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Amizade e dinheiro: como...

Amizade e dinheiro: como abrir conversas sinceras sobre finanças com os seus amigos?

Se você acredita que amizade e dinheiro não combinam, talvez seja a hora de ressignificar essa relação. Entenda por que é importante falar sobre o tema com os amigos e como incluir a educação financeira nas conversas de bar.



Ilustração de uma foto rasgada ao meio, sobre uma mesa com moedas, boletos e recibos de pagamento. A foto rasgada é de dois casais de amigos brindando em um jantar.

Com que frequência você deixa de fazer alguma coisa com os seus amigos por causa de dinheiro? E o quão honesto você pode ser com eles em relação a isso? Se amizade e dinheiro são dois assuntos que nunca se cruzam na sua vida ou na vida dos seus pares, talvez seja a hora de recalcular a rota e quebrar esse tabu. 

Sim, abrir a discussão é difícil mesmo. E a ideia de que falar sobre o tema estremece a amizade é tão popular que ganhou até ditado – o famoso “amigos, amigos, negócios à parte”, que muitas vezes é relacionado aos riscos de misturar amizade e dinheiro. O que pouca gente percebe, no entanto, é que o silêncio é o grande vilão. 

Amizade e dinheiro: o problema é não falar

Se você é o tipo de amigo que faz de tudo para não expor sua vida financeira entre os seus pares, saiba que não está só: mais da metade das pessoas foge do assunto propositalmente, segundo uma pesquisa feita em 2019 pela eMoney Advisor, uma empresa de softwares de planejamento financeiro. 

Os dados foram coletados com um grupo de norte-americanos acima de 18 anos e 57% deles admitiram que evitam falar de dinheiro em rodas de amigos. Inclusive, a mera menção ao assunto faz 43% deles se sentirem estressados, envergonhados e desconfortáveis. Salário é o tópico mais polêmico, seguido por gastos com cartões, economias para aposentadoria, investimentos e empréstimo estudantil.

Uma outra pesquisa, de 2023, feita pela empresa Credit Karma com um jovens das gerações Z e millennials, apresentou dados ainda mais complexos. As novas gerações estão realmente perdendo amigos por causa de dinheiro. Mais de um terço dos respondentes da pesquisa afirmou ter um amigo que os leva a gastar mais, gerando um ciclo de endividamento do qual é difícil sair.

Entre os entrevistados da geração Z, 88% deles se endividaram após passarem tempo com um amigo “gastador” e, em muitos casos, a alternativa foi acabar com a amizade para proteger a vida financeira. Já 26% dos millennials dizem manter o salário e as dívidas em segredo para evitar julgamentos. 

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Mas por que isso está acontecendo? Segundo a pesquisa, as principais razões pelas quais os entrevistados gastam o dinheiro que não têm incluem: não querer se sentir excluído; querer acompanhar o estilo de vida do amigo; querer agradar o amigo; ou simplesmente não saber como dizer “não” ao amigo.

Na percepção de Mônica Costa, educadora financeira especialista em finanças para mulheres negras e fundadora do G&P Finanças, toda escolha financeira carrega um fundo emocional. “Aquilo que o dinheiro adquire nos faz sentir mais poderosos. Então, se você quer ser mais admirado, precisa comprar. Para ser, você precisa consumir. Logo, parte do nosso consumo está mais relacionada ao que os outros acham que a gente precisa ter do que àquilo que a gente realmente quer ter”.

Quem é você no seu grupo de amigos?

“Eu sou, geralmente, a pessoa que pede conselhos”, diz Leila Evelyn, de 28 anos, profissional de Relações Públicas. Para ela, falar sobre dinheiro não é um problema, nem mesmo quando há a falta dele. “Converso abertamente sobre o tema. Às vezes, noto uma resistência por parte de alguns amigos, mas de modo geral não temos problema em falar sobre dificuldades financeiras ou abrir espaço para dúvidas e inseguranças”. 

Os conselhos geralmente giram em torno de dicas para organizar a vida financeira. “Não consigo me organizar da forma como gostaria pois os custos de morar sozinha em São Paulo são muito altos. E também acho que tenho me permitido viver algumas coisas, especialmente depois da pandemia. Eu não vou para todos os rolês, mas se quero ir a um restaurante ou exposição, me permito aproveitar”.

