Quem já fez reforma sabe: por menor que ela seja, alguma dor de cabeça vai causar. Agora imagine construir uma casa. Pode parecer assustador, mas levantar um imóvel do zero é um dos caminhos para realizar o sonho da casa própria, que está na lista de 87% dos brasileiros, segundo pesquisa do QuintoAndar com o Datafolha.
Os motivos para essa escolha variam. Para a administradora de empresas Vanessa Santaella, de 36 anos, de São Paulo, e o seu marido, Rafael Dias Santaella, o fator financeiro pesou, mas não foi só isso.
” Escolhemos construir para (a casa) ficar com a nossa cara, e para ir pagando sem pressa, como dá”, conta Vanessa.
Para ela e muitos brasileiros, encarar uma construção para ter um imóvel do jeito que sonhou vale a pena, não importa os perrengues. Entenda, abaixo, quanto custa construir uma casa e o que é preciso considerar para diminuir as surpresas no meio do caminho.
Neste artigo, você vai saber
- Construir é mais barato do que comprar?
- O que afeta os preços da construção?
- Quanto custa construir uma casa?
- O que você precisa considerar para construir uma casa?
- Como se planejar para construir uma casa?
- Dá para colocar os perrengues da construção no orçamento?
- Como juntar dinheiro para construir uma casa?
Para começar: construir é mais barato do que comprar?
Essa resposta depende do cenário econômico do país, principalmente de dois indicadores: inflação e taxa de juros.
A inflação é o aumento médio dos preços de produtos e serviços do país, e é medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para calcular a inflação, o IBGE avalia os preços de nove grupos diferentes, entre eles o de Habitação. Mas o Instituto também tem um índice de inflação específico da construção: o Índice Nacional da Construção Civil, chamado de Sinapi, que mede a evolução dos preços dos materiais e da mão de obra. E esses dois itens têm subido muito acima da inflação oficial (o IPCA).
Para se ter uma ideia, em 2022, até julho, os preços da construção aumentaram 9,11% –quase o dobro da inflação média do país, que foi de 4,77% no mesmo período.
Em outras palavras: construir uma casa está mais caro em 2022. Mas comprar uma também.
Como assim?
Quando a inflação sobe, o Banco Central eleva a taxa básica de juros, a Selic, para tentar frear o aumento dos preços.
Isso acontece porque a Selic mais alta eleva o custo do dinheiro. Assim, as pessoas e empresas buscam menos crédito e compram menos a prazo. Um consumo menor força os preços a caírem.
O que seria esse aumento do custo do dinheiro? São os juros de produtos que você conhece, como do seu cartão de crédito, de empréstimos e financiamentos, como o imobiliário. Ou seja, com juros maiores fica mais caro financiar um imóvel.
Emprego no setor de construção também afeta preços
Ainda há outros fatores que pesam nessa conta, segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção no Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV (Fundação Getulio Vargas). Um deles é o desemprego.
Se o mercado de construção está aquecido, por exemplo, a busca por mão de obra aumenta e, por consequência, ela fica mais cara. Esse encarecimento não cai na conta só das grandes incorporadoras, mas na sua também. Além de ficar mais difícil achar profissionais disponíveis, quando você acha, precisa pagar mais por ele.
E é justamente isso que está acontecendo. Apesar de existirem milhões de brasileiros desempregados, a indústria da construção está contratando, segundo dados do IBGE. É que embora tenha ficado mais caro financiar um imóvel, a população de média e alta renda não parou de comprar. Por isso, as empresas não pararam de construir.
“Uma coisa importante é que os prédios que estão sendo levantados hoje até já foram vendidos, são de ciclos de negócios passados. O emprego na construção está crescendo, a atividade está em ritmo forte em boa parte do país, mas não no mesmo ritmo. Você tem cidades com ritmo mais acelerado que outras”, afirma Ana Maria Castelo.
Mas dá para dizer que construir é mais barato nesse cenário?
“Ficou mais difícil construir, mas pode ser mais barato, porque se você comprar seu imóvel de uma incorporadora, por exemplo, ela tem a margem de lucro dela. Por outro lado, a incorporadora compra material em condições mais vantajosas do que você. Então, precisa ser avaliado, mas é possível que seja mais barato”, explica .
Em outras palavras, dá sim para dizer que, em geral, é mais barato construir do que comprar.
Quanto custa construir uma casa?
