Quem são as pessoas por trás dos MEIs
O ano de 2020 terminou com pouco mais de 11,3 milhões de microempreendedores individuais, de acordo com dados da Receita Federal referentes a dezembro. Destes, 3,8 milhões têm conta no Nubank (33,6% do total). Nesta seção, mostraremos o perfil deles como pessoa física.
Para começar, observamos o crescimento de microempreendedores individuais entre os clientes Nubank e a relação disso com o desemprego no Brasil. O Gráfico 1 mostra o índice de quando os clientes Nubank se tornaram MEIs e a taxa de desemprego calculada pelo IBGE. É possível notar que há uma tendência de crescimento na criação de novos MEIs (que são clientes Nubank), uma vez que, mês após mês – apesar de algumas exceções –, a quantidade de novos microempreendedores individuais vem aumentando.
Outra característica notável é o salto no fluxo de clientes que se tornaram MEIs entre abril e julho de 2020. Uma possível explicação vem do agravamento da crise provocada pela Covid-19 e do desemprego. A necessidade de outra fonte de renda e de ter acesso a benefícios previdenciários pode ter levado muitas pessoas a se tornarem MEIs.
Gráfico 1
Fonte: Taxa de desemprego calculada pelo IBGE
O Gráfico 2 mostra o fluxo mensal de MEIs, que são usuários do Nubank, conforme a autodeclaração de gênero1. Um fato curioso é que a proporção de novos MEIs que se identificam com o gênero feminino na base do Nubank vem caindo ao longo dos anos. Em 2013, por exemplo, 54% dos novos participantes se autodeclararam do gênero feminino. Já em 2020 (dado até setembro), essa proporção chegou a 46%.
Vale ressaltar que os impactos da crise econômica provocada pela pandemia se concentram, principalmente, nos jovens, nas mulheres e nos menos escolarizados, segundo dados do IBGE sobre o mercado de trabalho. Ao serem mais afetadas, muitas mulheres abandonam até o empreendedorismo – e isso pode agravar ainda mais a diferença de penetração entre homens e mulheres MEIs.
1. Clientes Nubank que autodeclararam informação de gênero
Fonte: Dados referentes aos clientes Nubank.
2. Dados da média dos anos de Jan a Dez, exceto em 2020, com dados até Set.
Adultos entre 25 e 40 anos de idade são a faixa etária com maior representatividade entre os microempreendedores individuais clientes Nubank, com uma média de 54% dos entrantes ao longo do tempo. O Gráfico 3 mostra, a cada mês, a proporção por faixa etária de clientes Nubank que começaram a empreender nessa modalidade.
O gráfico também mostra um aumento dos mais jovens entre os MEIs – movimento que se intensifica em momentos de crise. No final de 2014, 21% dos novos microempreendedores individuais tinham menos de 25 anos. Já em dezembro de 2015, esse número saltou para 23%. Algo parecido aconteceu em 2020: antes da pandemia, o fluxo dos mais jovens era de 27%, mas chegou a 30% em agosto do mesmo ano. Uma hipótese para esse fenômeno é a necessidade, entre os jovens, de encontrar uma fonte alternativa de renda após perder um emprego formal ou não conseguir entrar para o mercado de trabalho – dado que, em tempos de incerteza, os empregadores optam por contratar pessoas com experiência, algo que muitos jovens ainda não possuem.
Gráfico 3
Nota: Dados referentes aos clientes Nubank
Já o Gráfico 4 contém a estrutura populacional dividida por faixa etária e sexo. As barras inferiores correspondem à população de 20 a 40 anos de idade e as superiores à população com mais de 40 anos. Além dos homens serem a maioria entre os MEIs clientes do Nubank, eles também estão em maior número na maioria das faixas etárias (com exceção dos acima de 45 anos). Outro fato interessante é que tanto entre homens quanto entre mulheres, a maioria dos microempreendedores têm entre 25 e 40 anos de idade.
Por outro lado, as faixas etárias com menor representatividade no grupo estão nos extremos da pirâmide: as pessoas com menos de 20 anos de idade representam somente 1% dos MEIs e as acima de 60 anos, cerca de 2%. Vale notar que, para ser MEI, é necessário ter mais de 18 anos ou, no caso de pessoas emancipadas, no mínimo 16.
Gráfico 4
Nota: Total em setembro de 2020
Onde estão
Desde 2010, a região Sudeste tem a maior representatividade entre os MEIs que são clientes Nubank, totalizando 52% da amostra até agosto de 2020 – como mostra o Gráfico 5. Logo em seguida, com a segunda maior parcela, vem a região Nordeste, totalizando 20% dos MEIs até o período mais recente da amostra.
Outra característica é a queda de representatividade dos microempreendedores individuais do Nordeste. Em 2010, esse grupo representava 28% do total, mas em agosto de 2020 esse índice era de 19,7%. Por outro lado, as outras regiões possuem uma representatividade relativamente constante ao longo do tempo. No período mais recente da amostra, as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul representavam 4%, 8,7% e 15,1% dos MEIs que são usuários Nubank, respectivamente.
