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Quanto é 1 bilhão?

Quanto é 1 bilhão?

Números absurdamente altos vão se tornando cada vez mais abstratos para o cérebro. Mas entender quanto valem mesmo os bilhões é possível – e necessário. Saiba mais.



Quanto é 1 bilhão?

Você já sabe a resposta para essa pergunta do título da matéria, não é? “Um bilhão é 1 bilhão, ora essa”. E você está certo. A gente ainda pode confiar na boa e velha matemática. A questão aqui é sobre a percepção do número, e não sobre o número em si. Ele é tão grande, mas tão grande, que é difícil entender o que significa o bilhão.

Quer um exemplo? Com uma conta rápida, dá para notar como se está longe de entender o que é um bilhão. Se alguém quisesse alcançar a lua colocando uma pessoa em cima da outra, quantas seriam necessárias para chegar até lá? Lembrando que o mundo tem hoje 7,7 bilhões de pessoas, segundo o Banco Mundial.

Vamos lá. A distância da Terra para a Lua é de 384 mil quilômetros. Considerando a altura média de 1 metro e 72 centímetros, precisaria de 223 milhões de pessoas para chegar até a Lua. Isso é um pouco mais do que a população do Brasil, e só 2,8% da população mundial. 

É tanto número alto que a cabeça se confunde e o cérebro tem dificuldade de processar. O que dá para concluir disso? Tem muita, mas muita gente na Terra. O número aproximado de habitantes do nosso planeta azul tem nada menos do que dez algarismos, e é representado assim:

7.700.000.000

Abaixo, veja mais alguns alguns exercícios para melhorar a compreensão do que é mesmo um bilhão e possíveis explicações do motivo para se ter dificuldade de entender numerozões.

Por que eu preciso saber quanto é 1 bilhão?

Entender o tamanho do bilhão é muito importante para compreender a vida financeira de um país, por exemplo. Você vai perceber com mais precisão quanto foi investido em saúde e educação, quanto foi recolhido de impostos, quanto o PIB subiu ou caiu. A vida pública costuma ser regida por cifras bilionárias. Investimentos e cortes no orçamento chegam fácil fácil na casa dos bilhões.

Você também vai conseguir sacar melhor o tamanho de um escândalo de corrupção, por exemplo. O custo das coisas, o valor de fortunas, a quantidade de pessoas afetadas por uma pandemia, por exemplo. No fim das contas, é um jeito de mediar a sua relação com o mundo – além do financeiro.

O Museu de Paleontologia da Universidade de Berkeley, na Califórnia, propôs alguns exercícios para entender o que são bilhões. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra?

É muito comum para paleontólogos, que estudam fósseis e ruínas, encontrar peças muito antigas. Eles, os geólogos, os astrofísicos e vários outros cientistas trabalham com bilhões o tempo todo, mas é tão abstrato para essa turma quanto para um cidadão comum. 

Por isso, o Museu de Berkeley propôs esses exercícios para ensinar aos alunos. No primeiro deles você decide contar até 1 bilhão. É claro que, quando for chegando nos números mais altos, você vai demorar mais tempo para contar. Então, para simplificar as contas, vamos considerar que você leve em média 3 segundos em cada número, independentemente do tamanho dele. Quanto tempo para chegar em 1 bilhão?

Se fizesse isso 365 dias do ano, sem parar nem para comer ou dormir, você levaria 95 anos para chegar em um bilhão. Ou seja: melhor nem começar.

Por que é tão difícil entender números grandes?

Não é só o bilhão que é difícil. Um estudo da Universidade de Oxford colocou voluntários em uma máquina de ressonância magnética e mediu a atividade cerebral com comparações de distância, das mais próximas para as mais longínquas. Eles começaram a falar sobre a sala onde estavam, depois o edifício, a vizinhança, aí cresceram para a cidade, o país e o continente. 

E o resultado percebido foi que a atividade cerebral processou as pequenas escalas em áreas mais ligadas às coisas concretas. Quanto mais distante ficava, mais o processamento das informações caminhava para áreas do cérebro responsáveis por pensamentos abstratos. Ou seja: de forma bem resumida, quanto mais próximo, mais concreto; quanto mais distante, mais abstrato. É assim que o cérebro processa as informações.

