Como consumidor, você se preocupa com a atuação das marcas que compra? Se elas têm algum plano para reduzir seu impacto no meio ambiente, se ajudam causas sociais ou mesmo se são bons lugares para seus funcionários trabalharem?
A crescente atenção dos clientes com o chamado ESG tem cobrado ações concretas de empresas. E, assim, o tema vem ganhando cada vez mais força no mercado financeiro. Especialistas já deixaram bem claro:ele veio para ficar.
O investimento ESG, ou sustentável, agora faz parte do “novo normal” do mundo dos investimentos. Assim, já é comum que investidores queiram aliar rentabilidade com práticas que contribuam para um mundo melhor. E, acredite, isso é possível.
Hoje, muitas empresas desenvolvem políticas para ajudar o meio ambiente, com questões sociais (como direitos das mulheres e diversidade) e de governança corporativa. O mercado ESG já vale cerca de US$ 35 trilhões, o que representa 36% dos ativos financeiros totais sob gestão no mundo, segundo a instituição Global Sustainable Investment Alliance (GSIA).
Mas, antes de mais nada, será que investimentos sustentáveis dão lucro mesmo? É uma opção para quem busca aplicações para o longo prazo? E como saber se uma empresa é verdadeiramente ESG?
Confira, a seguir, como funcionam os investimentos ESG e como aliar aplicações financeiras com causas que podem ajudar a fazer o bem.
O que é ESG?
ESG é uma sigla em inglês para “environmental, social and governance”(meio ambiente, social e governança, em português). Esse é um termo usado para medir as boas práticas que uma empresa adota nas áreas ambientais, sociais e de governança corporativa.
Em português também é utilizada a sigla ASG, que se refere a fatores ambientais, socialmente responsáveis e de governança.
O termo costuma ser usado de forma genérica para se referir a investimentos que buscam retorno positivo e impacto de longo prazo na sociedade, nos recursos naturais e no desempenho dos negócios.
Na prática, o ESG significa um conjunto de critérios, ações e valores éticos que guiam a atuação de uma empresa.
Como funciona o ESG na prática?
Para entender melhor quais práticas ESG uma empresa pode desenvolver, confira alguns exemplos a seguir.
Environmental – Meio Ambiente
- Preocupação com mudanças climáticas na cadeia produtiva;
- Redução de emissões de gases de efeito estufa;
- Iniciativas para evitar o uso excessivo de recursos, incluindo água;
- Políticas para armazenamento e descarte consciente de resíduos e poluição;
- Iniciativas anti-desmatamento.
Social
- Respeito ao bem estar dos funcionários e às condições de trabalho, incluindo combate ao trabalho análogo à escravidão e trabalho infantil;
- Projetos que apoiam comunidades locais, incluindo comunidades indígenas;
- Iniciativas que geram benefícios à saúde e segurança;
- Projetos que fomentem os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+;
- Incentivo à diversidade dos funcionários.
Governança corporativa
- Práticas anti-suborno e anti-corrupção;
- Transparência em seus processos e relações com fornecedores;
- Auditorias frequentes;
- Iniciativas que evitem a instabilidade política e os conflitos de interesse;
- Conselho de administração independente.
E os investimentos ESG?
Os investimentos ESG começaram na década de 1960, com os investidores excluindo ações ou indústrias inteiras de suas carteiras porque elas tinham atividades comerciais como a produção de tabaco ou envolvimento no regime de apartheid sul-africano, que segregava a população negra do país.
Nos últimos anos, a preocupação com essa temática voltou a crescer. Muitos investidores já não estão mais interessados apenas nos resultados financeiros das suas aplicações. Eles realmente se preocupam com o impacto dos seus investimentos e com o papel que os seus ativos podem ter, por exemplo, na promoção de questões globais, como a ação climática.
Uma pesquisa realizada pela empresa MSCI mostrou que, durante a pandemia de Covid-19, 78% das pessoas entrevistadas aumentaram seus investimentos ESG.
