Abrir um negócio do zero costuma envolver bastante trabalho. Você conversa com os sócios, dá entrada na papelada para abrir um CNPJ, traça um plano de negócio e ainda precisa descobrir como essa empresa vai se sustentar economicamente.
Nessa hora, podem surgir perguntas do tipo: quais clientes eu quero atrair? O que eu vou oferecer? Como fazer com que o negócio gere renda? E a divisão de lucros, como fica?
Existem diferentes formas de organizar um modelo de negócio. Um deles coloca 100% das pessoas que trabalham nele em pé de igualdade, além de se preocupar em gerar um impacto positivo no mundo. É assim que funcionam os empreendimentos de economia solidária. Entenda, a seguir, como funciona esse modelo.
Economia solidária: o que é esse modelo?
A economia solidária pode ser definida como um conjunto de atores sociais e econômicos que se organizam a partir da experiência de autogestão e de cooperação, respeitando a natureza e praticando o comércio justo e o consumo consciente e solidário.
Traduzindo: qualquer empreendimento que pretende ser solidário deve atuar de forma coletiva e autogerida. Isso significa que eles não têm um dono, por exemplo.
Em vez de uma ou poucas pessoas lá no topo da organização, em uma empresa solidária todos os trabalhadores também são donos do negócio e têm o mesmo peso na tomada de decisões. Cooperativas e associações são um exemplo de como isso acontece na prática.
Nesse sentido, a gestão do negócio funciona de forma horizontal, seguindo um modelo do tipo “uma pessoa, um voto”. Todo dinheiro que entra no negócio é compartilhado entre os sócios ou reaplicado nas necessidades do próprio empreendimento.
Outro fator muito importante é a relação com o meio ambiente e as comunidades no entorno do negócio. Empreendimentos de economia solidária buscam reduzir ao máximo o impacto na natureza e estudam soluções para manter uma harmonia ambiental e social do lugar onde eles foram criados.
Resumindo: se não funciona para as pessoas, para a natureza e para o entorno, não funciona pra ninguém.
Como o conceito de economia solidária foi criado?
A economia solidária vem sendo estudada e debatida há muito tempo. Ela não nasce a partir de uma tese econômica, mas das experiências de trabalhadores que buscavam se organizar de uma forma diferente.
Tudo começou no século XIX, em Rochdale, uma cidade na região metropolitana de Manchester, Inglaterra. Foi lá que nasceu a primeira cooperativa de consumo de que se tem registro, em meados de 1844.
Cooperativas de consumo são aquelas que oferecem aos associados produtos a preços menores. Eles conseguem chegar em valores mais baixos porque fazem uma grande compra em comum, tipo um atacado. Os inventores dessa cooperativa são chamados de Pioneiros de Rochdale.
Esse movimento, feito de forma coletiva entre trabalhadores, surgiu como uma resposta às demissões causadas pela criação das máquinas a vapor, durante a Primeira Revolução Industrial.
Eles deixaram um legado que é seguido por cooperativas em todo o mundo até hoje, mas não foram os únicos. Existe também uma discussão recente sobre isso, que considera as contribuições e modos de organização dos povos originários, como explica Leonardo Pinho, presidente da Central de Cooperativas Unisol Brasil.
“Hoje há um debate forte com as populações tradicionais. Ribeirinhos, quilombolas e indígenas. Quando a gente fala dos princípios da economia solidária, que é a auto organização e tomada de decisão coletiva, eles falam: ‘mas a nossa aldeia funciona assim! O nosso grupo quilombola funciona assim!’. Então a gente vê que esse gene de cooperação e solidariedade está presente na história da humanidade”.
No Brasil, o modelo de Economia Solidária foi amadurecendo com o passar do tempo, até se tornar uma teoria econômica e social conceituada. Ele foi crescendo, se espalhando entre empreendedores e cooperativistas e dando origem a políticas públicas que fortalecem o movimento em todo o território nacional.
No entanto, ainda é difícil estimar quantas empresas desse tipo existem hoje e qual é o peso do setor para o PIB. Alguns estudos apontam que existem cerca de 30 mil empreendimentos solidários no país, que geram renda para mais de dois milhões de pessoas.
Como se organizam as empresas de economia solidária?
Na prática, qualquer trabalhador, de qualquer área, pode trabalhar de forma cooperada. A base do negócio está justamente nesse pensamento de que a união faz a força.
Existem muitos exemplos que comprovam isso, como é o caso das usinas de reciclagem, das cooperativas de catadores, dos empreendimentos de artesanato, dos centros de tecnologia, das produções de agricultura familiar e de muitos outros setores. Leonardo Pinho cita alguns exemplos de trabalhos que ele acompanhou no dia a dia.
“A gente tem a Casa Apis, que é uma das principais exportadoras de mel orgânico do Brasil, lá no interior do Piauí. A Amater é uma cooperativa de assistência técnica para empreendimentos de economia solidária e agricultura familiar. E também tem a rede Justa Trama, que vai desde o plantio do algodão até a confecção de tecido e depois de roupas. Toda a cadeia produtiva é sustentável, orgânica e agroecológica”.
Desafios do modelo de economia solidária
Assim como em qualquer tipo de negócio, também existem desafios na execução de um projeto de economia solidária. Uma pesquisa divulgada em 2014 por um grupo de estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) elencou alguns deles.
Esse grupo acompanhou o trabalho de empresas solidárias na região metropolitana de Belo Horizonte e quase todas sofrem com as mesmas dores: falta de capacitação técnica, dificuldade na formalização e poucos recursos financeiros para manter o projeto de pé.
Mesmo quando os trabalhadores buscam por profissionalização, é difícil encontrar material realmente útil para o tipo de negócio que eles exercem. Isso faz com que as empresas tenham poucas perspectivas de crescimento e inúmeras dificuldades na gestão dos recursos.
Como faço para trazer o modelo de economia solidária para o meu negócio?
Para um negócio ser considerado solidário, ele deve ter os princípios de autogestão, cooperação e solidariedade com as pessoas e com o meio ambiente. Esse é o primeiro passo.
Pra quem é MEI, ou seja, um microempreendedor individual, esse processo é um pouco diferente. Se a economia solidária é uma economia coletiva e cooperativa, uma andorinha sozinha não faz verão: nestes casos, a alternativa que esse MEI tem é se unir a outros para juntos formarem o próprio negócio solidário.
Mulheres que são artesãs e que individualmente têm MEI, podem se organizar de forma coletiva para criar uma feira de economia solidária, onde há venda e exposição de produtos, por exemplo.
Na outra ponta, se a sua empresa tem programas de responsabilidade social, você também pode destinar recursos para estimular o crescimento de outras empresas solidárias, ou então chamar essas empresas para colaborar com o seu negócio.
Por exemplo: o lixo e os resíduos gerados pela sua empresa podem ser descartados do jeito certo por uma cooperativa de catadores e catadoras de material reciclável. Ou você pode contratar um empreendimento solidário para te oferecer um produto ou serviço. Sabe aqueles brindes de fim de ano que muitas empresas costumam dar aos funcionários? Eles podem ser feitos por uma cooperativa de artesãs.
Existem desafios, mas se for algo que faz sentido para você, é possível ser aplicado. Uma coisa é verdade: quanto mais pessoas se engajam, mais a informação circula e mais incentivos são criados para que a roda não pare de girar.
A semente foi plantada. Quem sabe ela não germina no seu negócio?
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