Você se lembra como foi fazer alguma coisa pela primeira vez? Dependendo do que era, o grau de dificuldade foi mais alto ou mais baixo, mas é bem provável que você não tenha tirado de letra logo de cara.
Afinal, aprender leva tempo, esforço e muita, mas muita persistência. Essa mesma lógica é válida quando o assunto é dinheiro: dá preguiça de começar a organizar as finanças e cuidar melhor desse bem tão escasso.
Essa sensação de precisar vencer uma montanha acontece com todo mundo e, muitas vezes, te faz nem querer começar. Hoje, 56% dos brasileiros não sabem onde gastam o próprio dinheiro e nem tem uma visão clara das próprias finanças, segundo uma pesquisa do grupo Globo.
A seguir, você vai entender por que isso acontece. Talvez você até conheça alguns dos motivos, mas essa é a chance de mergulhar no que a ciência descobriu sobre esse assunto – e quais são os melhores caminhos para não desistir.
1. Desejo de compra
Um dos primeiros motivos diz respeito ao desejo. É como se esse sentimento te distraísse de forma inconsciente. Às vezes, o que você realmente quer se embaralha com o que você foi direcionado a querer – seja pela publicidade, pela moda ou por influência de amigos, por exemplo.
Quando essa mistura de vontades chega sem aviso, você acaba cedendo a uma comprinha fora do orçamento e empurrando a fatura do cartão para debaixo do tapete. Esse comportamento é normal e todo mundo já fez isso alguma vez, por mais organizado que seja.
O problema não está em ceder aos nossos impulsos de vez em quando, até porque organização financeira não tem a ver com cortar tudo que dá prazer. O problema é quando isso vira a regra e passa a comprometer o orçamento.
Um jeito de fugir dessa armadilha é tentar escutar essas vontades de forma consciente, como explica a professora doutora Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica.
“De um lado, a gente já fica com uma espécie de má vontade porque o dinheiro é finito e a gente gostaria que não fosse, principalmente porque os nossos desejos são infinitos. Do ponto de vista da psicanálise, entendemos os desejos como sendo inconscientes. A gente pode saber o que está a fim naquela hora, mas não sabe exatamente o que deseja. Com isso, a gente fica muito vulnerável, porque as pressões para consumir podem empurrar em diferentes direções.”
A professora explica que essa sensação vai te acompanhar por toda a vida. Não tem muito como resolver isso porque faz parte da constituição da mente de cada um. Mas também vale lembrar que o desejo, por si só, não é um vilão. Na real, ele é um baita combustível.
Por exemplo: se não fosse a sua vontade e o seu desejo em construir uma vida melhor pra você e pras pessoas que você ama, por qual motivo você levantaria cedo todo dia pra ir pro trabalho? Muita gente não saberia responder a essa pergunta. O segredo está nos sinais: procure sempre perceber se tem alguma coisa te distraindo do seu objetivo, que é ter uma vida financeira mais organizada.
2. Assunto tabu
Não é sexo, religião nem futebol: o maior tabu que existe é o dinheiro mesmo. Menos da metade das famílias brasileiras fala sobre dinheiro, por exemplo. Esse dado é de uma pesquisa do SPC e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
É por isso que o segundo motivo que faz as pessoas terem dificuldade em começar a cuidar do próprio dinheiro é justamente o tabu criado em torno dele. Seja entre pessoas com muito ou pouco dinheiro, seja no Brasil ou em Luxemburgo, o país mais rico do mundo, não importa: não costuma ser confortável tocar nesse assunto, nem mesmo dentro de casa.
Outro ponto relevante está associado às emoções: 6 em cada 10 pessoas associa dinheiro a sensações negativas, segundo o Instituto Mindminers. De acordo com a professora Vera Rita, o dinheiro pode carregar muitos significados, seja poder, conforto, estabilidade ou segurança.
Inclusive, todos esses aspectos emocionais geralmente são usados para validar ou não uma pessoa – e é aí que mora o problema. “Alguns podem pensar que, se uma pessoa tem bastante dinheiro, isso significa que ela é bacana. Se ela não tem dinheiro, isso significa que ela é péssima. Mas a gente sabe que isso não é verdade”, explica ela.
3. Falta de dinheiro
Organizar a vida financeira é difícil porque muita gente não tem nem o básico pra começar. A renda per capita de quase um terço da população brasileira não chega aos R$ 500 por mês, segundo um estudo da FGV com base em dados do IBGE.
Em 2022, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU. Isso significa que mais de 60 milhões de brasileiros enfrentam algum tipo de insegurança alimentar. Ou seja, são pessoas que não têm dinheiro pra botar comida na mesa todos os dias.
