Poucos ditados fazem tanto sentido no mundo das finanças como aquele que diz que “o combinado não sai caro”. Em uma compra parcelada, por exemplo, você escolhe o número de parcelas e sabe que, todo mês, será aquele valor que vai chegar na sua fatura. Mas no mundo dos investimentos, o combinado pode sair caro se você não entender o contexto. É o que acontece com o Tesouro Prefixado.
Assim como o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA, o Tesouro Prefixado é um título do Tesouro Direto, programa do Tesouro Nacional que garante o acesso de qualquer pessoa aos títulos públicos. Esses títulos representam dívidas do governo e são emitidos sempre que ele precisa de mais dinheiro para financiar a atividade pública.
Em outras palavras, os títulos públicos são investimentos de renda fixa. Na prática, quando você aplica nesses ativos, você está emprestando dinheiro ao governo e quem garante a devolução desses recursos corrigidos com juros é o próprio Tesouro Nacional. Por isso, os títulos públicos são considerados os investimentos de mais baixo risco do mercado.
Mas o que é o Tesouro Prefixado?
Quando alguém pega dinheiro emprestado de um banco ou financeira, precisa devolver esses recursos em determinado prazo e com juros. Neste caso, os juros existem porque, assim que o dinheiro sai da instituição financeira, ela deixa de ter esse recurso à disposição para investir, por exemplo.
Além disso, por causa da inflação, esse dinheiro vai perdendo valor com o tempo. Sem contar que existe o risco de a pessoa não pagar o empréstimo.
Resumindo, de maneira geral, os juros compensam a perda do valor do dinheiro, o risco de esse dinheiro não voltar mais e também o custo de oportunidade – ou seja, a instituição poderia ter usado esse recurso em outra coisa que lhe rendesse mais. Esses são apenas alguns motivos pelos quais existem juros em empréstimos.
Quando você investe nos títulos do Tesouro Nacional, acontece quase a mesma coisa, mas em outras proporções e com mecanismos um pouco diferentes. Neste caso, é como se você fizesse o papel do banco que está emprestando o dinheiro e quer esse valor de volta acrescido de juros pelos mesmos motivos acima.
No Tesouro Selic e IPCA, por exemplo, o Tesouro Nacional garante a devolução do dinheiro que você emprestou corrigido por índices da economia – no caso, pela taxa de juros e pela inflação, respectivamente. Não é o que acontece com o Tesouro Prefixado.
Diferentemente dos outros títulos, ele não está amarrado a nenhum índice da economia. Ou seja, a sua rentabilidade não depende diretamente de nenhum indicador. Nesse título, você conhece exatamente quanto vai receber no dia do vencimento assim que aplica seu dinheiro.
É um acordo, como a compra parcelada que você fez ou o empréstimo que contratou. Por isso, esse título se chama prefixado: sua rentabilidade é prefixada antes de você investir.
O que esse título tem a ver com a Selic?
Não é porque a rentabilidade do Tesouro Prefixado não está amarrada a um indicador que esse título não é influenciado pelos índices da economia. Ao contrário, o Tesouro Nacional define os juros a serem pagos ao investidor com base nos juros futuros, que são projetados e negociados em contratos diariamente na Bolsa de Valores. E essas projeções dependem da taxa Selic.
Não entendeu? Funciona assim:
Na Bolsa de Valores existe um mercado chamado de mercado futuro que, resumidamente, permite a compra e a venda no presente de contratos para efetivação (liquidação) no futuro. Esses contratos negociam ativos considerando indicadores projetados lá na frente. É como se fosse uma aposta de como algumas moedas e indicadores vão se comportar no futuro, como o dólar e a taxa de juros, por exemplo.
É com base nessa projeção futura da taxa Selic que o Tesouro Nacional define quanto vai pagar ao investidor que comprar o Tesouro Prefixado. E essa projeção tem como base a taxa de curto prazo dos juros, que é o valor atual da própria Selic. Se o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, sobe ou reduz os juros, o mercado se ajusta a essa nova realidade.
Para saber quanto o Tesouro Prefixado está rendendo agora, você pode acessar a página de preços e taxas do Tesouro Direto. Se você entrar na página amanhã, vai ver que os juros oferecidos serão diferentes daqueles que viu hoje. É que, como qualquer ativo da Bolsa de Valores, os contratos futuros são negociados diariamente e, por isso, essa projeção dos juros futuros também muda todos os dias.
Tem como saber como ficarão os juros futuros?
Se você está começando agora no mundo dos investimentos e quer saber os rumos dos juros futuros, sem operar no mercado futuro, existem dois caminhos mais simples: o Boletim Focus e a Ata do Copom, ambos do Banco Central.
O Boletim Focus é divulgado toda semana com as projeções de indicadores importantes da economia, como juros e inflação. Essas projeções são de economistas e analistas entrevistados pelo BC para o Boletim. Você pode se inscrever aqui para receber o Focus toda semana no seu e-mail.
