Emicida é um dos músicos mais conhecidos do Brasil e que inspira uma legião de fãs não só pela música, mas pela trajetória de vida, pela forma como se posiciona e pela maneira como faz com que as pessoas acreditem nos seus sonhos.
Estes são alguns dos motivos que nos levaram a estabelecer uma parceria com ele – e um dos resultados é a nova campanha do Nubank, que traz Emicida como protagonista.
Só que o lugar que Emicida ocupa hoje não veio por acaso: tudo na carreira do artista foi uma construção intencional.
Nascido no Tucuruvi, em 1985, e criado entre o Jardim Fontalis e a Vila Zilda, em São Paulo, foi nas batalhas de rap que Leandro Roque de Oliveira se tornou Emicida e começou a se entender como artista. Mas essa transição para a vida artística não foi tão fácil: dentro da própria família ele encontrou resistência de quem almejava para ele uma vida com uma profissão tradicional.
Contrariando as expectativas, Leandro persistiu e, com a ajuda do seu irmão, Evandro Fióti, foi acumulando conquistas que muitas pessoas ao seu redor não acreditavam que seria possível.
O menino da Vila Zilda foi longe, sem abrir mão de suas origens e nem do controle sobre a própria carreira. Emicida não só se tornou um dos maiores artistas do Brasil, como abriu as portas para uma nova geração da cena do hip hop.
Como ele fez tudo isso? A gente conta – com ajuda do próprio Emicida. Se liga nas sete vezes em que o músico conquistou o que poucos acreditavam.
1. 2008: lançamento da música “Triunfo”
O single “Triunfo”, que conta a história de um rapper que se afirma em um discurso combativo e repleto de autoestima, ganhou o Brasil.
Naquele momento, o país via que seu talento ia além do improviso nas batalhas de MCs: Emicida também era um letrista nato, capaz de refletir sobre a dura realidade do país, reivindicando direitos e exalando autoestima nos versos. Veja um trecho da música:
“Atabaques vão soar como tambores de guerra
Meu exército, marchando pelas rua de terra
Pra tirar medalha dos canalha sem aura boa
E triunfo memo pa’ nóis é o sorriso da coroa”.
“Atabaques vão soar como tambores de guerra”. A primeira frase no trecho da letra acima não foi incluída por acaso: este é o título do último capítulo do livro Capitães de Areia. Na obra, o autor Jorge Amado fala sobre a vida dura dos meninos de rua de Salvador.
O sucesso de “Triunfo” fez com que o músico fosse considerado um fenômeno do hip hop e o alçou a uma premiação nacional, o Vídeo Music Brasil (VMB), de 2009. O clipe da música concorreu como melhor vídeo.
2. 2009: criação do Laboratório Fantasma
A empresa fundada por Emicida e, seu irmão, Evandro Fióti, nasceu em 2009, ainda como um coletivo batizado como Na Humilde Crew. Na época composto por DJ Nyack, DJ Zala, DJ Mr. Brown, Mc Rashid, Projota e pelos irmãos Emicida e Fióti, o coletivo tinha como principal propósito vender arte urbana.
Lá no início, a produção era bem artesanal e a venda era feita de mão em mão, com camisetas feitas em casa mesmo. Depois vieram as mixtapes, os videoclipes, eventos, turnês, e-commerce, até que outros artistas conhecidos no cenário nacional chegaram junto, como Caetano Veloso, Tom Zé, Tulipa Ruiz, Rael, Chico César, entre outros.
Como marca de moda, a LAB, como é conhecida, já desfilou na São Paulo Fashion Week, com um casting composto por 90% de modelos negros. A missão da marca no mais importante evento de moda da América Latina foi trazer para esse universo um discurso mais inclusivo, democrático e, claro, de representatividade. Como produtora, gravadora e selo, lançou para o estrelato nomes importantes da música urbana.
Percorrendo um passo de cada vez, eles foram construindo, juntos, este grande sonho coletivo. Quem diria?
Segundo Emicida, eles diriam.