Existem estudos que mapeiam o comportamento de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza. Se, por um lado, essas pessoas se tornam extremamente calculadoras e planejadoras, por outro também leva a um nível alto de esgotamento mental. A doutora Vera dá um exemplo:
“Você aborda uma pessoa de classe média saindo do supermercado. Entre os itens, tem lá uma pasta de dente. Você pergunta: ‘quanto você pagou nessa pasta de dente?’. Ela provavelmente vai ficar meio na dúvida. Se você abordar uma pessoa de renda muito baixa saindo do supermercado, e que também comprou a pasta de dente, ela sabe até os centavos. Isso acontece porque ela tem esse modo de sobrevivência ativado o tempo inteiro, que é: ‘eu preciso comprar pasta de dente, mas eu tenho 30 reais para fazer todas as compras dessa semana’. Então, a pasta de dente vai ter que ser a mais barata possível ou a com o melhor custo benefício”.
Em outras palavras: essa habilidade de ter um hiperfoco para gastar o dinheiro da melhor forma possível vai também representar um pedágio. A doutora explica que, no fim do dia, isso acaba esgotando a mente da pessoa.
Além de todos esses dilemas, a inflação enxuga o salário de pessoas pobres bem mais do que de pessoas ricas – e a busca por um bom custo-benefício leva cada vez mais brasileiros a consumir itens de segunda linha ou produtos que “parecem mas não são”, como tem acontecido com alimentos derivados do leite.
4. Imediatismo
Um quarto ponto que afasta muita gente da organização financeira é o imediatismo. Lembra do desejo, que é algo que faz parte da vida o tempo todo? É quase a mesma coisa aqui com os comportamentos imediatos.
A pressa só existe porque, durante MILÊNIOS, os humanos foram treinados a viver com os recursos que tinham no presente. Esse comportamento foi exigido porque a única coisa que importava era tentar sobreviver um dia de cada vez.
A professora Vera menciona um estudo publicado na revista científica da Universidade de Oxford que mostra que a área do cérebro mobilizada quando a gente pensa em guardar dinheiro para nós mesmos, ou seja, para o nosso eu do futuro, é a mesma área do cérebro mobilizada quando a gente pensa em dar dinheiro pra um estranho na rua.
Pensar adiante é tão difícil que desmotiva – e é por isso que muita gente prefere nem começar.
Como dar o primeiro passo?
Agora que você já tem uma noção do que te impede de começar, existem algumas dicas para virar esse jogo. Veja, abaixo:
1. Não existe fórmula mágica
O primeiro conselho é pensar que não existe fórmula mágica e nem receita de bolo para sair da estaca zero. E, mais importante ainda, entender que não existe vergonha nenhuma em não ter a vida financeira organizada. O importante é dar os primeiros passos.
2. Organização é hábito
Organizar o dinheiro precisa virar um hábito que faz parte da sua rotina – e um novo hábito só nasce como intenção antes daquilo virar automático. Precisa de dedicação e esforço antes de algo ser tão natural quanto escovar os dentes.
3. Automatize os processos
Automatizar o processo de guardar dinheiro pode ser uma alternativa para começar. Na sua instituição financeira, você pode escolher uma aplicação mensal e fazer com que o dinheiro vá para essa reserva automaticamente. Ele nem vai passar pela sua mão – caiu na conta e já foi pra caixinha de dinheiro guardado. Pode ser qualquer valor, um real que seja já ajuda a começar a criar esse hábito.
4. Olhe para suas dívidas sem medo, nem vergonha
Para quem tem dívidas, o mais importante é entendê-las. Saber exatamente quanto você está devendo pode causar medo, por parecer uma montanha que você nunca vai conseguir escalar. Mas fugir desse conhecimento não fará as dívidas irem embora, apenas se multiplicarem.
Conhecer os valores, tempo de atraso e juros é a melhor forma de começar a pagar seus débitos com a melhor estratégia. Se liga nas outras dicas que a professora Vera tem pra te dar:
“Saiba tudo o que está devendo, e se for possível, troque as dívidas mais altas por um empréstimo com juros mais baixos. Evite usar cartão de crédito, em geral, e saia de casa com o dinheiro contado. Compare preços e não se enrole com as questões de emprestar o nome ou emprestar o cartão para outras pessoas. Uma coisa que eu brinco é que a família que guarda dinheiro unida, permanece unida. Ou, a família que aperta o cinto unida, permanece unida. A ideia é que isso possa ser feito com a participação de todos”
5. Crie um método de anotação e controle
É fundamental não deixar o dinheiro te surpreender negativamente. Você pode fazer uma anotação de entradas e saídas num caderno ou na planilha. Só não deixe de ter esse controle para não ser pego de surpresa quando as contas chegarem, tá bom?
6. Conte sempre com a educação financeira
Por fim, mas não menos importante: conte com a boa e velha educação financeira. Você pode usar a internet para garimpar material interessante que vai te ajudar a trilhar o caminho que funciona pra você. O lado bom é que existe muito conteúdo disponível hoje em dia, como o que você encontra aqui, no blog do Nubank.
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Como sair das dívidas? Veja como priorizar as contas quando você não consegue pagar tudo
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Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história.
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