Já a Ata do Copom é um documento publicado pelo Comitê alguns dias depois da reunião que decide a taxa Selic e que acontece a cada 45 dias. Na ata, o Copom sinaliza o que fará nas próximas reuniões, se vai manter, reduzir ou aumentar os juros. É possível acessar as atas aqui.
Eduardo Perez, analista de investimentos do Nubank, afirma que esses caminhos servem de referência, mas alerta que, assim como o preço de uma ação na Bolsa, não tem como acertar quanto serão os juros no futuro.
O Tesouro Prefixado tem imposto?
Assim como em todos os outros títulos do Tesouro Direto, você também paga Imposto de Renda no Tesouro Prefixado. A tributação segue a tabela regressiva – ou seja, quanto mais tempo você fica com o título, menos imposto paga.
Além disso, a alíquota é cobrada apenas em cima dos ganhos líquidos no momento do resgate antecipado ou no vencimento do título. Por exemplo: se você investiu R$ 100 e resgatou R$ 110, o imposto incidirá apenas em cima dos R$ 10. Veja as alíquotas:
- Até 180 dias: 22,5%;
- Entre 181 e 360 dias: 20%;
- Entre 361 e 720 dias: 17,5%;
- Acima de 720 dias: 15%.
O imposto é retido na fonte. Em outras palavras, o dinheiro que cai na sua conta da corretora no momento do resgate ou no vencimento já é o valor líquido, com o desconto do imposto.
Além do IR, quem investe no Tesouro Prefixado também precisa pagar uma taxa de custódia de 0,20% ao ano para a Bolsa de Valores brasileira, a B3. É que a instituição financeira é responsável por guardar todos os títulos e também registrar as informações e movimentações dos saldos dos investidores.
A taxa de custódia é dividida semestralmente e incide sobre o valor total aplicado. Aplicações de até R$ 10 mil têm isenção da taxa. Acima desse valor, existe a cobrança, que ocorre diretamente na conta da sua corretora.
Esse título é para mim?
Segundo Eduardo Perez, do Nubank, embora seja um investimento conservador e o título público mais barato – com aplicação mínima de R$ 30 –, o Tesouro Prefixado é para quem tem um perfil um pouco mais experiente em renda fixa, e já conhece a dinâmica dos outros títulos do Tesouro Direto.
Isso porque é preciso ter mais atenção ao que acontece com a economia para montar uma estratégia efetiva com o prefixado.
Lembra da história do combinado que pode sair caro que você leu no início deste texto? Ela entra aqui.
Diferentemente de outros títulos públicos, o Tesouro Prefixado tem um risco de contexto. Isso significa que, quando você aplica neste título, você faz uma aposta sobre o caminho que a taxa Selic vai tomar.
Veja o exemplo
Em 2021, por causa da inflação crescente, o Copom começou a elevar de forma rápida a taxa Selic, que saiu de 2% em janeiro para 11,75% em março de 2022. Como você viu, a rentabilidade do Tesouro Prefixado é influenciada pela taxa de juros atual e a projetada. Ou seja, o Tesouro Nacional paga mais ao investidor quando os juros estão maiores.
Onde está o risco aí? Seguindo o exemplo do que aconteceu ao longo de 2021, uma pessoa que não acompanhou minimamente o mercado pode ter entrado no aplicativo da corretora e ter sido seduzida com a rentabilidade de cerca de 6% ao ano que o prefixado, com vencimento em 2024, oferecia em fevereiro de 2021. Um ano depois, esse mesmo título está pagando o dobro.
Ainda que esse investidor mantenha o título até o vencimento, ele perdeu dinheiro. Primeiro porque, no mundo dos investimentos, deixar de ganhar equivale a perder dinheiro. E foi o que aconteceu nesse exemplo. O dinheiro foi travado em uma rentabilidade de 6%. Sem saber, o investidor apostou que a taxa Selic não aumentaria ou, caso subisse, não seria tanto a ponto de ter ofertas melhores do que 6% ao ano.
Segundo porque, nesse exemplo, ele não teve ganho real até agora. Enquanto o título dele está pagando 6% ao ano até 2024, a inflação fechou bem acima disso em 2021, em mais de 10%.
Dava para saber o que ia acontecer?
Esse investidor tinha como saber que o prefixado poderia pagar mais e que a inflação subiria tanto que corroeria seus ganhos? Não e sim.
Não porque, como em qualquer investimento, mesmo nos de renda fixa, não tem como cravar nada. É impossível saber se a ação de uma empresa vai subir ou cair, ou se a inflação vai continuar subindo tanto a ponto de o Banco Central continuar aumentando o ritmo de alta da Selic. Ainda mais em países como o Brasil, em que o mercado é muito volátil, ou seja, sobe e desce com muita frequência.
Contudo, em fevereiro de 2021, esse investidor já tinha o dado de que a inflação já estava acumulando uma alta de 4,56%, percentual já bem próximo da rentabilidade do título que ele investiu, e também já havia no noticiário a preocupação de muitos especialistas sobre um aumento maior dos preços. As edições do Boletim Focus daquele mês também refletiam essas preocupações e as projeções para a inflação eram maiores semana após semana.
