“Negros não necessariamente nascem entendendo tudo o que ser negro no Brasil significa”. Essa frase pode até parecer estranha, mas pra quem tem pele negra, como Rafaela Xavier e a redatora que vos escreve, ela é mais que verdade: há poder (e muito) nesse processo de entendimento e tomada de consciência da negritude.
Rafaela é uma empreendedora e historiadora de 24 anos, nascida e criada em Belo Horizonte, Minas Gerais, que mudou a sua vida para melhor nesse processo de entendimento. Ela é uma das histórias que o Nubank traz no projeto “A gente muda o sistema”. Confira o vídeo abaixo e leia mais sobre a sua trajetória.
Com origem em uma família humilde, e que não falava muito sobre questões raciais, Rafa foi entender na escola o que era ser negra.
“Só tinha eu e mais dois negros em uma turma de 40. Sabíamos que éramos excluídos, mas só fui começar a entender o que era ser um corpo negro entre o segundo e terceiro ano do ensino médio, quando eu tive uma professora negra com consciência racial. Ela percebia como eu era tratada e sutilmente começou a falar comigo sobre negritude”, diz.
Vale observar: o reconhecimento enquanto pessoa negra não é sobre saber que se tem a pele escura, mas sim um processo que envolve entender sobre racismo.
Enquanto se redescobria, Rafaela fez sua transição capilar. Segundo ela, esse processo foi fundamental. “Quando comecei a minha transição fui me inserindo em outras bolhas e conversando em grupos com outras pessoas negras”.
A história, as tranças e o empreendedorismo
Rafaela é formada em história pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E foi na faculdade que ela percebeu a oportunidade de atuar como trancista. Por estar sem dinheiro e não conseguir conciliar a carga de estudos do curso com um trabalho em tempo integral, entendeu que precisava de uma fonte de renda extra.
“Eu ganhava R$ 400 por uma bolsa de iniciação científica e nessa época eu já tinha passado pela transição. Não tinha clareza sobre o que era ser uma trancista, o que era estar trançada, mas eu literalmente pensei: conheço pessoas que usam tranças e gostam. Vou tentar fazer isso”.
Rafaela fez um curso rápido e conseguiu suas primeiras clientes. Foi neste momento que o seu negócio nasceu, ainda que ela não entendesse de empreendedorismo, gestão e nem do que significava ser trancista.
“Fui trançando cabelos – inclusive o meu – e quanto mais trançava, mais percebia que aquilo era mais do que um ofício: havia um contexto histórico, social e cultural envolvidos”, acrescenta.
Ao perceber esses contextos, decidiu direcionar suas pesquisas acadêmicas na faculdade de história ao estudo das tranças. E essa foi outra virada de chave na vida dela.
“Ao descobrir esse universo da estética afro-brasileira uni meu trabalho à pesquisa acadêmica e comecei a ser mais conhecida, porque produzia conteúdos em uma linha que ninguém produzia: não havia uma historiadora trancista colocando essas questões em debate”, diz.
Nasce uma Pessoa Jurídica
Ao se entender como trancista, Rafaela percebeu que, de fato, agora era uma empreendedora. Mas o desafio da formalização não era tão simples, especialmente na hora de fazer uma conta PJ. Foi neste momento que a história de Rafa e do Nu se cruzaram.
“Eu sou cliente há muito tempo. O Nubank me ajuda muito na minha rotina. A gente sabe como a vida do empreendedor é corrida e com muitas horas de trabalho. Essa facilidade de acessar o nosso dinheiro sem burocracias, sem enfrentar grandes filas, a qualquer hora e sem constrangimento, é algo de tirar o chapéu”.
Trancista sim – e professora também
Enquanto o negócio como trancista crescia, Rafaela também se tornava uma influenciadora nas redes sociais. Ela passou a produzir alguns conteúdos com outras profissionais da área, falando sobre como se posicionar no mercado de forma correta.
Em paralelo, nunca largou a história. Além do trabalho como trancista, Rafaela seguiu dando aulas – e hoje une mais essas duas paixões. Por sugestão de uma cliente, lançou em 2019 um curso digital de formação de trancistas.
Hoje, o curso Viver de Tranças abre turmas para mais de 100 alunas e, até hoje, já preparou mais de 1600 trancistas para o mercado.
“É algo bem grandioso não só pelo número de alunas, mas de pessoas que são impactadas por esse trabalho. As mulheres negras não são ensinadas a ter essa autoestima profissional. O nosso lugar é sempre o da subserviência. Hoje o meu negócio nem é sobre ensinar a técnica, mas sobre virar essa chave dentro das minhas alunas de que elas podem ser líderes do que elas fazem. E isso transforma muitas vidas”, diz.
Próximos passos e sonhos
Rafaela segue trabalhando para que a profissão de trancista seja mais reconhecida e valorizada em outros meios. Mais do que isso, busca ser exemplo para que outras mulheres lidem com o racismo. “A gente não vai acabar com o racismo estrutural de uma hora para a outra, mas a gente pode controlar a forma como a gente reage a partir dessas circunstâncias. O que, apesar disso, eu posso fazer para que a minha realidade seja transformada? E aí a gente foca no que tá dentro da nossa realidade ou no nosso controle para promover transformações”, diz.
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