“Dinheiro não traz felicidade… Mas compra.”
Do ditado popular àquele quadro engraçadinho que você ganhou no último amigo secreto da firma, essa frase revela uma certa maneira de olhar o mundo: algumas pessoas acreditam que não há quantia que as torne mais felizes. Outras acham que o dinheiro é uma forma de viabilizar coisas que amam.
Mas… existem respostas científicas para essa pergunta?
Afinal, dinheiro traz felicidade?
A resposta curta é sim. Mas depende. Na verdade, nem sempre.
A parte óbvia da resposta é que, sem dinheiro algum, as pessoas vivem pior. Não existe discussão sobre a importância de conseguir ter acesso a itens básicos – como alimentação, moradia, saúde.
O que as pesquisas tentam entender é se, dado esse mínimo, existe um aumento proporcional da felicidade conforme o dinheiro aumenta.
Quanto mais dinheiro, mais felicidade?
Um dos primeiros a investigar esse dilema foi o cientista americano Richard Easterlin. Em 1974, ele realizou uma pesquisa e entendeu que, embora pessoas mais ricas fossem geralmente mais felizes que as mais pobres, os países mais ricos não eram mais felizes como um todo.
A premissa do Paradoxo Easterlin é que a renda relativa é mais importante que a absoluta. Ou seja, as pessoas tendem a ser mais felizes se forem mais ricas que os outros ao seu redor.
Mas essa teoria foi contestada. Acelere para os anos 2000. Dois pesquisadores na Universidade da Pensilvânia, Betsey Stevenson and Justin Wolfers, defenderam justamente o contrário.
Segundo eles, nações mais ricas são, sim, mais felizes. Eles afirmam que seus dados são mais confiáveis que os de Easterlin, pois não havia pesquisas suficientes sobre países mais pobres naquela época.
O tal salário perfeito
Um terceiro grupo de pesquisadores resolveu investigar qual seria a quantia exata de dinheiro para deixar uma pessoa feliz.
Em 2018, eles publicaram um estudo na revista Nature defendendo que a relação entre dinheiro e felicidade é uma parábola.
Segundo a pesquisa, o aumento de renda acompanha o aumento de satisfação com a vida – até um certo ponto. A partir de um valor específico, o movimento oposto acontece: quanto mais dinheiro ganham, menos felizes as pessoas se tornam.
De acordo com o estudo, que envolveu dados de mais de 1,7 milhão de pessoas ao redor do mundo, o número mágico – aquele que faz uma pessoa atingir a satisfação máxima com a avaliação de vida – varia de acordo com onde cada um vive.
Na média, o salário que faz alguém atingir o ápice da felicidade é de US$95 mil por ano – cerca de R$490 mil, atualmente, ou um salário mensal de pouco mais de R$40 mil.
Mas há tipos diferentes de felicidade. O estudo ainda fala de um sentido mais amplo desse sentimento – uma felicidade no dia a dia, com mais emoções positivas do que negativas. Para atingi-la, o valor estabelecido pelos pesquisadores foi de US$60 mil a US$75 mil por ano (algo entre R$25 mil e R$32 mil mensais no Brasil).
Essa conta, no entanto, é individual: se uma pessoa tiver filhos ou outras pessoas para sustentar, por exemplo, ela já não se aplica.
Quanto dinheiro pra ser feliz no Brasil?
O valor de US$95 mil é uma média mundial. Os pesquisadores estimaram a quantia “ótima” também por região e chegaram à conclusão de que, na América Latina, o ápice da felicidade seria com US$35 mil anuais – um salário mensal de aproximadamente R$15 mil no Brasil.
Esse valor é irreal para a maioria dos brasileiros. A renda familiar per capita no Brasil é de R$1439, segundo o último levantamento do IBGE. O desemprego no país chegou a 14,6% em 2020.
As pessoas são infelizes então?
Não é assim também. O estudo foi feito para entender como o sentimento de felicidade aumenta proporcionalmente à renda – para entender se esse crescimento seria infinito, por exemplo.
Além disso, o sentimento de felicidade é amplo e envolve diversos aspectos. O que os pesquisadores buscaram fazer foi isolar um único fator (a renda) e entender como ela afeta a satisfação com a vida. O mesmo poderia ser feito para investigar se pessoas com filhos são mais felizes, por exemplo.
Dinheiro é importante. É ele que paga as contas, resolve perrengues, viabiliza sonhos e melhora nosso futuro. Mas a organização financeira também melhora (muito) a vida – e é mais fácil de realizar do que ganhar R$15 mil por mês.
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