Moedas digitais de bancos centrais não prejudicam mercado cripto
Os especialistas não acreditam que iniciativas como a do BC sejam prejudiciais para o mundo das criptomoedas. Ao contrário. Para Roberta Antunes, da Hashdex, a criação de moedas digitais oficiais ajuda o mercado de criptomoedas como um todo, porque acelera o conhecimento e o interesse sobre esse universo e incentiva a adesão.
“Se o interesse desses países fosse banir as criptomoedas, isso deveria ter sido feito lá atrás. Hoje, está grande demais. Tirando países com viés mais autoritário, a tendência é ter moedas digitais oficiais que vão competir com as criptomoedas. As pessoas vão decidir qual usar. E em diferentes contextos, elas vão usar as duas”, afirma Gabriel Aleixo, do ITS-Rio.
Uma moeda digital oficial em um ambiente de blockchain pode, inclusive, reduzir casos de corrupção e fraude, uma vez que todas as transações dentro dessa rede são rastreáveis.
“Pode melhorar a segurança e apertar para o lado de quem sonega, por exemplo. Se for bem feito, você tem todo o registro de negociação, e esse dinheiro vai ser rastreado. Sem registro, essa moeda digital não vai trazer nenhum benefício para gente”, afirma Hugo Carone, do Nubank.
Além das moedas digitais oficiais, muitos países também apostam na regulamentação do mercado de cripto. “A regulamentação vai ajudar a orientar as empresas, mas não tem como controlar totalmente esse mercado”, afirma Caroline Souza, da UseCripto.
No Brasil, a regulamentação das criptos caminha no Congresso Nacional. O projeto, que ainda pode mudar, coloca as fraudes com criptomoedas como casos de estelionato, prevê isenção tributária para a mineração verde e define que os recursos das pessoas em criptomoedas devem ficar separados dos recursos das gestoras, dentre outros pontos.
É o fim do dinheiro como o conhecemos?
Com tantas mudanças acontecendo, dá para dizer que o mundo cripto está dando fim ao dinheiro como o conhecemos? De acordo com os especialistas, não tem como saber ainda.
“Acho que sim, mas não no sentido de acabar com o dólar ou com o real, mas o fato de o bitcoin existir, incentivou a criação do Pix, por exemplo, porque ele forçou os bancos centrais e o setor bancário a criarem processos melhores. Não acredito no fim das moedas, mas nessa mudança”, explica Gabriel Aleixo.
Para Caroline Souza, o único projeto que muda o dinheiro como ele é hoje é o bitcoin. “Outros projetos não têm limites ou não são descentralizados de verdade. O único protocolo que modifica o dinheiro é o bitcoin. Outros projetos, como Ethereum, são áreas de experimentação para desenvolver outros modelos de negócio”, diz.
As barreiras que podem travar o crescimento das criptomoedas
Apesar do interesse, esse mercado ainda é muito limitado e não está nem perto de chegar para a base da população. Ainda falta muito para que o universo das criptos seja acessível em todo o mundo e existem motivos para isso. Veja quais são as principais barreiras para o avanço das criptomoedas, segundo os especialistas.
Falta de conhecimento
Como é um mercado novo, há muita desinformação e preconceito. Aquela briga de narrativas continua e muita gente atrela as criptomoedas a esquemas fraudulentos. O aumento no número de golpes contribui para essa percepção.
“As pessoas ainda não sabem o que é verdade e o que não é. Esses golpes acabam gerando ainda mais medo. A partir do momento em que as pessoas começam a entender os conceitos, esse medo começa a cair, mas é um processo mais longo”, afirma Caroline Souza, da UseCripto.
Escalabilidade
Enquanto as empresas de cartão de crédito fazem 40 mil, 50 mil transações por segundo, as redes blockchain fazem algumas dezenas. Para Gabriel Aleixo, do ITS-Rio, essa baixa eficiência ainda é uma barreira para o crescimento desse mercado.
“A demanda ainda é pequena, mas as empresas estão olhando para esse desafio. Vai existir uma forma segura de permitir que a blockchain saia de dezenas para milhões de transações por segundo? Esse é o dilema”, diz.
Regulação
Embora seja um assunto que está sendo debatido em muitos países, a falta de regulamentação é um entrave para o crescimento desse mercado, avalia Roberta Antunes, da Hashdex. Sem regulação, é mais difícil grandes investidores institucionais entrarem nesse mercado.
“O dinheiro grande acelera a adoção de criptos. Isso já melhorou. Até três anos atrás, cripto não era prioridade para o grande investidor. Agora, já tem os grandes olhando. Algumas regulações podem ajudar a acelerar essa entrada.”
