Introdução

Apresentação do perfil das mulheres microempreendedoras.

ILUSTRADORA: @ccandelot

Clara Candelot, Rio de Janeiro/RJ

Como é o seu processo criativo?

”Sou designer gráfica de formação, mas me encontrei profissionalmente na ilustração. Sempre gostei de criar, já passei pelo bordado, pela tapeçaria, pela pintura, e todos eles são formas diferentes de ilustrar. Estou sempre em busca de novos jeitos de ilustrar e de me comunicar com o mundo.”

Você sente ou sentiu desafios sendo mulher empreendedora criativa?

”Não é incomum passar pela situação de eu ser a única mulher na equipe e sempre me causa incômodo observar que as mulheres têm barreiras imensas para vencer no mundo profissional. Acredito que uma das maiores dificuldades da artista mulher é ser ouvida com o mesmo grau de atenção e respeito que artistas homens, independente do contexto de trabalho.”

Como você faz a sua organização financeira?

”Como profissional autônoma que não tem renda fixa, manter a organização financeira não é tarefa fácil, mas é muito necessária. Aprendi a ficar de olho no fluxo de caixa para não tomar sustos ou surpresas indesejadas. Comecei a separar as minhas finanças pessoais das contas da minha empresa já faz um ano e sinto que ficou bem mais fácil ter organização e controle financeiro.”

Você encontrou barreiras para seguir como empreendedora na pandemia?

”Na verdade, só sou empreendedora hoje por causa da pandemia. Fui demitida logo no início e comecei a divulgar meu trabalho nas redes sociais. Foi incrível ver como, em pouco tempo, surgiram oportunidades para vários trabalhos legais – e me pagando bem mais do que eu recebia quando trabalhava fixo. No início era difícil me organizar sozinha e dar conta de tudo, mas aos poucos fui aprendendo e conhecendo meus limites.”

Em 2019, cerca de um em cada três brasileiros que empreendiam eram mulheres. Este foi o cenário apresentado pelo IBGE na PNAD Contínua de 2019, antes da pandemia do coronavírus.

Quem são elas?

O dado, analisado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a produção deste material, revela mais. Desse total de empreendedores, 17% são mulheres de cor branca e amarela, e as outras 18% são pretas, pardas e indígenas, quase meio a meio.

O perfil dessas mulheres carrega algumas diferenças em comparação aos empreendedores homens. De maneira geral, as administradoras de negócios mulheres são um pouco mais jovens do que eles: 43,7% delas têm até 40 anos, enquanto 38,4% deles estão nessa mesma faixa etária. As mulheres também têm maior escolaridade: 61,7% delas têm ensino superior ou médio completo, enquanto esse percentual é de 44,5% entre os homens – e boa parte delas continua estudando.

Setores de atuação

Enquanto o foco dos negócios liderados por mulheres está principalmente nos setores de educação, saúde, serviços sociais, indústria geral, alojamento e alimentação, o masculino se concentra no agropecuário, na construção e no transporte.

Quase metade dos negócios comandados por mulheres (44,7%) fica na região Sudeste do país, de acordo com pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), realizada em 2020. Outros 20,3% estão no Nordeste, 17,7% no Sul, 10,3% no Norte e 7% no Centro-Oeste.

Dimensão das empresas

Outro fato importante observado pelo BID sobre a PNAD Contínua: os negócios comandados pelas mulheres costumam ser menores. Geralmente essas micro empresas não empregam outras pessoas, mas, quando têm funcionários, 83% do quadro é composto por outras mulheres, o que gera um ciclo virtuoso de emprego entre elas.

Sobre os empreendimentos

Esses negócios também são recentes. Segundo o IRME, 68% existem há menos de 3 anos, e metade deles têm faturamento médio mensal de até R$ 2.500. Se compararmos com os negócios comandados por homens, o rendimento das empresas delas é 24% inferior ao das empresas deles. Ou seja: para cada R$ 1.000 que a empresa administrada por um homem fatura, a de uma mulher vai faturar R$ 760, uma diferença relevante.

Diante desse cenário já desafiador, a pandemia do coronavírus trouxe novos obstáculos. Segundo a PNAD, antes de 2020 as mulheres já dedicavam menos tempo do que os homens ao seu empreendimento, por acumularem com frequência mais de um emprego e as tarefas domésticas.

Com a crise sanitária, isso se intensificou: 7 em cada 10 mulheres sentiram aumento nos cuidados com o lar, o que refletiu em seus negócios, segundo a pesquisa "As Empreendedoras e o Coronavírus" realizada em abril de 2020 pelo IRME em parceria com o Instituto Locomotiva com mais de mil mulheres que possuem negócio próprio ou se consideram empreendedoras.

Para ilustrar melhor como elas foram afetadas pela pandemia do coronavírus, analisamos o comportamento de consumo de clientes do Nubank que são MEIs e produzimos as análises que você lê a seguir.