3. Dados dos meses de Dezembro, exceto em 2020, com dados de Agosto.
Quanto aos estados com maior proporção de microempreendedores individuais clientes Nubank, São Paulo é o com maior representatividade – 26.5% do total, como mostra o Gráfico 6. Em segundo e terceiro lugar vêm Rio de Janeiro e Minas Gerais, respectivamente, com aproximadamente 11,6 e 11,5% dos MEIs clientes Nubank cada um.
Já no Nordeste, a segunda região com maior número de clientes Nubank microempreendedores individuais, os estados com maior expressão são Bahia (5,8%), Ceará (3,7%) e Pernambuco (3,4%). Nas regiões Sul e Centro-Oeste, os estados com maior proporção são Paraná (5,9%) e Goiás (3,8%), respectivamente.
Gráfico 6
Nota: Total em setembro de 2020
O que fazem
Outra característica importante sobre os MEIs é a atividade que desempenham. Os Gráficos 7 e 8 mostram a proporção de novos MEIs que são clientes do Nubank a cada mês distribuídos entre diferentes atividades4, 5. A de comércio varejista é a mais popular. No Gráfico 7, é possível identificar que, no início de 2011, 30% dos novos MEIs estavam enquadrados nessa categoria. No entanto, a taxa de novos entrantes nesse setor caiu até o início da pandemia, em março de 2020 – chegando a representar apenas 19% dos novos microempreendedores individuais naquele mês.
Com o avanço da pandemia, entretanto, esse movimento se inverteu. Um dos setores que mais cresceu durante este período foi justamente o de comércio varejista: o percentual de novos entrantes subiu 8 pontos percentuais nos três primeiros meses de isolamento social, entre março e junho de 2020.
4. As atividades foram classificadas de acordo com as respectivas CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas. CNAE é um instrumento de classificação nacional das atividades econômicas e é utilizado pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país e o próprio IBGE
5. Para fins deste estudo é considerada apenas a CNAE primária - a atividade econômica principal do MEI. Vale lembrar que os MEIs, assim como as empresas maiores, podem ter múltiplas CNAEs secundárias, inclusive de outros setores.
Outro setor bem representativo é o de alimentação, registrando em torno de 10% dos novos entrantes ao longo do tempo. Com a pandemia, esse movimento se intensificou – as MEIs de alimentação chegaram a representar 17% dos novos entrantes em maio de 2020. Uma hipótese para esse aumento é a maior demanda por serviços de alimentação em casa. Por causa das medidas de isolamento físico para conter a propagação do novo coronavírus, muitas pessoas trocaram os restaurantes pelo delivery – e microempreendedores conseguiram aproveitar esse movimento, tanto quem já trabalhava com alimentos quanto os novos entrantes.
Por outro lado, uma categoria que foi impactada negativamente pela pandemia foi a de serviços domésticos – MEIs que fornecem serviço de diarista, por exemplo. Em janeiro de 2015, quando a atividade foi enquadrada entre os microempreendedores individuais, houve um salto de 0,1% para quase 1% dos novos entrantes, mostrando a importância desse registro para esta categoria de trabalhadores. Após o início da quarentena, entretanto, houve uma queda de novos MEIs neste setor: saiu de 1,5% em fevereiro para 0,8% em setembro de 2020.
Outra categoria comprometida pela Covid-19 foi a de armazenamento e transportes 6 que, desde dezembro de 2019, passou a incluir os motoristas de aplicativos. Em março de 2020, 4% dos novos MEIs estavam registrados nessa categoria. Com as medidas de isolamento e a queda significativa dessas atividades, contudo, esse número caiu para apenas 2% em setembro do mesmo ano.
Interessante notar que os Gráficos 7 e 8 mostram como setores diferentes tiveram reações distintas durante a crise provocada pelo novo coronavírus. Além disso, também fica nítido como a facilidade de formalização de atividades econômicas realizadas pelos autônomos é importante para a sociedade brasileira.
6. O nome original na classificação CNAE é armazenamento e atividades auxiliares dos transportes.
As finanças do MEI
Para entender de forma mais profunda quem são os microempreendedores individuais brasileiros, também é importante olhar para a forma como eles se relacionam com suas finanças. O Gráfico 9, por exemplo, mostra o percentual de clientes Nubank que são MEIs e utilizam a função Guardar Dinheiro. Com essa funcionalidade, quem tem uma conta do Nubank pode separar o dinheiro que está guardando daquele que usa no dia a dia.
A partir de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do coronavírus e diversas cidades do Brasil adotaram medidas de isolamento, houve um crescimento da utilização da função Guardar Dinheiro pelos MEIs no Nubank – saltou de 15,7% para 19,1%, em julho. Coincidentemente, o auxílio emergencial começou a ser pago em abril de 2020 – e um dos públicos-alvo desta medida era, justamente, o de microempreendedores individuais.
Com o passar dos meses e a flexibilização das medidas para conter o avanço da Covid-19, entretanto, isso mudou. Em novembro de 2020, apenas 14,3% dos MEIs com uma conta PF ativa no Nubank utilizavam a função Guardar Dinheiro – o menor percentual já registrado para esse grupo desde que o produto foi criado, em maio de 2019.