Investimentos ESG dão lucro?
Uma coisa é certa: empresas que seguem os critérios ESG têm sim foco no lucro. Mas não dá para garantir que essa rentabilidade é garantida, assim como acontece em qualquer investimento,
A educadora financeira e especialista em investimentos do Nubank, Ângela Tosatto, explica que também não é possível afirmar que as práticas ESG irão trazer um maior lucro no resultado das empresas. Mas, segundo ela, existem alguns ganhos indiretos que precisam ser considerados.
“Por exemplo, no segmento ‘environmental’, se uma empresa se preocupa com o meio ambiente e descarta corretamente seus resíduos, os riscos de contaminação ambiental são reduzidos e, com isso, a empresa evita ser onerada com multas desse segmento. Outro exemplo do segmento social é quando uma empresa abre vagas exclusivas para inclusão. O lucro contábil na demonstração de resultados não vai aumentar por conta disso, mas essa mesma empresa vai encorajar mais pessoas a se candidatarem para as vagas, e essas pessoas vão mudar a sua própria realidade”, diz.
Investimentos ESG trazem retornos maiores do que a média?
Por outro lado, existem vários índices no mercado financeiro que medem o desempenho das empresas ESG, e eles mostram que essas companhias têm retornos até maiores que a média. Por exemplo, a família de índice MSCI, que é a mais importante e foi criada em 1991, nos Estados Unidos.
Um deles é o Índice MSCI KLD 400, que acompanha 400 empresas com práticas ESG entre as 3 mil maiores companhias do país norte-americano. Clique aqui e veja como foi o resultado desse índice nas últimas décadas.
A explicação para esses resultados, como apontam os especialistas, é que as empresas que se preocupam com os critérios ESG têm menos riscos em suas operações. Em outras palavras, menos processos administrativos, trabalhistas, menos problemas de governança ou problemas com normas ambientais.
Por fim, essas companhias conseguem reduzir os riscos e aumentar a rentabilidade, o cenário ideal para qualquer investimento.
Índices de sustentabilidade da B3
A Bolsa de Valores do Brasil, a B3, também mantém um conjunto de índices de sustentabilidade. Esses índices podem ajudar o investidor a identificar empresas alinhadas com as práticas ESG. Confira quais são eles:
- Sustentabilidade Empresarial (ISE B3);
- Carbono Eficiente (ICO2 B3);
- Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC);
- Governança Corporativa Trade (IGCT);
- Governança Corporativa – Novo Mercado (IGC-NM);
- Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).
Como fazer investimentos ESG?
Quem busca uma maneira de fazer investimentos ESG tem como alternativa os fundos de investimento que aplicam o dinheiro exclusivamente em ativos ESG. Hoje, já existem vários deles no mercado brasileiro, inclusive na plataforma de investimentos do Nubank.
Também dá para aplicar em Fundos de Índice (ETFs) dedicados a companhias e ativos ESG, ou ainda comprar ações dessas empresas diretamente na Bolsa de Valores. Na modalidade de renda fixa, existem as debêntures e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRAs)
No mundo ESG, as empresas podem emitir títulos de dívida, que são chamados de Títulos Temáticos ESG. O objetivo é chamar a atenção do mercado e atrair dinheiro para projetos que tenham impacto socioambiental positivo. Três categorias separam esses títulos.
- Títulos Verdes (Green Bonds): investimentos relacionados a energia renovável; prevenção e controle de poluição; conservação da biodiversidade etc;
- Títulos Sociais (Social Bonds): direcionado a projetos de geração de empregos, segurança alimentar, infraestrutura básica etc;
- Títulos de Sustentabilidade (Sustainability Bonds): investimento em projetos que combinam ações “green” e “social” – socioambiental.
O que é Greenwashing nos investimentos ESG?
Greenwashing é uma expressão que pode ser traduzida como “banho verde” ou “lavagem verde”. Ele é usado para situações em que as empresas afirmam ter responsabilidade socioambiental mas, na verdade, não realizam nenhuma ação concreta ou não dão transparência para que as iniciativas divulgadas sejam verificadas.