Além disso, naquele mesmo mês de fevereiro, já havia a sinalização do Banco Central de que a taxa Selic poderia subir em março em resposta a essas preocupações. Ou seja, eram muitos os sinais que indicavam que a rentabilidade do prefixado poderia ficar melhor. E essas informações não estavam escondidas em relatórios difíceis de ler ou encontrar.
Resumindo, ao saber como o Tesouro Prefixado funciona e ao acompanhar minimamente os indicadores básicos da economia, como inflação e taxa Selic, é possível entender um pouco para onde vão os juros e, assim, criar uma estratégia melhor de investimento em prefixados.
Posso perder dinheiro no Tesouro Prefixado?
Além da questão da inflação e do contexto econômico, que podem fazer o investidor perder melhores oportunidades, há outro risco no Tesouro Prefixado.
Assim como todos os títulos públicos, o prefixado também sofre a marcação a mercado – ou seja, os preços dos títulos mudam todo dia. Esse ajuste pode acontecer tanto para baixo quanto para cima. Em outras palavras, o preço que você pagou hoje por um título vai ser diferente do preço que vai pagar amanhã.
A marcação a mercado também afeta a rentabilidade diária dos ativos. Quando o mercado espera uma alta nos juros, a rentabilidade final do título tende a subir, enquanto o preço atual dele tende a diminuir. Se a expectativa for de baixa nos juros, a rentabilidade diminui e o preço sobe.
É por isso que, quando você entra no aplicativo da sua corretora, você vê um valor diferente nos seus títulos. Em muitos casos, esses valores são negativos e muita gente acha que “perdeu dinheiro” no Tesouro Direto. Contudo, esses valores representam apenas quanto você ganharia ou perderia se vendesse seus títulos naquele dia, antes da data de vencimento do título.
Neste caso, há sim a possibilidade de perder dinheiro caso venda seus títulos antes do vencimento e o preço no dia esteja menor do que quando você comprou. Se mantiver o ativo até o vencimento, contudo, você recebe o que foi combinado no momento da aplicação.
Os tipos de Prefixado no Tesouro Direto
No Tesouro Direto, existem prefixados de curto e médio prazos, que pagam os juros combinados na data de vencimento. Existe também a opção de prefixado com juros semestrais de longo prazo, que pagam os juros semestralmente.
Eduardo Perez, do Nubank, explica que o prefixado com juros semestrais é um título mais atraente para gestores de fundos e investidores estrangeiros, que estão mais acostumados com o mercado dos Estados Unidos, onde é comum o pagamento de juros semestrais. Para o pequeno investidor brasileiro, porém, esse título pode não ser o ideal.
“De um lado, os pagamentos periódicos diminuem o risco do título, porque você já recebe aqueles juros antes que o cenário mude. Por outro lado, para quem investe pouco o retorno é muito baixo, porque tem o desconto do Imposto de Renda e não tem aquele efeito acumulativo dos juros compostos”, explica o analista.
Além disso, quando você trava uma rentabilidade no longo prazo o risco é maior porque é difícil saber como estará a economia daqui a 10 anos, por exemplo
Já os títulos de curto e médio prazos são mais “fáceis” de lidar porque existem projeções de inflação e juros até 2024, por exemplo, que podem ser acompanhadas pelo Boletim Focus, além das metas de inflação do Banco Central até 2024, que também são conhecidas.
Tudo isso ajuda o investidor a entender para onde vão os juros e saber se a rentabilidade que ele está aplicando hoje pode ser ou não vantajosa para ele.
Qual é a melhor estratégia para investir no Prefixado?
Em investimentos, a palavra “melhor” é muito subjetiva. O que é melhor para um investidor mais arrojado, com planos para o médio prazo, é diferente do que é melhor para um investidor conservador, que tem planos de longo prazo. Por isso, o primeiro passo é entender o seu perfil de investidor antes de aplicar em qualquer ativo. Entenda os motivos do investimento e coloque isso no seu planejamento financeiro.
Aqui, você aprende a fazer um bom planejamento financeiro. Já este texto vai te ajudar a desenhar metas realistas.
No caso do Tesouro Prefixado, mesmo quem acompanha o contexto da economia pode errar as projeções. É que existem muitos fatores que podem fazer a inflação e os juros subirem ou caírem.
“Mas de um modo geral, o ideal é comprar pós-fixados quando a taxa de juros está baixa e prefixados quando ela está alta. O problema é que você nunca sabe quando serão os picos: até quanto pode subir e até quanto pode cair. Por isso, faz sentido tentar fazer uma rentabilidade média se isso for adequado à estratégia do investidor”, afirma Perez.
Ou seja, para aproveitar o ciclo de alta da taxa Selic, você pode comprar um pouco de prefixado de tempos em tempos. A frequência pode ser mensal, a cada dois ou três meses. Mas quem define tudo isso é você, de acordo com o seu perfil, seu dinheiro disponível para investir e suas metas.
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