Tudo é questão de perspectiva

Então não quer dizer necessariamente que seja mais difícil, mas é mais abstrato. Por isso que, nas notícias, os jornalistas usam escalas o tempo todo. “A área desmatada equivale a 200 campos de futebol”. “O furacão atingiu algo como 50 cidades de São Paulo”.

Você pode nem morar em São Paulo, mas deve saber que é a maior cidade da América Latina. Então poxa… é muita coisa que foi atingida pelo furacão. Se ele tivesse atingido uma área similar a duas cidades de São Paulo, já não era tanto assim, certo? No estudo de Oxford, os pesquisadores estudaram a noção de espaço, mas sugerem que isso pode se aplicar a qualquer conceito de grandeza. 

Você já deve ter visto alguém vendendo um produto na internet em que aparece, na foto de divulgação, uma caneta ao lado. O que a pessoa está tentando fazer ali é justamente te dar uma noção concreta de escala, e deixar menos abstrato o tamanho do que ela está tentando te vender. Você sabe qual o tamanho de uma caneta e, por isso, automaticamente entende o tamanho do produto.

Ok, mas e os bilhões?

É mais ou menos a mesma coisa. Os números são, por natureza, um conceito abstrato. Você nunca pegou o número um na mão, certo? Ele só existe no campo das ideias, um sistema inventado pelos egípcios há 5 mil anos. Tudo bem, mas você com certeza já pegou R$ 1 na mão. E nunca pegou R$ 1 bilhão na mão – até porque seria impossível, mesmo para um bilionário, pegar um bilhão na mão.

Então o segundo exemplo da Universidade de Berkeley vai ajudar a entender quanto dinheiro é R$ 1 bilhão. Vamos supor que uma pessoa queira se tornar bilionária e, olhando suas finanças pessoais, perceba que pode guardar R$ 100 por dia. Veja bem: R$ 100 por dia, não por mês. Em quanto tempo ela chegaria a R$ 1 bilhão?

Ela levaria 10 milhões de dias para alcançar um bilhão. Isso dá um total de 27.397 anos. Ou seja, guardando R$ 100 por dia, sem pular nenhum, ela nunca vai ver o bilhão chegar. Nem seus netos, bisnetos ou tataranetos. Na verdade, precisaria de 304 gerações vivendo, em média, 90 anos cada, continuando a poupar R$ 100 por dia.

A pessoa mais rica do mundo tem, hoje, 222 bilhões de dólares, segundo a Forbes. Isso é mais do que o PIB da Nova Zelândia, ou quase igual ao PIB do Quênia, um país de 55 milhões de habitantes.

O valor da desigualdade

Isso significa desigualdade social, um problema grave que leva a outros. Existe uma imagem do fotógrafo Tuca Vieira que ficou muito famosa, e acabou se tornando um símbolo da desigualdade social no Brasil. 

Metade da lente dele registrou um prédio de luxo no bairro do Morumbi, em São Paulo, em que cada apartamento tem uma sacada generosa com uma piscina privativa, além de quadras de tênis no prédio. Na outra metade da lente, separada apenas por um muro, está Paraisópolis, a quarta maior favela do Brasil, segundo o IBGE, com suas casinhas de alvenaria e muito pouco espaço sobrando.

No bairro que ele fotografou, o Morumbi, 56% dos lares têm renda média acima de 10 salários mínimos. Em Paraisópolis, 37% dos lares têm renda média de até um salário mínimo e meio, segundo dados da Fundação Sistema de Análise de Dados do estado de São Paulo. Mas isso são médias, porque quando se fala na casa dos bilhões, a questão são os picos de renda.

Concentração de riqueza

Segundo a Oxfam, uma organização britânica que combate a pobreza extrema, as cinco pessoas mais abastadas do Brasil têm uma riqueza equivalente aos 50% mais pobres da população do país, ou seja, mais de 100 milhões de pessoas.

Se a informação fosse de que as cinco pessoas mais ricas do Brasil têm, somado, R$ 54 bilhões, isso não diria quase nada para você. Mas sabendo que essas cinco pessoas possuem o equivalente a 100 milhões de outras pessoas somadas, isso dá uma dimensão completamente diferente. Em outras palavras, é mais palpável.

Entendeu a importância de se comparar com escalas? Aqui vai mais um fato curioso: um milhão de segundos são 12 dias. Um bilhão de segundos são 30 anos!

E um trilhão? Quanto será um trilhão?

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