Sabe aquela história de “isso é uma coisa que acontece com os outros, não comigo”? É assim que as pessoas costumam pensar sobre golpes financeiros. Elas olham de fora e pensam “nossa, coitado, como não percebeu que estava caindo num golpe?”.
Daí vem o balde de água fria: essa mesma pessoa que achava muito óbvio o golpe de ontem acaba caindo no de amanhã. Porque a verdade é que todos nós somos potenciais vítimas de um golpe financeiro. Todos mesmo.
Mas por que caímos tanto em golpes? Por que tantas pessoas, inclusive as que conhecem os sinais, acabam entregando suas informações e dinheiro com tanta facilidade?
E, mais importante, como não cair em golpes?
Golpe financeiro: “todo mundo cai, mas EU não cairia”
É natural pensar que, se você conhece os sinais de um golpe financeiro, vai ser fácil identificar ele na vida real. Mas a história depõe contra.
O pesquisador norte-americano Stephen Greenspan, PhD em psicologia pela Universidade de Rochester, escreveu em 2008 o livro Annals of Gullibility: Why We Get Duped and How to Avoid It – em tradução livre, “Anais da credulidade: por que somos enganados e como evitar isso”.
Dois dias após pegar o livro, o Dr. Greenspan descobriu que havia sido vítima de um dos maiores esquemas de fraude financeira da história – ele havia dado seu dinheiro para o operador financeiro Bernie Madoff, que conduzia um Esquema de Ponzi.
Esquemas de Ponzi funcionam basicamente da seguinte forma: os clientes dão controle a uma pessoa ou empresa para administrar suas finanças, investir e devolver com lucros. Mas, na prática, o fraudador vai usando o dinheiro de novos clientes para pagar os antigos e, na lábia, convence as pessoas a continuarem a investir. Afinal, se muita gente quiser retirar o dinheiro de uma vez, o esquema quebra e é revelado.
Foi o que acabou acontecendo com Madoff em 2008. Quando o esquema foi descoberto, ele foi preso e condenado a 150 anos de cadeia. Mas o estrago estava feito: ele fez cerca de 37 mil vítimas, desde figuras de destaque (como celebridades de Hollywood) até pessoas comuns que haviam confiado suas economias de vida a ele.
Ou seja: se o Dr Greenspan, que é literalmente um especialista na psicologia dos golpes, caiu em um esquema fraudulento, todos nós também estamos sujeitos.
Por que caímos em golpes financeiros tão facilmente?
Em primeiro lugar, porque as pessoas são simplesmente ruins em perceber quando estão sendo enganadas. O próprio Dr. Greenspan fala sobre isso em uma entrevista à série Explicando, do canal Vox.
Outros pesquisadores levantam ainda mais hipóteses. O professor Robert Cialdini, que já lecionou marketing e psicologia em universidades norte-americanas como Stanford e Arizona State, comenta que um dos truques psicológicos mais usados é o medo de perder uma oportunidade que outras pessoas estão aproveitando.
Golpistas anunciam seus esquemas como algo incrível, que poucas pessoas descobriram até agora – mas que está prestes a estourar e aí vai ser tarde demais pra participar.
Ou seja, criam um senso de urgência, fazendo com que as pessoas ajam antes de pensar.
Essa tática pode se aplicar a qualquer tipo de golpe. O esquema de Bernie Madoff era extremamente sofisticado, mas golpes financeiros simples podem fazer ainda mais vítimas no dia a dia.
Algo tão comum quanto um anúncio de promoção nas redes sociais pode ser um golpe: você clica, é direcionado para o site da loja, insere seus dados e finaliza a compra. Só que aquela página era falsa e você acabou dando suas informações para um fraudador, que pode usá-las para se passar por você ou até mesmo clonar o seu cartão.
Engenharia social: a arte de comer pelas beiradas
Também faz parte da psicologia dos golpes ir ganhando a confiança da vítima aos poucos com engenharia social, que é uma técnica de manipulação bem comum em golpes financeiros.
Pense assim: se alguém te ligar e, de cara, perguntar seu número e senha do cartão você não vai responder, certo? Mas um bom golpista vai fazendo perguntas inofensivas e te ganhando com carisma.
Sem perceber, você começa a revelar informações cada vez mais pessoais, como o nome de um bicho de estimação, o aniversário da sua mãe, a rua em que mora… Todas aquelas perguntas comuns usadas para recuperação de senha em sites, por exemplo.
Ou então, no meio do papo, ele pode te pedir por um código que você acaba de receber no seu e-mail ou SMS. O problema é que aquele código era justamente o que ele precisava para alterar a sua senha do banco ou do seu WhatsApp, por exemplo.
Basta uma informação chave no meio de várias outras que parecem inúteis e pronto: o golpista fez sua vítima.
Confira alguns exemplos dos golpes mais comuns da internet
A vergonha e a falta de denúncias
Existe um outro fator que facilita a vida de fraudadores: a pessoas que caem em golpes, em sua maioria, não denunciam.
Um estudo de 2020 da Comissão Europeia revelou que 40% das vítimas de fraudes não contam o que aconteceu para ninguém. A maioria sente vergonha de ter caído no golpe ou deixa de denunciar para a polícia porque sabe que, na maioria dos casos, não há nada o que possa ser feito para recuperar seu dinheiro.
Com isso, fraudadores conseguem fazer dezenas, centenas e até milhares de vítimas antes de serem pegos. Denunciar é muito importante para que outras pessoas no futuro não passem pelo mesmo sofrimento.
Saiba o que fazer ao perceber que caiu em um golpe
Aumento de golpes em momentos de crise
Tempos difíceis nos tornam mais vulneráveis e os golpes tendem a se proliferar. Desemprego em alta e pandemia, como aconteceu em 2020 por exemplo, são condições ideais para fraudadores, porque eles se apoiam em promessas nas quais queremos desesperadamente acreditar.
Os ataques de phishing, por exemplo (um tipo de golpe em que a vítima é induzida a passar seus dados), tiveram um aumento de 617% em junho de 2023 em relação a 2022, segundo a empresa de segurança Kaspersky. A retomada econômica pós-pandemia e o avanço do uso de inteligência artificial podem explicar o fenômeno.
Como não cair em golpes?
Não há uma resposta única e nem infalível porque golpistas são muito bons em derrubar nossas barreiras e estão sempre se aproveitando das circunstâncias para encontrar novas iscas. Para não cair em golpes financeiros, é mais útil pensar que a sua proteção é feita a partir da junção de várias camadas de defesa, e não com uma solução exclusiva. Aqui vão algumas dicas:
- Se algo parece bom demais para ser verdade, muitas vezes é porque de fato não é verdade. Esses papos de “dobre seus investimentos” ou “ganhe dinheiro sem trabalhar quase nada” são quase sempre chamarizes para esquemas fraudulentos;
- Nenhuma oportunidade é tão urgente que não valha a pena investigar antes. Não caia nessa de “promoção esgotando”, “últimas vagas neste curso imperdível” ou até em um atendente de banco que diz que você precisa passar seus dados ou entregar seu cartão porque ele foi clonado.
O senso de urgência é uma das principais armas dos golpistas, porque tira o seu tempo de pensar. É melhor perder uma suposta oportunidade incrível do que arriscar seu dinheiro ou seus dados.
E lembre-se sempre de que não existe vergonha nenhuma em cair em um golpe financeiro. Todo mundo pode cair – e falar mais sobre isso é a única forma de espalhar as informações para que menos gente seja vítima no futuro.
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Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história aqui.