Muitos fatores podem explicar essa mudança no comportamento dos microempreendedores individuais. Um deles é o valor menor da extensão do auxílio emergencial, de R$300 – metade do valor original. Outro possível fator é a própria reabertura global da economia, que diminui a incerteza entre os MEIs e a preocupação em poupar.
Entre os clientes que são MEI e utilizam a função Guardar Dinheiro, os que se identificam com o gênero feminino são maioria em praticamente todos os meses, como mostra o Gráfico 10 – as únicas exceções são maio, junho e julho de 2019, os dois primeiros meses da funcionalidade no ar.
Além disso, os MEIs com menos de 3,5 anos de atuação usam mais a função Guardar Dinheiro do que aqueles com mais tempo de existência, como mostra o Gráfico 11. Como esses empreendedores estão em fase de consolidação e podem enfrentar maior volatilidade nas receitas, se comparados a outros já consolidados, pode existir uma necessidade maior de ter uma "reserva financeira" com liquidez para momentos de maior incerteza.
Um fato curioso é que tanto a quantidade quanto os valores de depósitos realizados na função Guardar Dinheiro aumentaram durante a pandemia. Analisando o Gráfico 12, que mostra o volume médio de depósitos nessa função e o índice do valor médio depositado, é possível notar que a quantidade média de depósitos saltou de 2,3 por cliente, em fevereiro de 2020, para 3 depósitos em novembro – a maior já registrada em toda a série histórica. O valor médio dos depósitos também cresceu cerca de 6% entre fevereiro e novembro, apesar de ter apresentado variações no período.
Gráfico 12
Nota: Índice referente aos valores médios mensais dos depósitos de clientes Nubank na função Guardar Dinheiro pelos MEIs
Com mais MEIs depositando na função Guardar Dinheiro, também aumentou o número de retiradas dessa função – também chamados, aqui, de saques. O percentual de clientes MEIs retirando algum valor saltou de 64,4% em abril de 2020 para 72,5% em setembro, como mostra o Gráfico 13. Diferentemente da caderneta de poupança, a conta do Nubank tem rendimento e liquidez diária, o que facilita a movimentação do dinheiro a qualquer momento – quando não está aplicado na função Resgate Planejado, que tem uma data de resgate definida e rendimentos maiores.
Além do número de pessoas sacando da função Guardar Dinheiro, a quantidade média de saques por cliente também aumentou durante a quarentena, como mostra o Gráfico 14 – após uma queda histórica em março, quando os casos de coronavírus começaram a aumentar no Brasil. Esse crescimento atingiu seu pico em novembro de 2020, com 5 saques em média por cliente MEI. E o valor médio sacado também cresceu 3,6% entre fevereiro e novembro de 2020.
Gráfico 14
Nota: Índice referente aos valores médios mensais dos depósitos de clientes Nubank na função Guardar Dinheiro pelos MEIs
Gastos do MEI no cartão de crédito
Para compreender ainda mais o comportamento financeiro dos microempreendedores individuais brasileiros, também analisamos os gastos no cartão de crédito dos clientes Nubank que fazem parte desta categoria. É importante ressaltar que os dados são referentes ao cartão da pessoa física, uma vez que o Nubank não oferece cartão de crédito empresarial.
Observando o Gráfico 15 que compara a distribuição dos gastos no cartão de crédito nos 6 meses anteriores à abertura do MEI com os 6 meses posteriores, notamos que os gastos totais com serviços aumentam de 13% para 15,3% e os gastos com casa passam de 8,7% para 9,6% quando o cliente Nubank se torna microempreendedor individual. Já para outras categorias ocorre justamente o contrário: os gastos no cartão de crédito diminuem quando o cliente se torna MEI, em comparação com seus gastos nos 6 meses antes de se tornar microempreendedor individual. Os gastos com transporte, por exemplo, caíram de 12,4% para 11,4%, e com vestuário saiu de 10,7% para 9,6%.
Gráfico 15
Nota: Dados referentes aos clientes Nubank
Outro detalhe que analisamos foi o comportamento dos MEIs em relação a empréstimos. O Gráfico 16 mostra o índice do valor médio dos empréstimos concedidos para clientes que são MEIs (como pessoa física, já que o Nubank não possui a modalidade de empréstimo para pessoa jurídica) e clientes que não são microempreendedores individuais.
Como os MEIs pedem empréstimo por meio de sua conta pessoa física, seu comportamento é muito similar ao dos não MEIs ao longo do tempo. A maior diferença está no valor médio concedido para os microempreendedores individuais, que são consistentemente maiores.
Também é interessante notar que o valor médio emprestado sofreu uma queda de 35% entre março e junho de 2020, atingindo uma nova alta de 63% em julho. Um dos fatores que podem explicar este movimento é a incerteza das instituições financeiras quanto à inadimplência dos clientes em um momento de crise.
Gráfico 16
Nota: Índice referente aos valores médios dos empréstimos concedidos mensalmente às pessoas físicas