Em outras palavras, as empresas que praticam Greenwashing divulgam dados e informações falsas para passar uma imagem positiva sobre suas ações sustentáveis. Na maioria dos casos, porém, o objetivo é apenas atrair investidores que querem aplicar em companhias ESG.
Um exemplo de Greenwashing são as companhias que afirmam ser “a que que menos polui em seu setor”, ou “a que emite menos carbono no mundo” sem comprovar que isso seja verdade.
Em maio de 2020, foi criado na Europa o SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation) – Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis, em tradução livre.
Em outras palavras, ele regulamenta a transparência na divulgação de dados sobre as práticas de ESG dentro das empresas e sobre seus investimentos.
O SFDR busca impedir que notícias falsas, ou exageradas, sejam divulgadas ao mercado por meio de seus sites, material impresso ou até mesmo em seus relatórios periódicos
Como saber se uma empresa é ESG de verdade?
A educadora financeira e analista de investimentos do Nubank, Ângela Tosatto, explica que não é possível ter absoluta certeza se uma empresa cumpre ou não os critérios ESG. A recomendação é pesquisar no site de RI (Relacionamento com Investidor) ou no site da própria companhia as iniciativas que ela está desenvolvendo para atender a esses critérios.
“Se você é investidor ou pretende ser de alguma empresa listada na bolsa, ou se tem interesse no negócio desta empresa, pode entrar em contato com o RI para tirar as dúvidas, esse serviço existe justamente para isso, para atender os investidores e tirar suas dúvidas”, conta.
Mas, segundo ela, as companhias estão cada vez mais preocupadas com esse tema. “Hoje, as empresas que não cumprem os principais critérios, principalmente no pilar de governança, já são penalizadas pelo mercado. Vou dar o exemplo de uma empresa que já vimos muitas vezes no noticiário.
Os resultados foram inflados para que os bônus de produtividade da diretoria fossem altos, então essa empresa saiu de mais de R$ 60 a ação e hoje custa menos de R$ 2. O mercado penalizou essa “infração” e a empresa ainda está tentando reaver sua credibilidade no mercado”, afirma.
Selos verdes ajudam nessa identificação
Para conscientizar consumidores e fabricantes sobre o impacto ambiental que um produto ou serviço pode ter, existem os chamados selos verdes. Existem mais de 400 selos com apelo sustentável no mundo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e eles podem ajudar a identificar empresas com boas práticas ESG.
Confira aqui os os 10 principais selos verdes oficiais, de acordo com o Idec.
Vale a pena fazer um investimento ESG?
O ESG no Brasil já é uma realidade e a tendência é que esse tema fique cada vez mais forte por aqui. Muitas empresas já adotam boas práticas nos três pilares do ESG e estão listadas na Bolsa de Valores. Inclusive já existem gestoras de fundos de investimento que investem exclusivamente nessas companhias. Também já é possível fazer uma aplicação ESG tanto na renda fixa quanto na renda variável.
Para entender se o investimento ESG é uma boa oportunidade, os investidores devem levar em conta tanto o potencial de rentabilidade quanto os valores que estão relacionados com esses ativos.
Por exemplo, se você é apaixonado por meio ambiente, os seus investimentos poderão estar relacionados a fontes de energia verde, como empresas de energia eólica e solar. Ou se você se preocupa em apoiar os direitos das mulheres, pode aplicar em fundos que investem em empresas administradas por mulheres. São muitas possibilidades.
Mas os investimentos ESG também têm a ver com os ativos em que você não aplica. Uma pessoa pode, por exemplo, vender a ação de uma empresa se descobrir que ela causa danos ao meio ambiente.
Vale reforçar que investimentos na Bolsa de Valores sempre envolvem riscos e a possibilidade de perder dinheiro. Por isso, antes de tomar qualquer decisão, confira se o investimento está de acordo com o seu perfil de investidor.
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