Estagflação é um termo que vira e mexe aparece no noticiário. Aqui e ali começam a aparecer discussões sobre esse Frankenstein da economia que nada mais é do que a junção dos termos estagnação econômica com inflação. Ou seja: a economia está parada, mas os preços sobem.
Mas se a inflação é gerada pelo aumento da demanda, como é possível que uma economia estagnada experimente um aumento dos preços?
Sim, acontece, em situações bem específicas. Para entender melhor os riscos de um cenário de estagflação e por que ela é tão ruim para o país, conversamos com o Dr. Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).
O que é mesmo inflação?
A inflação é basicamente a subida de preços de produtos, bens e serviços. Inflação é parte normal de qualquer economia mas, quando desregulada, é um problema para a população, que sente direto no bolso porque aumenta o custo de vida.
Geralmente ela acontece quando a demanda está maior do que a oferta, seja porque o poder de compra da população está alto ou a produção de um item está baixa. No início da década de 1990, por exemplo, o Brasil passou por um período de hiperinflação, em que os valores dos produtos e serviços mudavam diariamente.
E o que é estagnação econômica?
A estagnação econômica é outro conceito importante. Quando um país está indo bem, a tendência é que se registre crescimento das atividades. Mais gente comprando, mais empresas e comércios vendendo, aumento do número de empregos e um cenário geral positivo.
No caso da economia não crescer em relação ao ano anterior, e não haver um aumento dessa atividade, é considerado um período de estagnação econômica. Não é a mesma coisa que retração, que é quando as atividades reduzem em relação ao período anterior. Estagnação, como o próprio nome já diz, é a permanência, como uma partida que termina em zero a zero.
Quando ocorre a estagflação?
Se os dois fatores acontecem ao mesmo tempo (inflação e estagnação), temos a chamada estagflação. É o que aconteceu em 2017 no nosso vizinho, a Argentina: enquanto o PIB retraiu 2%, a inflação acumulada do ano ficou na casa dos 25% (cinco vezes mais do que é esperado para o Brasil em 2023).
Você já deve ter se acostumado com o sobe e desce do dólar, não é? Nos últimos anos, porém, houve muito mais subidas do que descidas. Segundo Paulo Feldmann, se a variação do câmbio é muito grande e rápida, passa a valer mais a pena enviar os produtos para o exterior e ganhar em dólar, desabastecendo o consumo local.
Isso gera uma alta dos preços sem que o consumo da população esteja aquecido – pelo contrário, já que a taxa de desemprego fica alta nesse cenário. Some aí instabilidades internas que afugentam investidores estrangeiros, pressiona ainda mais o dólar, e está dada a receita para a estagflação acontecer em um jogo que ninguém sai ganhando.
Por que a estagflação é perigosa?
Em poucas palavras, a estagflação é perigosa porque cria um efeito cascata: a economia de um país não cresce, portanto o desemprego aumenta, portanto as pessoas têm menos dinheiro para gastar, o que deixa de movimentar a economia…
O professor alerta que, em épocas de dificuldade, as pessoas adotam medidas que agravam ainda mais a situação. “Elas reduzem o consumo e só compram o que é absolutamente essencial, como alimentação e remédios. Deixam de trocar de carro, comprar um novo computador, televisão, roupa, e o consumo cai muito nesse cenário de estagflação”, avalia.
Outro exemplo é o aluguel. “O dono do imóvel tem medo de que venha a inflação, e aumenta já antecipadamente o preço”, diz Feldmann, e alerta: “É perigoso porque isso pode gerar uma bola de neve. Você não resolve o problema do emprego e, ao mesmo tempo, tem uma inflação alta”.
Com menos pessoas comprando, a margem de lucro dos empregadores fica pressionada e eles tendem a demitir.
Quando essa massa de pessoas desempregadas encontra a inflação, o resultado é crítico. Segundo o professor, a inflação é um fantasma na vida dos brasileiros, e as pessoas têm muito medo pelas memórias passadas. Por isso, agem de forma impulsiva, tentando se proteger comprando produtos essenciais em grandes quantidades para estocar – o que eleva ainda mais a inflação.
Dá para se planejar em um cenário de estagflação?
“Essa é uma pergunta dificílima de se responder”, avisa Feldmann. Ele explica que, em um cenário de alta inflação, os países costumam criar medidas para proteger a desvalorização do dinheiro, como em épocas de hiperinflação. A ideia é evitar uma corrida pelo dólar, o que aumentaria o preço da moeda.
Além de comprar moeda estrangeira, outra forma de se proteger da estagflação seria comprar imóveis. Só tem um problema: essas alternativas funcionam para pessoas com sobra no orçamento e economias – longe do cenário da maior parte da população global.
Citando a Espanha, que experimentou uma taxa altíssima de desemprego recentemente, o professor da USP aponta que não existe milagre para evitar a estagflação. O país precisa gerar emprego, garantir estabilidade e ter a confiança dos agentes da economia: investidores, empresários e a população.
Leia mais:
Variação do dólar: entenda por que ele sobe e desce tanto
Frio, Efeito Borboleta e seu bolso: qual é a relação entre clima e economia?
Curva de Phillips, inflação e os impactos no seu dinheiro
Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história.