Ilustração: Clara Candelot

Outro ponto que joga a favor da paulistana é o fato de estar cercada de amigos que vivem a mesma realidade financeira. “São raras as ocasiões em que um rolê é mais caro do que eu conseguiria pagar. Meus amigos estão no mesmo ciclo social que eu e ganhamos praticamente a mesma coisa”, diz. 

Já o psicólogo Fillipe de Queiroz, de 31 anos, se considera um amigo organizado. “E algumas pessoas sabem disso, e já aconteceu de me pedirem empréstimo, coisas assim. Quando isso acontece, eu empresto um valor que não vai me fazer falta porque eu sei que dinheiro é uma questão importante para as pessoas, e não quero que ele seja motivo de briga ou que tenha uma consequência na relação”.

O baiano também não vê problemas em dizer não para as coisas quando não pode. “Eu não vou pela empolgação e é tranquilo ter essas conversas. Às vezes, eu tenho dinheiro guardado e quero fazer uma viagem, mas os amigos não podem. Ou então, se eles querem fazer uma coisa mais espontânea e gastar muito dinheiro de uma vez, eu não vou. Eu quero usar o meu dinheiro de forma significativa para mim. Por vir de uma família pobre, isso me faz pensar o dinheiro com mais responsabilidade”, afirma.

Amizade e dinheiro: como abrir conversas sobre esse assunto com amigos?

Seja transparente

Se você se sente pressionado a gastar muito dinheiro para acompanhar o estilo de vida dos seus amigos, é importante abrir uma conversa honesta com eles sobre sua situação financeira. Fale quais são suas limitações quando se trata de gastar em coisas como jantar fora, fazer uma viagem ou ir à uma balada. 

Ser sincero sobre o que está acontecendo na sua vida financeira vai te ajudar a definir expectativas, limitar suas chances de gastar demais quando estiver com esse amigo ou até, quem sabe, te motivar a buscar novas amizades.

“Se você chegar à conclusão de que essas pessoas só estão do seu lado porque você está bancando certas situações, talvez seja a hora de repensar essas relações”, reflete a educadora financeira Mônica Costa.

Agora, se você está do outro lado da mesa, é importante respeitar os limites do seu amigo e estar aberto para ouvir suas opiniões, preocupações e também fazer concessões, se necessário.

Busque autoconhecimento

O que autoconhecimento tem a ver com dinheiro? Para Mônica Costa, tudo: “Se você tenta se adequar ao padrão de vida de outras pessoas, você pode se endividar e isso vai te trazer, inclusive, questões emocionais. Você pode dormir mal, ficar estressado, se frustrar e talvez nunca alcançar o padrão dessas pessoas. Por isso, o autoconhecimento é uma ferramenta que te ajuda a parar e se perguntar ‘eu preciso mesmo disso?'”.

Ressignifique o papel do dinheiro

O papo sobre dinheiro sempre foi mal interpretado. Ele é visto como algo sujo e, logo, as pessoas que falam de dinheiro são “vilãs”, “egoístas”, “mercenárias” – e ninguém quer ser visto dessa forma, É disso que o tabu se alimenta. “Revisitar essas crenças, tirar isso do campo das verdades irrefutáveis e trazer a discussão para a sua realidade é um caminho para ressignificar o papel do dinheiro na sua vida”, diz Mônica Costa.

Equilíbrio é tudo

Você não precisa abrir mão das coisas que gosta, e nem deixar de viver momentos felizes entre os amigos. O importante é tentar equilibrar as coisas e aprender a dizer não ao que pode comprometer a sua saúde financeira. “Não é que eu não me permita ser espontâneo com dinheiro, mas é que para mim só vale a pena se eu realmente tiver desejo de fazer alguma coisa. Eu tento não me deixar levar só pela empolgação do momento”, diz Fillipe de Queiroz. 

Planeje junto

Planejar viagens ou passeios em conjunto pode ser uma oportunidade para trabalhar em objetivos em comum. Estabeleça metas financeiras compartilhadas com os seus amigos e planeje estratégias para que todos alcancem juntos. E se esse planejamento envolve a divisão de despesas, estabeleça acordos claros para não se frustrar ou se enrolar no futuro. E lembre-se: o combinado não sai caro. 

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