Quando o assunto é dinheiro, algumas coisas parecem mesmo sair de um filme de terror: pagar taxas de transferência, esperar o próximo dia útil para receber aquele dinheiro que você precisava para ontem, sair procurando algum caixa eletrônico no meio da noite.
Nem faz tanto tempo assim que tudo isso ficou no passado. Afinal, o Pix, que mudou essa realidade, só existe há dois anos. O sistema de pagamentos instantâneos começou a ser criado em 2014, e em 2018 já existiam as diretrizes necessárias para tirá-lo do papel.
Hoje, ele é o meio de pagamento mais popular do país, segundo dados mais recentes do Banco Central. O número de transações com Pix superou aquelas feitas com cartões de crédito no segundo trimestre de 2022. Até agosto, os brasileiros tinham criado quase 500 milhões de chaves para receber pagamentos instantâneos e se livrar do pesadelo que era a vida antes do Pix. Relembre, abaixo, alguns desses pesadelos.
1. Fazer uma TED!
Toda essa história de terror tem a mesma origem: a TED, que era basicamente a única opção dos brasileiros para fazer transferências até o nascimento do Pix. Com ela, o dinheiro não caía no mesmo segundo na conta e, dependendo do horário da operação, sequer caia no mesmo dia.
Para quem não lembra mais, TED é a sigla para Transferência Eletrônica Disponível e, com ela, a transferência é efetivada no mesmo dia, se a transação for feita até as 17h, no horário de Brasília. Transferiu às 17h01? O dinheiro só cai na conta no próximo dia útil.
Até hoje a TED tem limitações de horário e valores. E só isso gerava uma dor de cabeça em diversas situações, como lembra a psicanalista Paula Moreira, de 33 anos.
“Eu já passei alguns perrengues na época em que não existia Pix como, por exemplo, um paciente me pagar na sexta-feira por transferência bancária, a transferência não ser efetuada e no final de semana precisar do dinheiro para pagar alguma conta ou resolver algum problema. Já me aconteceu em viagens de precisar do dinheiro e ele ainda não estar na minha conta, porque a transferência só cairia na segunda-feira. Agora, com o Pix, ficou muito mais prático, sem esse delay de final de semana, dos feriados, que fazia com que a gente tivesse de ter uma programação mensal muito maior, porque tinha que calcular que no final de semana você não conseguiria enviar dinheiro ou fazer pagamentos”, lembra.
2. Refazer a transferência por errar dados
Quer uma situação desesperadora? Basta errar uma letra do nome da pessoa, um número do CPF ou do banco para o valor voltar e você precisar refazer a TED.
Num mundo pré-Pix, eram necessárias todas essas informações para fazer uma única transferência. Nada prático, como lembra a analista de recrutamento e seleção Caroline Carvalho, de 32 anos.
“Antes do Pix existir, a gente sempre procurava fazer transações para o mesmo banco, para evitar alguma cobrança de taxa e para cair mais rápido para outra pessoa. Lembro de um perrengue que minha mãe passou. Ela é o financeiro de uma empresa e precisou fazer transferência para funcionários no mesmo dia, mas um deles esqueceu de atualizar os custos que teve no mês, e por isso ela precisou ir duas vezes ao banco para fazer um depósito no caixa para cair no mesmo dia”, conta.
Com o sistema de pagamentos instantâneos, só é preciso uma chave Pix para fazer uma transferência – que pode ser o CPF ou o CNPJ, o telefone celular, o e-mail ou uma chave aleatória. Além disso, o Pix é gratuito, então se a transferência der errado, você só corrige e tenta de novo.
3. Pagar taxas de transferência
Se esse filme ainda não está assustador o suficiente para você, agora pode ficar. Imagine pagar R$ 8, R$ 10 ou até mesmo R$ 15 por cada transferência? Para quem ganha pouco, esse dinheiro fazia muita diferença e até afastava as pessoas do sistema bancário.
Desde a década de 1990, o Banco Central tem como pilar promover a inclusão financeira. Ou seja, ajudar a ampliar o acesso a contas e serviços financeiros. E, para isso, ele tem feito diversas ações. Uma delas foi a criação da conta corrente essencial, em 2010 – um tipo de conta gratuita com serviços bancários básicos.
A iniciativa deu certo. Em 2005, 83 milhões de brasileiros com idade acima de 15 anos tinham algum relacionamento ativo com uma instituição financeira, segundo dados do Banco Central. Esse número chegou a 121 milhões em 2010. Mas ainda há um caminho longo pela frente. Dados do Instituto Locomotiva mostram que, hoje, ainda existem 34 milhões de brasileiros sem acesso aos serviços bancários.
O Pix também entrou no jogo para ajudar a diminuir ainda mais esse número. O Banco Central começou a trabalhar nele depois que uma lei, de 2013, mudou algumas regras do sistema de pagamentos. A partir delas foi possível pensar numa ferramenta que facilitasse as transferências, reduzisse os custos para a população e, por consequência, ampliasse o número de pessoas com contas bancárias.