Construir uma casa tem ficado cada vez mais caro. De acordo com o IBGE, o custo nacional da construção, por metro quadrado, foi de R$ 1.652,27 em julho de 2022, sendo R$ 987,88 relativos aos materiais e R$ 664,39 à mão de obra. Esse valor é 14% maior do que o de um ano atrás.
Para calcular o custo médio, o IBGE considera apenas a construção. Não entram na conta os gastos com terreno, despesas com projetos em geral, licenças, seguros, instalações provisórias e equipamentos em geral.
Na prática, para construir uma casa de 80 metros quadrados, por exemplo, se gasta, em média, R$ 132 mil. Mas esse valor já foi bem menor. Veja, abaixo, a evolução desse custo médio nos últimos dez anos:
Mês de julho de: | Custo médio nacional por metro quadrado |
---|---|
2022 | R$ 1.652,27 |
2021 | R$ 1.448,78 |
2020 | R$ 1.181,41 |
2019 | R$ 1.143,65 |
2018 | R$ 1.095,09 |
2017 | R$ 1.052,75 |
2016 | R$ 1.009,76 |
2015 | R$ 948,46 |
2014 | R$ 896,88 |
2013 | R$ 835,95 |
Quanto custa construir em regiões diferentes?
Dependendo da região, o custo para construir pode ficar maior ou menor do que a média. Veja os preços em julho de 2022.
Região | Custo médio por metro quadrado |
---|---|
Nordeste | R$ 1.546,52 |
Norte | R$ 1.622,08 |
Brasil | R$ 1.652,27 |
Centro-Oeste | R$ 1.658,26 |
Sul | R$ 1.717,01 |
Sudeste | R$ 1.793,94 |
Considerando os estados, o Rio de Janeiro é o lugar onde é mais caro construir: são R$ 1.818,89 por metro quadrado, em média. Esse valor cai para R$ 1.446,76 em Sergipe –estado onde é mais barato levantar um imóvel.
Na prática, você gasta, em média, R$ 145 mil para construir uma casa de 80 metros quadrados no Rio de Janeiro, e R$ 115 mil no Sergipe –uma diferença de 26%.
O que você precisa considerar para construir uma casa?
Os valores são apenas uma média e podem ser ainda maiores, ou até menores, dependendo de alguns fatores. Entenda, abaixo, quais são os principais:
Terreno
- Infraestrutura: esse terreno está dentro de um condomínio fechado, com asfalto, segurança, parque etc? Quanto mais serviços disponíveis ao redor, mais caro é o terreno.
- Tamanho: quanto maior, mais caro.
- Localização: quanto mais perto de grandes centros, mais caro.
- Condições: terrenos com muito entulho geram custos de limpeza.
Projeto da Casa
- Tamanho: quanto maior a área construída, mais cara fica a construção.
- Acabamento: cada detalhe conta. Aquela pia de mármore, piso de madeira de primeira linha…todas as escolhas que você fizer para o acabamento podem aumentar ou diminuir o custo final.
Mão de obra
- Quando um empreiteiro cuida de tudo: existe a opção de contratar um empreiteiro que coordene tudo: levante o que é necessário para a obra, contrate quem precisa, compre os materiais e o cliente paga a conta. Mas toda conveniência tem um custo. Acompanhe a obra de perto e exija, pelo menos, três orçamentos de cada fornecedor antes de autorizar qualquer compra ou contratação.
- Empreiteiro pede o que precisa: neste caso, a empresa ou profissional envia tudo o que precisa para levantar sua casa e o cliente vai atrás de fornecedores, pede os orçamentos e compra sozinho. O cuidado aqui é para não se perder em meio a tantos pedidos.Organize tudo em uma pasta ou planilha e, se não entender o que está sendo pedido, pergunte ao empreiteiro antes de comprar.
Material
- Materiais podem ter preços muito diferentes dependendo da loja. Pesquise em, pelo menos, três lugares antes de comprar e peça indicações.
Prazo
- Quem quiser sua casa pronta rápido terá menos tempo para pesquisar e vai precisar contratar mais profissionais para dar conta do prazo. Alinhe o cronograma com o seu bolso.
Como se planejar para construir uma casa?
O primeiro passo é ter uma reserva e criar um orçamento focado nesse objetivo, segundo Ângela Tosatto, educadora financeira e analista do Nubank. “Planejar os gastos para os próximos cinco anos (é importante), mesmo que a pessoa já tenha alguma reserva de emergência, pois construir envolve muitos aspectos que estão fora do nosso controle”, afirma.
