Apesar do ouro ser ensinado nas aulas de química (tabela periódica, lembra?), é nas páginas de economia que ele está aparecendo nos últimos meses. Só em julho de 2020, o preço do ouro teve uma alta de 10% – o que pode ter levantado algumas dúvidas. O que essa alta significa? Tem a ver com a pandemia do novo coronavírus? Por que o ouro é tão valioso?
Por que o preço do ouro está aumentando?
Seja na piscina de moedas do Tio Patinhas ou nos desejos luxuosos da personagem Khadija, da novela O Clone, o ouro está historicamente associado com fortuna, riqueza e dinheiro – muito dinheiro.
Mas o ouro também tem outro significado: segurança. Em tempos de crise, esse ativo é visto como um porto seguro para os investidores – não importa o que aconteça, o ouro continuará sendo um bem limitado e valioso.
Em 2008, por exemplo, ano da crise do mercado financeiro americano que impactou economias do mundo todo, o ouro foi o investimento com maior retorno no Brasil – a cotação na antiga BM&F Bovespa (atual B3) registrou alta de 32,13% no ano.
Passados 12 anos, a história está se repetindo em 2020 com a pandemia do novo coronavírus e uma crise global pior do que a de 2008, contribuindo para que o valor do ouro atinja patamares históricos.
No dia 4 de agosto, a cotação do ouro nos índices futuros chegou a US$ 2.021,00 a onça troy (medida internacional de negociação que equivale a 31,1035 gramas) – a máxima histórica deste ativo.
Mas não dá para atribuir a alta do ouro apenas à pandemia. É preciso lembrar também do dólar, outro ativo para o qual investidores costumam correr em tempos de crise.
A queda do dólar e a alta do ouro
Antes do dólar se tornar a principal moeda do mundo, quem ocupava essa posição era o ouro. Mas, com os Estados Unidos despontando como a maior economia do mundo, o dólar tomou o lugar do ouro e hoje é responsável por 80% de todas as transações mundiais.
Em tempos em que a economia e a moeda americanas não vão bem, entretanto, o ouro acaba sendo uma opção para os investidores.
E por que o dólar anda mal?
A pandemia é tão séria que até mesmo as maiores economias do mundo, como os Estados Unidos, foram afetadas.
Para tentar diminuir o desemprego no país, manter a renda das pessoas e impedir que empresas fechem suas portas, o banco central dos EUA (o FED) imprimiu e injetou trilhões de dólares na economia.
Mas, como toda ação tem uma reação, mais moedas circulando significa maior oferta, fazendo com que o dólar perca seu valor. Outra consequência no médio prazo pode ser o aumento da inflação nos Estados Unidos.
Para piorar a situação, a expectativa é que o governo americano injete mais alguns trilhões na economia, desvalorizando ainda mais o dólar.
Além disso, o déficit fiscal americano já está em US$ 2,74 trilhões – número 267% maior do que o mesmo período de 2019.
Outro fator que entra nessa conta é a taxa básica de juros americana. Atualmente com juros próximos a zero e tendência de se manterem baixos, a preocupação do mercado é que, no longo prazo, a inflação americana supere os juros – fazendo com que o dólar valha menos e menos com o passar dos anos.
Esse cenário incerto gera insegurança e afasta os investidores do dólar, que recorrem a outros ativos, como o ouro – que fica mais barato conforme o dólar se desvaloriza, já que é negociado no mundo todo na moeda americana.
E por que o ouro é tão valioso?
Sabe aquela velha história da oferta e da demana? Pois ela se aplica no caso do ouro também.
O ouro, diferentemente de outros ativos financeiros, não pode ser criado – pelo menos não de um jeito que valha a pena o custo de produção. Ele é um metal escasso e limitado, que precisa ser minerado e sua oferta é constante ao longo do tempo.
Entre 2018 e 2019, por exemplo, a produção de ouro praticamente não mudou, aumentando apenas 1%. A oferta, por outro lado, aumentou um pouco mais, 3%, por causa da reciclagem de materiais que contêm ouro.
Isso significa que, não importa quanto a demanda por ouro aumente, a oferta permanece praticamente estável ao longo do tempo.
Além de ser um ativo financeiro, o ouro também é usado em diversas aplicações por ser um metal maleável (ele se torna líquido a 1.064 graus Celsius) e inoxidável. Segundo o Conselho Mundial do Ouro, o ouro é usado na fabricação de:
- Testes rápidos de diagnósticos;
- Medicamentos;
- Placas de energia solar;
- Telescópios;
- Eletrônicos;
- Joias;
- Entre outros produtos.
Ou seja, além de atrair investidores, o ouro também é necessário em diversas indústrias de diferentes setores, o que impacta a demanda do metal.
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