Em 2018, o Banco Central publicou os requisitos para o sistema de pagamentos instantâneo no país. Foram essas regras que permitiram o lançamento do Pix, em 2020.
4. Procurar caixa eletrônico
Quem nunca teve que andar em busca de algum caixa eletrônico para sacar dinheiro e pagar por um serviço de emergência que só aceitava pagamento com papel moeda?
Essa realidade mudou com o Pix Saque e o Pix Troco, evoluções do Pix tradicional, também criadas pelo Banco Central. Elas permitem que as pessoas usem o Pix para sacar dinheiro em espécie em casas lotéricas, em estabelecimentos comerciais, como padarias, lojas de departamento e supermercados, e também em caixas eletrônicos cadastrados para isso.
Com o Pix Saque, o cliente lê um QR code, faz um Pix para o estabelecimento e recebe este mesmo valor em dinheiro físico. Por exemplo: você faz um Pix de R$ 200 e recebe R$ 200 em notas.
Já com o Pix Troco, o dinheiro físico recebido é a diferença entre o valor da compra e o valor pago ao estabelecimento com o Pix. Por exemplo: você compra um produto de R$ 100, faz um Pix de R$ 150 usando o QR code e recebe R$ 50 de volta, em espécie.
Na prática, ambos funcionam como um pagamento normal do Pix com QR code: a pessoa faz a leitura do código, autoriza o pagamento e recebe o dinheiro em espécie.
5. Perder vendas
“Vendas perdidas”, “Estoque cheio”, ou “Eu sei o que você não vendeu no verão passado” são os filmes mais aterrorizantes para qualquer pessoa que tem um negócio.
Quando você deixa de comprar um produto ou serviço que não era essencial porque não tinha dinheiro na hora ou estava sem o cartão, o máximo que pode acontecer é você se sentir frustrado.
Mas para quem tem um negócio, essa situação é mais do que uma frustração – é um verdadeiro pesadelo. Afinal, perder uma venda pode ser a diferença entre o lucro e o prejuízo, manter ou não o empreendimento aberto e garantir as contas pagas.
Meire Gonzalez de Almeida, de 57 anos, tem uma empresa de bolos e doces há 23 anos, e lembra que, na vida antes do Pix, o pesadelo era no fechamento do pedido.
“Tinha o tempo de você fazer a TED, o deslocamento até o banco, além das taxas que eram cobradas e o tempo do dinheiro entrar na sua conta. Como empreendedora, eu acho que antes do Pix era bem complicado porque preciso que a pessoa me deposite 50% para dar início ao pedido. Com o Pix, as pessoas já negociam, já transferem e flui melhor”, conta Meire.
Ou seja, os empreendedores ganharam mais uma opção para receber de seus clientes em tempo real, em qualquer dia e horário – sem depender de dinheiro em espécie nem de maquininha ou boleto.
6. Esperar o boleto compensar
O boleto bancário ainda é um meio de pagamento popular, mas ele exige paciência tanto do lado de quem paga como para quem recebe, porque demora até um dia útil para ser compensado. Isso significa que o dia em que você realizou o pagamento não conta, apenas o dia seguinte é considerado dia útil (com exceção de final de semana ou feriado). Assim, se você pagou um boleto na segunda-feira, o limite de compensação dele é até o fim da terça. Se pagar na sexta-feira à tarde, ele deve ser compensado até o fim de segunda-feira. Vale lembrar que, por razões de segurança, a compensação pode levar mais tempo para ser concluída se forem identificados comportamentos suspeitos.
Assim, empresas têm que esperar mais para receber pagamentos e os clientes precisam de mais tempo para as compras serem efetivadas. Por causa disso, para a psicanalista Paula Moreira, comprar pela internet era um transtorno.
“Quando a gente precisava comprar alguma coisa pela internet sem cartão, tinha de pagar por transferência bancária ou de alguma outra forma que demorava muito mais para a compensação do pagamento. E com o Pix eu consigo pagar em qualquer site e qualquer coisa por QR Code”, diz.
Embora o boleto ainda seja um dos meios de pagamento mais utilizados do país, segundo o Banco Central, ele tem perdido espaço para o Pix. Hoje, até as contas essenciais têm opção de pagar com Pix.
Pix: o que vem por aí?
O Pix está longe de ser um produto acabado. Na agenda do Banco Central há uma série de evoluções do sistema de pagamentos, como o Pix Internacional, novas formas de iniciar um pagamento com Pix (por reconhecimento facial, por exemplo), e o Pix Garantido, que é a opção oficial de parcelar com Pix e que hoje já é oferecida por muitas instituições financeiras.
Ou seja, a lista de situações financeiras terríveis que podem ficar no passado por causa do Pix ainda vai aumentar.
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