Não é só multidões que a cantora norte-americana Beyoncé está arrastando pelo mundo. Os shows da diva pop podem estar por trás do aumento acima do esperado da inflação oficial da Suécia, onde a turnê global Renaissance começou, em maio.
Como assim? Como um show pode influenciar na inflação de um país?
Segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), o país europeu registrou uma inflação de 9,7% no quinto mês do ano, na comparação com o mesmo período de 2022. E Beyoncé pode ter relação com essa variação. Abaixo, entenda o que aconteceu e se o “efeito Beyoncé” pode chegar a outros países.
Para começar, o que é a inflação mesmo?
A inflação é o aumento generalizado ou contínuo dos preços de uma série de categorias de bens e serviços consumidos pela população.
Na economia, o conjunto dessas categorias é chamado de “cesta de produtos”. Ela inclui itens de diversos setores, como alimentação, habitação, transportes e saúde, para ficar em alguns exemplos.
Dentro de cada categoria, alguns produtos podem aumentar de preço, diminuir ou ficar igual. Dependendo da categoria e do quanto ela impacta o bolso das famílias, o peso no cálculo da inflação também pode ser maior ou menor. No fim, a inflação é uma média.
Mas o que a Beyoncé tem a ver com isso?
Existem diversos motivos que fazem a inflação flutuar, mas dois são os mais comuns:
- Aumento ou queda nos custos de produção: quando fica muito caro ou mais barato produzir alguma coisa, essa variação costuma ser repassada para o consumidor. Por exemplo: se o trigo fica mais caro no mercado internacional, os custos de se produzir um pãozinho ficam maiores e esse mesmo pãozinho pode ficar mais caro. Ou se há uma redução nos preços da energia ou dos combustíveis, qualquer produto que precise dessas matérias-primas de forma direta ou indireta para ser produzido pode ficar mais barato para o consumidor.
- Aumento na demanda: se o número de pessoas querendo um determinado item aumenta muito rápido, fica difícil garantir o fornecimento para todos no mesmo ritmo dessa procura. Nesse caso, dizemos que a demanda ficou maior do que a oferta. E quando isso acontece, o preço tende a subir. E é neste ponto que entraria Beyoncé.
Ela iniciou uma turnê de 57 shows em 40 cidades dos EUA e da Europa em 2023, depois de sete anos sem grandes apresentações. Todo esse tempo, além do sucesso do último álbum da cantora, gerou nos fãs o que em economia se chama de “demanda reprimida” – que é quando há uma grande busca ou vontade por um produto cuja oferta é limitada.
Quando Beyoncé anunciou a turnê “Renaissance”, a demanda era muito grande para uma quantidade de shows limitada.
Afinal, Beyoncé afetou a inflação na Suécia?
A capital da Suécia, Estocolmo, foi a primeira cidade a receber a turnê de Beyoncé. Foram dois shows para mais de 46 mil pessoas. A cidade, de pouco mais de 2,5 milhões de habitantes, ficou lotada de turistas, segundo apurou a BBC News.
Hotéis, restaurantes e toda a cadeia de turismo da cidade foi afetada. Ou seja, a turnê movimentou o setor de prestação de serviços. E quando há uma busca grande por algo cuja oferta é limitada, os preços sobem. Segundo a BBC News, um estudo feito pelo banco Danske Bank apontou que a cantora contribuiu para a alta dos preços em maio.
Em maio, os itens de Recreação e Cultura, e Restaurantes e Acomodações ficaram na lista dos que mais contribuíram para a inflação do país, de acordo com a Statistics Sweden, instituto que mede a inflação oficial da Suécia. No mês, esses itens aumentaram 1,6% e 3,3%, respectivamente, e foram os que tiveram o maior peso na inflação de maio.
Mas isso não significa que a cantora, sozinha, foi a responsável por esse aumento. Oficialmente, inclusive, a Statistics Sweden não credita à cantora essa alta. Assim como ocorre no Brasil, existem outras categorias de produtos e serviços que pesam na variação de preços. Vestuário e custos de habitação, por exemplo, também contribuíram para a inflação da Suécia em maio: esses grupos tiveram alta de 1,5% e 3,9% nos preços, respectivamente.
Além disso, a Suécia, que tem um histórico de inflação anual na casa dos 2%, já estava vendo o índice ficar alto desde o início de 2022 – principalmente por conta dos efeitos da invasão da Rússia na Ucrânia.
Em janeiro daquele ano, a inflação foi de 3,9% e foi subindo mês a mês até chegar em 12% em fevereiro de 2023, quando começou a cair. Em relação a abril (10,5%), inclusive, a variação de preços na Suécia caiu em maio.
Efeito Beyoncé pode afetar a inflação de outros países que fazem parte da turnê?
É difícil prever essa resposta, mas parte dela depende de alguns fatores:
- Peso da cidade na inflação: se uma cidade que faz parte da turnê tem peso na economia desse país, tudo o que acontece nela pode afetar os indicadores econômicos nacionais. Por exemplo: no Brasil, a cidade de São Paulo é a cidade com maior peso econômico. O que acontece nela pode ter efeito nacional. Por outro lado, o Brasil é um país muito maior que a Suécia, logo, a comparação não é direta.
- Metodologia de cálculo da inflação: em linhas gerais, os países consideram uma cesta de produtos e serviços na hora de calcular a inflação, mas o peso dessas categorias pode variar, dependendo da cultura de consumo do lugar.
- Histórico da inflação: países com inflação mais estável, sem grandes variações, podem sentir mais o impacto de eventos pontuais, como grandes shows, festivais e torneios de esporte.
- Localização da cidade do show: se a cidade da turnê permitir o fácil acesso de pessoas de outras cidades e até de outros países, como foi o caso da Suécia, é possível que a demanda por serviços de turismo seja maior do que a oferta, o que provoca um aumento nos preços.
Em outras palavras, a turnê da cantora Beyoncé pode movimentar, sim, a economia das cidades por onde vai passar, mas é difícil afirmar que ela, sozinha, é capaz de interferir na inflação de todo um país.
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