Foi o que fez Vanessa Santaella e seu marido. Eles decidiram construir uma casa em 2020, no meio da pandemia. Grávida, Vanessa queria sair do aluguel e ter mais espaço para a família.
Eles juntaram dinheiro por oito anos e pagaram um terreno de 184 metros quadrados à vista, que já tinha uma casa, que eles derrubaram para começar a construir do zero.
O casal comprou o terreno em São Paulo, na Vila Formosa, um bairro relativamente afastado do centro, mas que tem as características que eles buscavam.
O segundo passo foi contratar um empreiteiro para tocar a obra, mas eles decidiram acompanhar passo a passo: o casal vai atrás dos fornecedores, dos orçamentos e faz as compras de materiais.
Desde o início, o plano era construir dois imóveis no terreno –um para a família e outro para vender. “A gente espera um retorno de 200% do investimento”, conta Vanessa. A planta é do tipo espelho –ou seja, as duas casas são iguais e estão sendo levantadas ao mesmo tempo para diminuir o custo final da obra.
Estratégia é ir por fases
A cada etapa do projeto, o casal para, reavalia, junta dinheiro, e continua a obra –no ritmo que o orçamento deles permitia.
“Estamos na na fase do acabamento, que é a mais cara. A gente parou agora, por falta de dinheiro, e estamos montando uma reserva para ir para a próxima etapa. Fizemos isso ao longo de toda obra para equilibrar os pratinhos”, conta Vanessa.
Para Ângela Tosatto, o planejamento para construir uma casa deve, sim, ser feito por fases.
“Aqui não vale a pena misturar as coisas. Por exemplo: a pessoa está na fase de encontrar o terreno e surge uma promoção muito boa de material de construção. Neste caso, não é recomendado a compra ainda. Se a oportunidade está imperdível, só compre se for material que não tenha data de validade e que você consiga armazenar adequadamente”, alerta.
Quer separar seu orçamento em fases? Veja as principais etapas da construção:
- Terreno
- Projeto
- Infraestrutura: fundação, lajes, pilares, impermeabilização, alvenaria e cobertura
- Instalações hidráulicas e elétricas
- Acabamento
Como colocar os perrengues da construção no orçamento?
Não tem jeito. Quando o assunto é obra, surpresas aparecem no meio do caminho. Foram elas que fizeram o casal Santaella estourar o orçamento. Lá em 2020, quando a construção começou, eles definiram um limite para levantar as duas casas. Dois anos depois, a conta já gastaram 30% a mais, e o projeto ainda não terminou: deve ficar pronto no final de 2022.
“Teve muito material que a gente achou que seria barato e foi caro, como o piso, por exemplo. E mesmo as coisas mais simples, somadas, fizeram diferença no orçamento”, conta Vanessa.
No caso dela, um amigo da família, que é construtor, explicou o que precisava de fato para a obra ou não. Mas nem todo mundo tem essa ajuda. Por isso, Ângela recomenda criar uma reserva de emergência da construção –se possível, ela precisa ficar separada da reserva de emergência pessoal.
Assista abaixo como começar sua reserva de emergência:
Conversa com quem já construiu uma casa
Outra dica é conversar com pessoas que já passaram por essa experiência para mapear o que pode dar errado e já prever alternativas de solução. A sugestão da educadora financeira é ter o máximo de controle do orçamento do dia a dia.
“Não dá para deixar de viver, mas o foco nunca deve ser perdido. Equilíbrio é tudo na vida, então talvez aquela viagem de férias mais cara pode ser trocada por uma mais barata. Ou em vez de trocar de carro por um mais caro, trocar por um que tenha um preço que não comprometa o objetivo principal, que é a casa”, afirma Ângela.
Em outras palavras, dependendo do seu orçamento e da sua realidade financeira, até dá para realizar outras metas enquanto você constrói sua casa. Contudo, quanto maior o foco em um único objetivo, como a obra, com mais tranquilidade financeira você pode realizá-lo.
Tudo isso vai depender daquilo que é prioridade para você. Por isso, antes de começar a construir, liste todos os seus objetivos, defina os prazos para realizá-los e o grau de importância de cada um deles. A casa ficou em primeiro lugar nessa lista? Então, trate essa obra com prioridade também no seu orçamento e deixe os outros objetivos em segundo plano.
