Seja no Twitter ou no noticiário econômico, são grandes as chances de você ter se deparado esta semana com a história da embarcação que ficou presa no canal de Suez no dia 23 de março e só desencalhou no dia 29. Em um efeito-borboleta do caos, um único navio entalado pode ter causado prejuízos bilionários, incluindo milhões de barris de petróleo que ficaram presos em um engarrafamento marítimo. Mas afinal, por que isso acontece?
Vamos aos fatos sobre o acidente em Suez
No dia 23 de março, a embarcação Ever Given teve problemas por conta de uma forte ventania e tempestade de areia. O navio de mais de 200 mil toneladas e 400 metros – o equivalente a 50 mil elefantes e quatro campos de futebol, mais ou menos – encalhou na diagonal, bloqueando completamente a passagem do canal de Suez.
De um lado, o acidente virou meme pela magnitude da embarcação comparada aos diminutos tratores e rebocadores usados no resgate – e também por colocar em perspectiva os erros diários que todos estamos sujeitos a cometer no trabalho. O famoso: podia ser pior…
Do outro lado, o acidente deixou a economia mundial de sobreaviso.
A importância do Canal de Suez
Com pouco menos de 200km de extensão, o Canal de Suez é responsável pela travessia de 10% a 13% do comércio global. Inaugurado em 1869 e expandido ao longo dos anos, ele é um atalho entre a Ásia e a Europa – uma conexão direta entre o Mediterrâneo e o Mar Vermelho que proporciona uma forma mais rápida de levar mercadorias entre continentes sem ter que contornar a África.
Para se ter uma ideia, a rota direta entre a China e a Holanda pelo canal tem pouco mais de 18 mil quilômetros e leva cerca de 25 dias. Ao contornar a África, navios precisam percorrer mais de 25 mil km em 34 dias.
Somente em 2019, mais de 18 mil embarcações usaram o canal – mais de 51 por dia, em média. Isso significa que algumas centenas de navios, cargueiros, barcos e variantes se acumularam no Golfo de Suez em apenas alguns dias de passagem interrompida.
O engarrafamento de barcos foi tão grande que foi visto do Espaço. A agência espacial europeia divulgou imagens que mostram o acúmulo de barcos no canal entre os dias 21 de março (antes do acidente) e 25.
Logística e atrasos
É difícil prever exatamente o impacto que o acidente terá. O bloqueio atrasou a chegada de insumos para fábricas e fornecedores europeus – em uma matéria da AP, especialistas citam algodão vindo da Índia, petróleo do Oriente médio e auto peças da China como alguns dos insumos mais afetados.
Há também o efeito cascata nas rotas que não cruzam o canal. Estima-se que cerca de 90% do comércio mundial é transportado pelo mar. Com isso, não apenas os navios que passam pelo Canal de Suez foram impactados, mas toda uma cadeia de logística global – de embarcações que pegam e deixam mercadorias ao longo dos portos.
As autoridades conseguiram desencalhar o Ever Given navio no dia 29 de março. No entanto,o incidente acendeu um alerta global para a dependência das economias em algumas rotas específicas.
“Conforme as embarcações ficam maiores e mais complexas, se torna ainda mais arriscado a sua dependência em rotas estreitas construídas em outras eras”- escreveram pesquisadores da Universidade Plymouth a convite do Fórum Econômico Mundial. No texto, eles ressaltam justamente que estamos todos muito vulneráveis. “(…) Incidentes como este poderiam ser causados de forma maliciosa, resultando em impactos alastrados ou em alvos específicos(…). Precisamos estar mais cientes dessas fraquezas conforme o mundo se torna mais conectado”.
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