Roberta Antunes, da Hashdex
Sem circuit breaker
Do ponto de vista de quem compra as criptomoedas, uma barreira é justamente a falta de barreira. Diferentemente da Bolsa, por exemplo, que tem o circuit breaker, o mercado cripto funciona sete dias por semana, 24 horas por dia, sem qualquer trava para acalmar os ânimos em momentos mais tensos.
“Se vier um estouro, tende a ser muito pior do que a gente está acostumado a ver no mercado financeiro, porque não vai ter limite para essa queda”, afirma Hugo Carone, analista do Nubank.
O que vem por aí: qual o futuro das criptomoedas?
Assim como todo mercado atrelado à tecnologia, muita coisa pode mudar no universo das criptomoedas. Mas, segundo os especialistas, esse mercado veio para ficar, e já dá para apontar alguns movimentos que vão chamar mais atenção no curto e médio prazo. Veja o que vem por aí, segundo os especialistas:
NFTs vão ganhar mais espaço
Hoje, os tokens não-fungíveis estão sendo muito atrelados ao mercado da arte, mas eles vão muito além disso, segundo Gabriel Aleixo. Eles podem ser usados para rastrear alimentos e obras, por exemplo.
Ou mesmo para certificar documentos oficiais. “Quando a gente fala em NFT, estamos falando de certificação e rastreabilidade. Então, vamos ouvir falar muito dele de uma forma mais utilitária, e não de status”, afirma.
Transações mais transparentes
A rastreabilidade permitida pelas blockchains vai ter mais destaque, segundo Aleixo. A transparência das transações realizadas nessa rede ainda vai fazer a diferença em serviços e produtos que estão crescendo agora, como empréstimos e remessas internacionais. E vão alavancar serviços de auditoria e fiscalização.
Soluções na camada 2 do bitcoin
A blockchain do bitcoin evolui por camadas. A camada 1 já está sólida e consolidada. Agora, a camada 2 está crescendo. É como se fosse uma blockchain dentro de outra blockchain. Isso permite a criação de aplicativos e programas mais inovadores, que não conseguiriam existir na camada 1.
“A blockchain do bitcoin é imutável e evolui mais lentamente, e em camadas. Na rede 2 existem novos protocolos, como o taro e a lightning network, com os quais as pessoas conseguem fazer novas construções”, diz Caroline, da UseCripto.
Web3
É um novo tipo de serviço de internet construído a partir de blockchains. Ou seja, é a internet controlada pelos usuários e desenvolvedores que usam blockchain. Dentro dessa “nova web”, tudo é descentralizado e sem intermediários, como redes sociais, jogos e serviços.
Pouco se fala sobre a web3, mas os especialistas afirmam que muita coisa pode acontecer a partir dela.
Novas formas de remuneração
Para os especialistas, o pagamento por trabalhos vai mudar cada vez mais. “Hoje, o modelo tradicional é receber por semana, mês ou por trabalho. Com as criptomoedas, é possível receber por minuto trabalhado. As inovações estão sendo descobertas ainda”, afirma Aleixo.
DeFi
Novos produtos e serviços financeiros dentro das blockchains vão crescer ainda mais. De acordo com o FMI, o DeFi cresceu de US$ 15 bilhões no fim de 2020 para cerca de US$ 110 bilhões no fim de 2021.
Blockchain utilitária
Cada vez mais, o uso das blockchains tende a ser mais utilitário. Atividades práticas, do dia a dia, devem entrar no escopo dessas redes, como venda de ingressos, armazenamento de prontuários médicos, gestão de documentos e até votação de reality shows. A Universidade Federal da Paraíba, por exemplo, já emite seus diplomas utilizando blockchain.
Esses movimentos são apenas alguns dos muitos que o universo das criptomoedas podem provocar. Ainda há muitos problemas anteriores a ele que precisam ser resolvidos para permitir que, de fato, grande parte da população tenha acesso às vantagens que essas tecnologias oferecem.
Especialistas, organizações e estudos são unânimes em dizer que o potencial de crescimento do mundo das criptos está atrelado ao uso prático dele.
O universo das criptomoedas nasceu em comunidade, cresce com o apoio dela e só vai se desenvolver ainda mais com a ajuda desse grupo. Sem as pessoas, ele é mais um mundo virtual desabitado, que replica as desigualdades e problemas do mundo real. “As criptos estão tornando o dinheiro uma coisa mais livre. O que vai vir a partir disso, a gente ainda não sabe”, diz Aleixo.