Como juntar dinheiro para construir uma casa?
Se construir uma casa é o seu objetivo principal, siga o passo a passo indicado pela educadora financeira Ângela Tosatto para organizar o seu orçamento e juntar dinheiro para essa meta.
As dicas são para quem tem alguma margem no orçamento – o que não é a realidade da maioria das famílias.
Organize o orçamento
- Mapeie os custos globais da obra, de acordo com as fases de construção (terreno, projeto, infraestrutura, instalações hidráulicas e elétricas e acabamento).
- Faça um raio-x das suas contas: você tem dívidas? Melhor quitá-las antes de começar. Tem uma reserva de emergência pessoal? Não? Veja aqui como criar uma.
- Enxugue os gastos que não são importantes para você: aquele streaming nunca acessado, aquela assinatura nunca usada…tudo o que não for importante, corte.
- Defina um prazo: quando você quer começar a construir? Essa informação é valiosa para definir onde será guardado o dinheiro para a obra.
Comece a juntar dinheiro para a obra
- Crie um “boleto” da sua obra: depois de enxugar os gastos, separe, todo mês, um valor para a construção da sua casa. Ele não precisa ser o mesmo todos os meses, mas o que for possível. Em um mês tente R$ 100, por exemplo, no outro R$ 500…tudo depende da sua realidade financeira. Mas imagine esse valor como um boleto mesmo, para criar o hábito de pagá-lo, assim como paga a sua conta da internet.
- Onde investir seu “boleto” da obra? O importante é não deixar esse dinheiro parado. Se a ideia é construir daqui a três anos, por exemplo, escolha um investimento que possa te garantir um rendimento até lá. Como esse objetivo é de médio prazo e é sua prioridade,a dica é escolher entre alguma opção da renda fixa, como CDBs, títulos do Tesouro Direto ou Letras de Crédito, por exemplo. Evite colocar esse dinheiro em investimentos muito arriscados, como em ações. No vídeo abaixo, entenda mais sobre renda fixa.
- Crie uma reserva de emergência da obra: se for possível, crie uma reserva destinada aos perrengues da obra. Ela deve ser diferente daquele “boleto” da obra. Enquanto esse “boleto” é para você comprar o terreno e bancar os primeiros custos da construção, a reserva será usada apenas quando aquela surpresa no meio do caminho aparecer.
- Onde investir a reserva da obra? Toda reserva de emergência precisa ficar em algum investimento que possa ser resgatado na hora (ou seja, que tenha alta liquidez), e que tenha um rendimento que acompanhe, pelo menos, a taxa Selic.
Aumente o “bolo” do dinheiro para a obra
- Mapeie dinheiro “escondido”: você pode usar recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar terreno em seu nome ou construir em terreno próprio. Benefícios como o Pis/Pasep, por exemplo, podem aumentar o dinheiro destinado para a construção. Verifique se não há outros que podem entrar nesta conta.
- Considere os “extras” do ano: décimo terceiro, bônus, participação de lucro. Se for possível e fizer sentido dentro dos seus objetivos e orçamento, considere esse dinheiro extra no seu planejamento.
E quando a obra começar?
A dica é ir com calma. Uma das vantagens de construir uma casa é fazer no ritmo que o seu orçamento permite. Construa por fases e, quando o dinheiro acabar, pare a obra e junte recursos para a próxima etapa.
“Não faça tudo de uma vez se não tiver recursos suficientes, como por exemplo, mobiliar a casa inteira antes de se mudar”, afirma Ângela Tosatto.
Mesmo após o fim da obra, Vanessa vai esperar para escolher os móveis. Além do fôlego financeiro, ela também quer dar um respiro emocional. Por causa dos perrengues da construção, ela teve de pegar um empréstimo e apertar as contas mais do que o previsto. Isso tudo gerou ansiedade e noites mal-dormidas.
Mas, apesar disso, ela não se arrepende do projeto. “A casa ainda não está finalizada, mas já está perfeita, do jeito que a gente queria, no lugar que a gente queria. Não nos arrependemos, realizamos um sonho”, conta.
*Ilustração de Lucas Sales
Leia também
Como a Selic afeta o financiamento imobiliário?
Quanto custa ter energia solar em casa?
Gastos escondidos em casa: 4 dicas para identificar e lidar com eles
Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história aqui.