“Eu me entendo como uma pessoa muito coletiva, eu sou o encontro de muitos esforços, muitos sonhos e expectativas. O que eu faço com o meu trabalho e a minha construção é trazer as pessoas e as vitórias de forma coletiva também, acho que só dessa forma ela é relevante. A Laboratório Fantasma tem em sua missão mostrar que a música é capaz de transformar os lugares por onde ela passa e essa é a nossa vontade.”
3. 2009: 10 mil cópias vendidas da mixtape caseira
O que você diria há 13 anos se um artista resolvesse produzir um disco 100% caseiro e vendê-lo de mão em mão por R$ 2 para se tornar conhecido? Parece pouco provável que a ideia fosse adiante, não é? Mas foi exatamente isso que Emicida fez – e deu certo.
O título da mixtape “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe” soa como um presságio do que viria depois. Lançada já pelo selo da Laboratório Fantasma, o disco contém 25 canções.
Com um trabalho de formiguinha, distribuiu seu som pelas ruas e eventos de São Paulo, e todas as 10 mil cópias foram vendidas. Um feito para poucos e que tornou o nome de Emicida conhecido no cenário alternativo do rap.
4. 2011: apresentação no Coachella
Se você acompanha música, possivelmente já ouviu falar do festival Coachella, realizado no estado da Califórnia, nos EUA. É lá que acontece a consagração dos maiores artistas pop do mundo.
Mas você sabia que Emicida se apresentou por lá uma década antes? Em 2011, ele foi o primeiro rapper brasileiro a se apresentar no Coachella, como lembra o próprio Emicida: “Nóis era o primeiro e único, até hoje não tem outro cantor de rap do Brasil que tocou no Coachella”.
5. 2016: indicação ao Grammy Latino
Grandes nomes da música brasileira sonham em, um dia, levar um Grammy para casa. O prêmio é considerado, por muitos, o ápice da carreira de qualquer músico. E essa realização Emicida pode dizer que já concluiu.
Em 2016, ele concorreu na categoria melhor álbum de música urbana, disputando com nomes como J Balvin, El B, Farruko e Arianna Puello. Não levou o prêmio pra casa dessa vez, mas a indicação já foi uma honra.
Porém, em 2020, o Grammy finalmente veio, como Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa, com AmarElo.
Se, quando começou, no final dos anos 1970, o rap nacional ainda tinha um estigma de não ser música de verdade, em 2016 Emicida provou que não só é música, como é boa o suficiente para estar na maior premiação da América Latina – e levar o prêmio, em 2020.
“Eu falei que via vocês no pódio. A vida sempre vence”.
6. 2018: lançamento do livro “Amoras”
É fato que a maior fatia do público de Emicida é formada por adultos. Mas isso não o impediu de falar, também, com as crianças. Inspirado pela paternidade das duas filhas, o artista se lançou como escritor infantil, em 2018.
Tudo começou com a música “Amoras’, do álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…”.
Os versos da canção dizem: ”Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também”.
Sobre se aventurar na literatura infantil, o rapper diz:
“Não podemos esperar até a adolescência para falar de racismo e autoestima para as crianças negras. Com a rapidez do mundo digital, os traumas também chegam mais cedo”.
O livro fala sobre a importância de nos reconhecermos e nos orgulharmos de quem somos. Se, antes, a fama de marrento acompanhava Emicida, hoje a doçura das suas palavras e a sensibilidade para falar de amor, respeito e representatividade o consagraram como um dos maiores e mais combativos intelectuais do Brasil.
7. 2020: AmarElo – É Tudo pra Ontem
O documentário musical que mescla os bastidores do show histórico no Theatro Municipal de São Paulo, com animações, entrevistas e cenas de bastidores, é uma grande celebração do legado da cultura negra brasileira dos últimos 100 anos.
Com o projeto audiovisual, Emicida foi indicado ao Emmy Internacional, em 2021, como Melhor Programação Artística de 2020.
Compositor, rapper, músico, empreendedor, escritor, intelectual, artista audiovisual, apresentador, pensador contemporâneo… não há uma palavra sozinha que defina o tamanho do artista que Emicida é e o legado que ele representa. E não para por aí: ainda há muito para ser produzido pela mente criativa de Leandro Roque.
Qual será o próximo marco que ele ainda vai alcançar?
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